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Aftosa: questão política, econômica e técnica

Por Edson Neme Ruiz1

Oitenta dias depois do Paraná ser decretado área com suspeita de febre aftosa, temos o sentimento de frustração e, ao mesmo tempo, de indignação com a grave situação que passa a classe produtora paranaense. Apesar de reuniões políticas e técnicas (em Brasília e na propriedade rural do Ministro da Agricultura, no interior de São Paulo), de discussões com técnicos da SEAB/PR e do MAPA, de audiências públicas promovidas no Distrito Federal e na Capital paranaense, pelos deputados integrantes da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, lamentamos que as soluções propostas até este momento não satisfizeram as reivindicações dos produtores.

Se algumas falhas foram cometidas – como o não envio de uma equipe técnica formada, nos moldes do que estabelece a OIE (Organização Internacional de Epizootias), para avaliar com maior cuidado e precisão a suspeita da presença do vírus da febre aftosa no Estado – neste momento, precisamos ter a humildade para assumir que erramos. E isto serve para todos os participantes da esfera pública e privada. O que não podemos aceitar passivamente é que uma parcela do rebanho paranaense fique até agora sem ser vacinada, aguardando que esta temível doença venha a se instalar em nossas propriedades. Cada dia que se passa, aumenta a nossa aflição!

Além disso, vivemos num país capitalista e democrático, e sabemos que alguns estão se aproveitando economicamente desta situação. É natural que haja uma acomodação do mercado, em que outras forças ocupem os espaços deixados por nós. Entretanto, é inadmissível que os interesses de alguns grupos econômicos prevaleçam sobre o bem-estar coletivo. Se o agronegócio representa uma alta parcela na formação do PIB, na geração de empregos e divisas com a exportação dos produtos agropecuários, muito se deve ao senso patriótico e ao trabalho do homem do campo.

O que vemos são setores levando grandes vantagens e obtendo muitos lucros, enquanto que o produtor rural “engole goela baixo” prejuízos e mais prejuízos. Muitos esquecem que sem o produto primário – “produzido da porteira para dentro” – outros elos da atividade do agronegócio estarão comprometidos.

O agropecuarista faz investimentos em certificação, rastreabilidade, melhoramento genético e na padronização, e estas melhorias não são levadas em conta pelos compradores, durante a comercialização do produto. Recentemente, estivemos no Paraguai para participar de uma reunião que buscava novas ações na erradicação da febre aftosa do continente americano e constatamos na Associação Rural do Paraguai, que o pecuarista daquele país recebe cerca de 20% a mais no kg da carne bovina em programas de exportação, ou seja, ele ganha um bônus por incrementar a qualidade do seu produto. No Brasil, ao contrário, somos penalizados e ficamos a mercê de situações críticas como o descuido com a defesa sanitária do país.

Tecnicamente, o que observamos é que há muitas dúvidas, coincidências, falta de lógica, alterações de condutas no meio do processo e protocolos parcialmente cumpridos. Não acreditamos que os compradores internacionais vão ficar sem a nossa proteína vermelha. Além de possuir um preço atrativo, ela prima pela qualidade. Os russos – maiores compradores do produto brasileiro – já reconheceram isto.

Então, o que deve ser feito? Creio que chegou o momento histórico de aproveitarmos esta crise para reorganizarmos toda a cadeia produtiva. Defendemos o respeito ao trabalho dos nossos técnicos – médicos veterinários, zootecnistas, pesquisadores, cientistas, profissionais de instituições laboratoriais, agrônomos, entre outros – e uma remuneração mais justa, que beneficie todos os integrantes da atividade agropecuária. Acima dos interesses individuais e políticos, pensamos que a febre aftosa é uma questão técnica e de caráter sócio-econômico.

E aqui no Paraná, não conseguiram nos convencer até hoje que há febre aftosa no nosso rebanho. Na verdade, acreditamos que o vírus é virtual e foi criado por decreto!

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1Edson Neme Ruiz, presidente da Sociedade Rural do Paraná e do Conselho das Sociedades Rurais do Estado do Paraná

0 Comments

  1. Bruno de Jesus Andrade disse:

    Caro Edson

    Foram muito pertinentes suas colocações sobre o assunto. Acredito que exista um forte desinteresse de alguns em esclarecer o que de fato acontece no PR. Como estudante de Zootecnia em Maringá, participei de inúmeros eventos que enfocavam a febre aftosa como tema no Estado em épocas de vacinação e portanto sei da grande conscientização de muitos profissionais e produtores sobre essa doença.

    É claro porém, que muito deve ser feito nesse momento, onde a “casa está bagunçada”. Para finalizar, acredito que os únicos prejudicados em todo esse processo de confusão e descaso são os pecuaristas que mesmo assim continuam a produzir com qualidade. Quem sabe, mais para frente aprenderemos alguma coisa com nosso “hermano” Paraguai. Irônico, não!