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Aftosa no Paraguai e impactos para o Brasil: uma análise preliminar

Aftosa no Paraguai foi a notícia do dia 19/setembro, uma segunda-feira. Os impactos foram imediatos: Brasil, Argentina e Paraguai fecham fronteira. Países importadores param suas compras. A pecuária, que seguia muito bem por lá, sofre um duro golpe. O fantasma da aftosa volta a rondar a América do Sul. Quais são os impactos para a pecuária brasileira? O que podemos aprender e o que precisamos fazer? Esse artigo é uma análise preliminar da situação, escrito em 27/setembro.

Aftosa no Paraguai foi a notícia do dia 19/setembro, uma segunda-feira. Os impactos foram imediatos: Brasil, Argentina e Paraguai fecham fronteira. Países importadores param suas compras. A pecuária, que seguia muito bem por lá, sofre um duro golpe. O fantasma da aftosa volta a rondar a América do Sul. Quais são os impactos para a pecuária brasileira? O que podemos aprender e o que precisamos fazer? Esse artigo é uma análise preliminar da situação, escrito em 27/setembro.

A princípio, muitos podem dizer que há um lado bom para o Brasil. Teremos menos um concorrente no mercado internacional, que vende para praticamente os mesmos mercados e exporta cerca de 300 mil toneladas por ano, um volume considerável. Sim, é verdade que será mais fácil exportar, até porque o câmbio voltou a ajudar nesse mês de setembro. Tivemos uma mudança de preços, em dólar, de quase 30% em um mês, graças a desvalorização do Real frente ao dólar.

Mas o efeito é muito mais negativo do que positivo. Primeiro porque volta a associar aftosa com a América do Sul. E ao pensar em América do Sul, o primeiro país que se lembra é o Brasil. Aftosa em qualquer lugar por aqui é ruim, apenas para a imagem da região. E o problema é muito maior. O risco é grande e está preocupando todos os vizinhos. Temos de ter cuidado e fiscalização redobrado na fronteira. Apenas um caso, apenas poucos animais, faz um enorme estrago no mercado.

Lições aprendidas

Nos últimos meses, mais e mais gente vinha falando de tornar alguns estados livres de aftosa sem vacinação (RS por exemplo). Ainda está muito cedo para ser livre de aftosa sem vacinação. O risco é pequeno, mas o estrago seria enorme. Na minha opinião, acredito que não vale a pena, pelo menos ainda. Santa Catarina é uma exceção, pela qualidade do serviço sanitário e principalmente pelo pequeno rebanho bovino.

O preço do boi gordo paraguaio estava mais alto que no Brasil. Não só no MS, mas em SP também. Com a aftosa, o mercado paraguaio travou. Quase não há negócios. E o preço despencou e já está muito abaixo do brasileiro. Isso mostra duas coisas. Primeiro: o estrago da aftosa na rentabilidade do pecuarista é imediato, e duradouro. Segundo: temos que aumentar a vigilância na fronteira, pois diferencial alto de preço é estímulo econômico para que gado venha de lá para cá.

Fica claro que o maior prejudicado é o produtor. A grande maioria de produtores, diria que quase sua totalidade tem apenas uma fazenda, ou algumas fazendas na mesma região ou estado. Logo, um caso de aftosa afeta 100% do mercado que um produtor atua.

Os frigoríficos têm hedge sanitário, pois têm plantas em diversos estados e países. O JBS e o Minerva, que têm plantas no Paraguai, também perdem com a aftosa, mas o abate deles é pequeno lá. Cerca de 5% do volume total abatido do Minerva e apenas 1% do total do JBS.

Para a economia do Paraguai impacto vai ser grande. Com a grande queda de preço do gado (gordo e para reposição), efeitos em cascata aparecem. Com a menor renda do produtor, a tendência é que o abate de fêmeas aumente, mudando o ciclo do boi, diminuindo a oferta de gado para abate no médio-longo prazo. O desemprego e renda rural devem piorar, enfraquecendo a economia do país. A única vantagem é carne muito mais barata para o consumidor do mercado interno. Mas isso é um item com pouca importância quando se avalia o quadro para a economia do país como um todo (que é muito mais dependente da pecuária que o Brasil). Os prejuízos são muito maiores do que esse pequeno refresco no preço da carne para a dona de casa.

Nosso desejo é que essa fatalidade sirva de alerta para o Brasil. Um alerta barato, pois quem paga o preço desse prejuízo é o Paraguai e não o Brasil. Fica claro que é fundamental continuar o trabalho de prevenção da aftosa, com vacinação e controle da fronteira.

Nesse sentido, há o que se preocupar. O jornal Estado de SP detectou in loco que o controle da fronteira é falho. Na reportagem do dia 25/09, domingo, mostraram que há trânsito livre de animais na fronteira seca com o MS. Um aviso, não muito agradável, mas importante, de que temos trabalho a ser feito. Ações concretas e efetivas é que vão nos dar segurança.

Para ser primeiro do mundo, precisamos agir como primeiro do mundo. A posição do Brasil no mercado mundial é de grande destaque. Estamos cada dia se tornando o principal fornecedor de carne para o mundo. Os EUA ainda são o maior produtor, e devido ao câmbio, estão exportando mais esse ano, mas devem recuar com abate de matrizes e alto custo de produção.

Temos todo o potencial de colher essa grande oportunidade que o mundo nos oferece – mais e mais gente querendo e tendo renda para comer carne e nossos concorrentes com dificuldades de produção. Cuidar para que a aftosa não volte a rondar nossa pecuária é o primeiro passo para ser líder na cadeia global da carne bovina.

20 Comments

  1. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    100% de acordo com a análise. Só faltou um ponto. A criação de uma programa sério e multinacional de erradicação da aftosa na América do Sul.

  2. Célio Timo Machado disse:

    E o governo de Goiás, que faz fronteira com o MS passa a vacinação de novembro pra apenas os animais de 0 a 24 meses.  E como diz o Miguel, o risco pode ser pequeno mas os prejuízos são enormes.

    Será que vale a pena aumentar o risco?

  3. VILSON ANTONIO SIMON disse:

    Caro Miguel,

    Muito lúcido o seu texto e comentários. O Programa Nacional de Erradicação e Controle da Febre Aftosa – PNEFA – é um PROGRAMA DE SEGURANÇA NACIONAL E ALIMENTAR e precisamos agir como Cadeia Produtiva para evitar os impactos econômicos decorrentes de um quadro de aftosa no Brasil. Os esforços são enormes de todos os envolvidos. Acho que a situação do Paraguai vem reforçar que LIVRE COM VACINAÇÃO PARA O BRASIL ainda é a melhor ferramenta de proteção enquanto não estivermos executando, na verdadeira acepção da palavra, um PROGRAMA CONTINENTAL, como muito bem comentado pelo Jose R S Rezende no primeiro comentário deste seu artigo.

    Parabéns pelo trabalho de comunicação e apoio a Cadeia Produtiva da Carne através do Beefpoint.

    Fraternal Abraço,

    Vilson A Simon

  4. Marco aurelio Candia Braga disse:

    Sendo morador do MS e atuando ña atividade, sempre tivemos  medo da aftosa e fogo.
    Ña ultima semana tivemos  de ajudar a um vizinho com fogo ña sua propriedade e falei: esposa é muito MAIS barato apagar fogo no vizinho, pois o pasto queimado é dele, só tivemos prejuizo de óleo Diesel e diarias.
    No caso do pais hermano, debemos ir  em peso (todo o pais) Pois o virus nao para nas divisas de estado e ajudá lo o MAIS breve no abate sanitario e outras atitudes sanitárias, pois com certeza o prejuizo será do vizinho e não nosso.

  5. alcimar de oliveira disse:

    Estou de acordo com ambos, o mais preocupante é a falta de fiscalização em nossa extensa FRONTEIRA SECA. Na atual conjuntura leva qualquer um a ter uma atitude diferente para se ver livre do PREJUIZO. Penso eu que todos nós devemos ser fiscais nessa hora, para que o problema não seja tocado  para o nosso lado. Agora pensando em longo prazo temos que ajuda-los a combater e tirar proveito como lição de casa, pensa ano tamanho do prejuizo levando em consideração o tamanho de nosso REBANHO.

  6. Ricardo Nascimento Taveiros disse:

    Agora é de se pensar a união dos paises de importância na cadeia produtiva da carne do Mercosul para um combate definitivo da febre aftosa

  7. FERNANDO BARBOZA disse:

    E quem fiscaliza os porcos,catetos veados queixadas e outros tantos animais na fronteira? O que de melhor temos ainda é VACINAÇÃO.

  8. Glenio Antonio Nogara Mario disse:

    Vivi de perto os prejuízos que a aftosa causa aos rebanhos em perdas físicas e ao mercando, principalmente  às exportações.

    Miguel, e outros comentáros do Rezende, Simon, Braga, Trigo, Ricardo, e outros, é unanimidade  em termos  tecnicos, operacionais, que não há segurança nenhuma em protegermos o rebanho  do Brasil, SEM VACINAÇÃO, sem que haja um plano  sul americano de controle efetivo da virose de medio e longo prazo.

    Não acredito em erradicação da febre aftosa  nos países ao noroeste sul amaericano, considerando a fauna existente de livre transito entre as fronteiras (catetos, veados "bipedes", porco selvagem, capivaras, estas como reservatorios.

    Há que se colocar técnicos e não politicos no comando  da agropecuaria nacional.

    Glenio Antonio Nogara Mario

    Produção Gado de Corte.

  9. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Sempre emiti opinião semelhante à do Fernando e do Glênio, com uma exceção: os técnicos pelos quais clama o Glênio são precisamente os que estavam propondo a extinção da vacinação. Quem tem que ser mais ouvido nesta questão seria um fórum dos pecuaristas no BeefPoint. O Congresso Nacional, aqui também discordo do Glênio, tem excelentes representantes para repercutir e defender nossos anseios.

  10. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Alguém que conheça a região por favor responda: o Paraguai vacinava contra a aftosa?

  11. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Previsão furada, de janeiro de 2010, dava como certa a eliminação da aftosa nos países da tríplice fronteira até o fim de 2010:

    http://www.cnpc.org.br/arquivos/venezuelaevila.pdf

    Todo cuidado é pouco.

  12. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Será que o Paraná vai continuar valente como nesta época? Há 18 meses os técnicos de lá roncavam grosso

    https://beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/silvio-cardoso-pinto-e-perigoso-suspender-a-vacinacao-60948n.aspx#comentario50051

  13. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Ótimo para os suínos. Os pecuaristas de gado bovino que se danem

    https://beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/pedro-camargo-quer-suspender-vacinacao-de-aftosa-no-rs-74354n.aspx

  14. Ricardo Nascimento Taveiros disse:

    Concordo com Humberto ,será que o Paraguai vavinava seu rebanho e tinha uma campanha contra a Febre Aftosa??
    Volto a bater na mesma tecla:Os produtores dos  paises com maior participação na cadeia produtiva da carne devem se unir e cobrar das autoridades governamentais uma solução definitiva para o problema

  15. FÁBIO BITTI LOUREIRO disse:

    Como Médico Veterinário, fico observando a insegurança alimentar que o país sofre por dois motivos básicos: o primeiro é não participar os profissionais Buiatras privados nas estratégias de controle da aftosa, citando como um exemplo claro o monopólio dos Institutos de pecuária estaduais na emissão de GTA bovino, tirando dos profissionais uma importante fonte de renda e considerando de antemão que o profissional autônomo teria a capacidade de sabotar todo o sistema de controle de aftosa e seu futuro profissional pessoal e da categoria, pois a partir de casos constatados como positivos em nosso território, não teríamos um mercado que demandasse profissionais por simples falta de compradores exigentes, margem de lucro do produtor e falta de credibilidade da categoria como agente ativo nas campanhas sanitárias nacionais.

    Para o Programa de erradicação de Brucelose e Tuberculose, onde o produtor não é obrigado a realizar os exames e o investimento de treinamento e credenciamento junto ao MAPA, construção de estrutura de laboratório de exames e aquisição de equipamentos e reagentes necessários, corre 100% por conta do profissional sem qualquer perspectiva de que nossos parceiros produtores resolvam fazer um investimento que o isola do mercado, pois se acontece de ter animais positivos tem de sacrifica-los, muitas vezes sem compensação nenhuma.

    Se seu rebanho é todo negativo, e consegue a certificação que tem que manter com um investimento constante para mantê-lo.

    No entanto, temos constantemente animais sendo abatidos em nossos frigoríficos, sem qualquer diagnóstico em relação a brucelose, considerando que a fiscalização das carcaças detecta os casos de tuberculose. Pergunto: Pelo menos o exame de brucelose, que pode ser feito entre o tempo de chegada do animal ao estabelecimento e o seu abate, é menos importante do que a aftosa para a sanidade da qualidade da carne brasileira?

    Ou não é bem esta a questão?

    Acredito que a classe Médico Veterinária Brasileira através de seu CFMV , seus CRMVS e Associações de profissionais tem que adotar uma postura pró-ativa em defesa da sanidade do rebanho brasileiro e que a aftosa é apenas uma ponta deste iceberg.

    Enquanto, o MAPA e toda a rede oficial do governo, bem como a cadeia produtiva não adotarem uma postura de soma de todas as forças operantes no jogo da pecuária mundial, sempre seremos afetados por estes casos fortuitos que possam acontecer, mesmo quando além de nossas fronteíras de dimensões oceânicas.

    Proponho que sejamos condecendentes com nossos Hermanos e demos o máximo de suporte para que eles possam superar este momento e causar o mínimo de dano colateral no nosso mercado. Contudo, acredito que é chegada a hora de começarmos a nos afirmar no mercado de forma que as exigências dos compradores e as normas a serem seguidas sejam claras, pois não precisamos ter medo de responder a um mercado exigente. O que é esquisito é as regras cheguem ao ponto de simplesmente parecerem barreiras não tarifárias.

  16. José Roberto Puoli disse:

    Bom dia Miguel,

    Desculpa a demora na resposta, é que estou por aquí no Chaco.

    Respondendo a pregunta do Humberto:

    Não conheço profundamente, mas ai vai.

    Positivo, sim o Paraguai sempre teve programa de vacinação contra aftosa.

    Depois de 2002 e 2003, quando eles tiveram o último problema, decidiram  fiscalizar oficialmente a vacinação, então, desde esta época, toda fazenda quando vai começar a campanha tem que requisitar um inspetor  no Senacsa (equivalente do Iagro brasileiro). Esta pessoa  vem e acompanha toda a vacinação. Aí se faz uma ata e isso tudo fica arquivado no Senacsa.

    Depois do problema no Brasil em 2005, O paraguai e o Brasil criaram (juntos) a ZAV (zona de alta vigilancia). Esta é uma faixa (se não me engano) de 25 km, dos dois lados dos dois países. Esta ZAV, nos dois países tem (tinha) uma séria de regras. P.e. Os veterinários (Br e Py) podiam circular pelos dois lados sem problemas.

    Concluindo:

    O país e os produtores paraguaios têm plena  consciencia da importancia do combate à afotsa. E, eles têm trabalhado bastante para combater a enfermidade, mas infelizmente…………..

    É uma perda enorme. Todos estão sofrendo muito e o país sofrerá mais ainda. É uma perda de faturamento para o produtor e consequentemente, para o país, astronómica. Da dó. O setor estaba investindo muito. Víamos claramente a renda sendo distribuida, muita, mas muita mesmo, gente trabalhando, para todo lado. Agora, tá parando tudo.

    Com relação ao Brasil, e consequências para o país, o problema será quem (na velha lei de Gerson) trouxer gado de la para cá. Como contaminação direta , nao vejo perigo. O foco foi totalmente localizado, e em San Pedro, mais de 100 km da frontera. E todos os animais que estavam próximo já foram abatidos.

    Se necesitar de algo mais profundo técnicamente falando (o que fiz ai acima foi somente um pincelada , sem informações mais profundas), podemos tentar conseguir.

    Abração

    Limão

  17. celso de almeida gaudencio disse:

    A vacina aftosa confere resistência aos animais, embora não erradicar a doença, serve primordialmente para evitar novos focos. Contudo a vacina, não sei, deve estar sendo aprimorado continuadamente…pois, já falam em zona livre da aftosa sem vacinação. Como ficam os suínos e ovinos nesse processo, vão continuar como sentinelas. "É"

  18. Ernesto Scappini disse:

    estimado Miguel,

    sigo siempre sus articulos, son efectivamente de una apreciacion tecnico y economica muy interesantes.

    Desde Paraguay esperamos poder volver a tener algunos mercados (rusia principalmente) para reactivar la economia. Esperemos se de en la brevedad y por supuesto reforzar la campaña de vacunacion, estamos convencidos de que este duro golpe, va ser revertido.

    Cordial  Saludo

  19. Jose Nilo Aquino disse:

    Nos casos de uma epidemia de gripe os governos e OMS imediatamente identificam o vírus e a sua origem . No caso da aftosa o procedimento deveria ser o mesmo, a identificação do RNA do vírus e sua origem. O que não ocorreu até agora, e nos causa preocupação e surpresa.
    Lembro ao Sr. José Ricardo Skowronek Rezende  que há muitos interesses econômicos ( alguém iria perder muito dinheiro com isso ) para uma erradicação total da aftosa na América do Sul, e o primordial nisso é a seriedade com que é feito o processo em todos os países nos mais diversos níveis administrativos governamentais.
    Quanto ao fato de animais silvestres serem portadores, isso pode ocorrer, mas quando há uma efetiva vacinação o surto ( infecção ) não ocorre. Embora os cervídeos sejam os mais lonjevos.  Mas sou obrigado a concordar com o Sr. Glenio Antonio Nogara Mario quando ele diz que a origem do foco poderia ter sido algum veado "bipede" que  poderia  ter carregado o vírus em uma caixinha de isopor diretamente da fonte ( ??? ) para aquela região . Daí para teorias conspiratórias ( sabotagem, bioterrorismo…etc )  falta bem pouco….