A exportação de carne bovina brasileira cresce a passos largos, contribuindo sobremaneira para a manutenção do superávit da balança comercial. Grande parte desse crescimento tem sido atribuído a oferta de carne com qualidade e a preços baixos, fatores esses que tornam a carne brasileira extremamente competitiva no mercado internacional, principalmente quando comparada com a carne produzida por outros países.
Essa condição pode ser confirmada ao compararmos o preço pago pela tonelada de equivalente carcaça oriunda da Austrália, próxima a US$3.500,00 (média), ou do Brasil próxima a US$1.350,00 (média). Assim, o grande desafio da cadeia produtiva da carne bovina e especialmente, dos pecuaristas, consiste em agregar valor ao produto de venda, ou seja, buscar alternativas mercadológicas que venham a repercutir em melhores remunerações ao produto de interesse: a carne 100% brasileira.
De maneira geral, tem-se noticiado com freqüência nos veículos de mídia especializada, inclusive em artigos técnicos e no panorama do Beefpoint, essa necessidade, quer seja aumentando o acesso a novos mercados (manejo racional) ou vendendo para clientes mais exigentes (EurepGAP).
Visando exemplificar uma condição de agregação de valor, utilizaremos os dados de uma propriedade que realiza ciclo completo, sendo essa localizada no estado de São Paulo, com rebanho de aproximadamente 6.000 cabeças, distribuídas nas diversas categorias componentes do rebanho. Os valores de venda considerados foram extraídos do boletim Boi & Companhia (578), da Scot Consultoria.
Observa-se, nas Figuras 1 e 2, a participação das categorias animais na formação da receita e no número total de cabeças vendidas, bem como o índice gerado a partir da relação porcentual entre a receita e o número de animais.
Enquadram-se nesta condição, a categoria de animais desmamados, independentemente de ser macho ou fêmea.
Na Figura 2 a linha azul representa o índice 1, ou seja, o limite entre uma categoria ser deficitária ou não na fazenda. Os bezerros e bezerras desmamados são duas categorias incapazes de promover lucro para a fazenda, uma vez que as receitas auferidas com sua venda são proporcionalmente menores em relação ao número de animais vendidos, tudo isso comparado às demais categorias presentes na fazenda e considerando os valores utilizados.
O principal destaque de valor agregado, nesse exemplo, são os tourinhos que apresentam índice de 8,57. O significado desse valor pode ser melhor entendido ao verificarmos que esses animais representavam 0,35% do rebanho, em número de cabeças, e 3,00% da receita total obtida com as vendas. É claro que a produção e comercialização de tourinhos é um nicho de mercado com suas particularidades, a intenção é apenas mostrar conceitualmente o que significa agregar valor.
Observa-se que o ideal é reverter a situação de “trabalhar” com animais que possuem índices inferior a 1. Isso pode ser obtido, por exemplo, aumentando a venda de vacas de descarte. Essa decisão pode representar uma “folga” no fluxo de caixa da empresa, além de garantir condições para segurar um número maior de bezerras e bezerros para venda posterior, quando estiverem em categorias com maior valores, além de permitir o investimento em categorias animais que representem menores custos de produção e maior lucro, como o caso dos tourinhos.
O assunto de ordem é agregar valor, veja que isso é possível individualmente em cada propriedade e adotando estratégias especificas e pertinentes ao sistema de produção na qual a propriedade está inserida.
Após essa análise simplista, conclui-se a necessidade de iniciarmos o processo de agregação de valor sobre a moeda da pecuária brasileira, nossa carne, visando a ampliação e reconhecimento do mercado mundial, de modo que possamos atingir a posição de país com maior valor recebido pela tonelada de carne, além de continuar validando o título de maior exportador.
Para tanto, devemos fazer uso de todas as ferramentas disponíveis, dentre as quais destacamos: investimento em marketing, padronização de carcaças conforme o mercado comprador, quantidade e fluxo de venda ao longo do ano, certificação das propriedades (EurepGAP) e organização dos produtores, para aumentar o poder de barganha (Editorial 30/07/2004) e representação internacional da cadeia da carne bovina mundial.
Somente assim o pecuarista terá acesso aos diferenciais e benefícios providos pela exportação, que hoje estão centralizados e inflacionados pelo elo intermediário da cadeia produtiva da carne, diga-se de passagem, os frigoríficos.