Secretários da Agricultura de importantes estados produtores de carne bovina se reuniram em 13/02 em Belo Horizonte, MG, buscando soluções para o recorrente problema da febre aftosa no Brasil. Hoje, apenas Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia e Acre são considerados áreas livres de febre aftosa com vacinação.
Secretários da Agricultura de importantes estados produtores de carne bovina se reuniram em 13/02 em Belo Horizonte, MG, buscando soluções para o recorrente problema da febre aftosa no Brasil. Hoje, segundo a OIE, apenas Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia e Acre são considerados áreas livres de febre aftosa com vacinação.
O ponto principal do encontro: conseguir investimentos efetivos do governo federal. Além disso, os estados estão reivindicando a mobilização da polícia federal e do exército para, juntamente com os fiscais sanitários, exercerem a vigilância sanitária nas fronteiras e ações da diplomacia brasileira junto ao governo do Paraguai.
Outro elemento importante relacionado a acesso a mercados internacionais é a rastreabilidade, que após longas negociações entre toda cadeia da carne, chegou-se a um consenso negociado, criando-se o novo Sisbov, que deveria ter entrado em operação no final do ano passado. O Mapa não conseguiu realizar as mudanças necessárias no banco de dados para atender às novas normas até o final de janeiro, conforme relatado pelo presidente da Acerta em artigo no BeefPoint. Ou seja, por cerca de 60 dias, não se pode inserir novos animais no sistema de rastreabilidade, desenhado para facilitar o acesso da carne brasileira aos mercados mais exigentes, por problemas internos do Mapa.
Com o empenho dos principais estados produtores em cobrar do governo federal uma postura mais pró-ativa em relação aos investimentos necessários para controle e erradicação da febre aftosa no Brasil, é possível acreditar em um quadro diferente do vivenciado nos últimos anos: aumento dos investimentos privados em sanidade, aumento das exportações e diminuição dos investimentos do governo federal.
A volta da aftosa ao continente sul-americano, com os recentes focos na Bolívia, apesar de distante do Brasil, ocorreu dentro do departamento que faz fronteira com o Brasil, o que pode (e deve) servir de alerta de que a aftosa continua próxima do país, precisando ser controlada.
A possibilidade de aftosa aumenta o risco do negócio carne bovina como um todo. Uma atividade com mesma rentabilidade e maior risco, se torna menos interessante. Além disso, os pecuaristas brasileiros bem sabem que apenas a suspeita de novo foco no país, ou uma notícia de animais reagentes em áreas de monitoramento, influencia no mercado do boi, em especial o mercado futuro. Como já analisado em artigos anteriores, o preço do boi é o mais influenciado pela volta da aftosa (ou expectativa). A carne bovina no atacado e no varejo sofre menores reduções. Os custos do pecuarista se mantêm estáveis. Ou seja, com a aftosa, o grande perdedor é o produtor, apesar de não ser ele o único.
O Rio Grande do Sul tem atualmente os melhores preços de bovinos para abate no Brasil, graças a alguns fatores como diminuição do rebanho, barreiras contra carne com osso de outros estados e, principalmente, ao status livre de aftosa com vacinação, reconhecido pela OIE e endossado pelos principais importadores de carne bovina brasileira: UE, Rússia e Chile. O RS é um dos pouquíssimos estados brasileiros que vende para esses três importantes mercados.
Outro prejuízo silencioso da incapacidade do Brasil de erradicar a aftosa é o retardamento da abertura de outros países à carne nacional. Os EUA analisam há anos um pedido brasileiro de autorização a exportação de carne bovina in natura. Toda vez que o Brasil tem um novo foco, essa autorização é adiada por tempo indeterminado. Todos os esforços nesse sentido são anulados e voltamos à estaca zero. O Uruguai, que é livre de aftosa com vacinação, exporta para os EUA desde abril de 2003, tendo com isso, os melhores preços de gado gordo do Mercosul.
O empenho de lideranças, que antes atuavam no setor privado e hoje ocupam a secretaria da agricultura, como João Sampaio, de SP, Gilman Vianna, de MG, pode dar novas esperanças para efetivas ações visando o controle do principal desafio da cadeia da carne brasileira atualmente.
Para finalizar, vale reforçar pontos importantes, constantemente repetidos por especialistas em controle da aftosa:
– A melhor maneira de se erradicar a aftosa continua sendo a vacinação em massa, com atenção especial à qualidade da vacina, sua conservação e aplicação corretas;
– O trabalho de erradicação da aftosa não pode ser realizado de forma isolada por cada país, precisa ser um esforço regional;
– É importante ter um bom cadastro de propriedades e rebanhos, além de controlar a movimentação de animais, principalmente nas áreas críticas;
– É preciso criar mecanismos de vacinação assistida em rebanhos localizados em assentamentos e territórios indígenas;
– por último, também é preciso criar mecanismos de punição para os produtores que não vacinam seus rebanhos.
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“Hoje, apenas Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia e Acre são considerados áreas livres de febre aftosa com vacinação.”
Isso de acordo com a OIE? a informação que lembro é outra:
Maio de 1998
Santa Catarina: último foco registrado em dezembro de 1993. Foram realizados três inquéritos soroepidemiológicos para avaliação de atividade viral (1997, 2002 e 2003) Rio Grande do Sul: após dezembro de 1993, ocorreram duas reintroduções a partir dos países limítrofes, em 2000 e 2001. Participou dos mesmos inquéritos soroepidemiológicos realizados em Santa Catarina, sendo realizados outros dois nos anos de 2000 e 2001, especificamente para avaliar o resultado das ações de emergência sanitária animal.
Maio de 2000
Ampliação incluiu o Distrito Federal mais o Estado do Paraná e parte dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. A última ocorrência de febre aftosa variou segundo o estado envolvido: DF (maio/93), PR (maio/95), GO (agosto/95), MT (janeiro/96), SP (março/96) e MG (maio/96).
Foram realizados na região quatro inquéritos soroepidemiológicos (1999, 2001, 2002 e 2003).
Maio de 2001
Ampliação incluiu os Estados da Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Sergipe e parte dos Estados de Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Tocantins. A exemplo do item anterior, a última ocorrência de febre aftosa variou segundo o estado envolvido. Para aqueles não referidos na ampliação de 2000: SE (setembro/95), ES (abril/96), RJ (março/97), BA (maio/97), TO (maio/97) e MS (janeiro/99). Foram realizados na região quatro inquéritos soroepidemiológicos (2000, 2001, 2002 e 2003).
Maio de 2003
Ampliação envolveu apenas o Estado de Rondônia, onde o último foco foi registrado em fevereiro de 1999. No Estado foram realizados inquéritos nos anos de 2002 e 2003.
Resposta do autor
Leandro, obrigado pelo comentário.
A informação é da OIE, que pode ser verificada em:
http://www.oie.int/eng/info/en_fmd.htm?e1d6
Um abraço, Miguel
A nós, produtores, pouco importa se regiões X e Y, são consideradas áreas livres de febre aftosa com vacinação. O que desejamos, na realidade, é assistir os resultados do trabalho do Governo Federal, em conjunto com os estaduais, para a erradicação da febre aftosa em todo território brasileiro.
O comentário do Leandro dos Santos é importante, e, deve ser avaliado para que tenhamos uma posição única sobre essa matéria tão aflitiva para a pecuária nacional.
Minha região, nordestina, no setor de ovinos e caprinos, tem sofrido prejuízos homéricos, por não poder comercializar com outros centros animais da elevada genética existente pelos lados de cá!
O Ceará, através do seu jovem e capaz Secretário de Agricultura, Dr. Camilo Santana, em reunião, ontem realizada, com presidentes de associações, falou que o governo estadual estará focado para esse assunto e que pretende, em pouco tempo, banir, através de vacinação, essas horrendas (mas necessárias), barreiras da febre aftosa.
Não basta, porém, apenas isso, todos os estados da região deverão se unir e trabalharem com essa finalidade.
Avante, Nordeste!!!
Miguel,
Com nossa extensão territorial brasileira é bastante dificultoso um programa sanitário eficiente e eficaz. Acredito que se nossos governantes possuissem uma visão mais técnica encarariam esse assunto como uma guerra, portanto se houvesse esta visão a utilização das forças armadas é de grande importância.
Porém a utilização militar deve ser técnica, que poderia ser assessorada pelo SIF que também precisa de renovações, capacitações e verba.
Mas é mais bonito investir milhões de reais em aviões de guerra do que na segurança alimentar da população e do mercado exportador!
Prezado Miguel,
Acredito que a “tecla” que mencionei na minha entrevista ao BeefPoint poderia ser repetida novamente neste comentário para que os leitores menos atentos pudessem ter acesso a informação que enfatiza de certa forma parte do teu editorial. Contudo, tendo em vista o espaço reduzido, acredito ser pertinente dedicá-lo ao comentário do Diretor Executivo da Associação dos Exportadores de Carnes Argentinas:
“La nota del Dr. J. Oshiai aborda varias cuestiones de interés para el éxito futuro de las exportaciones de carnes bovinas del MERCOSUR. El propósito de la presente es destacar sólo dos que considero necesarias y determinantes para construir un modelo internacional competitivo:
a) desarrollar a nivel MERCOSUR un sistema armonizado de información con registro de predios, identificación, registro y trazabilidad del ganado que atienda todas las necesidades de información, tanto en el campo sanitario como para formular estrategias y políticas sectoriales y;
b) contar en la región con un plan de erradicación de aftosa y una organización institucional sanitaria supranacional tanto para esta enfermedad como para todo lo relacionado con la certificación sanitaria de exportación.
Es impensable una agroindustria bovina exitosa del MERCOSUR si no se otorgan garantías creíbles a la certificación y si no se remueve definitivamente la fiebre aftosa de los rodeos de la región.
Por lo que parece oportuna la sugerencia del Dr. Oshiai para crear un sistema sanitario armonizado en el MERCOSUR y una instancia institucional supranacional similar a la SANCO de la UE a lo que agrego la necesidad de armonizar los sistemas para la identificación, registro y trazabilidad del ganado»
À luz do que precede, e tendo em vista as recentes iniciativas do Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e do Presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina em relação ao tema de aftosa, me parece óbvio que existe interesse das autoridades competentes em agir de forma pró-ativa para tentar obter uma “resposta” favorável da parte comunitária pelo menos para o Estado de SP. Deixo aqui um “food for thought” para a liderança do meu Estado que infelizmente não leu o conteúdo da minha entrevista com a devida atenção – não tentem inventar a roda que já existe!
Cordialmente,
Jogi Humberto Oshiai
Director for Latin America Trade to the EU
Lendo artigos no site da OIE pude entender que apenas os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rondonia, Acre a parte do estado do Amazonas é que são considerados livre de febre aftosa com vacinação.
Em 21 de outubro de 2005 foi suspenso o status dos estados do Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal.
Em 30 de setembro de 2005 foi suspenso o status dos estados de Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe.
Internamente e em outros mercados fora da OIE os estados de Tocantins, Mato Grosso, Paraná e Minas Gerais reestabeleceram seu status de Livre de Febre Aftosa com Vacinação.