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29 de setembro de 2008
Mercado Físico do Boi – 30/09/08
1 de outubro de 2008

Agropecuária brasileira e a crise internacional

O mundo se encontra na maior crise desde a Quebra da Bolsa de Nova York em 1929. A economia mais "neoliberal" do mundo se viu forçada a intervir drasticamente no mercado. Hoje a economia brasileira pode ser vista como uma das saídas à crise mundial. Em um cenário pessimista a economia brasileira cresceu 6% neste segundo trimestre. Espera-se que o país cresça próximo dos 5% este ano. Caberá aos países emergentes a manutenção da demanda mundial, assim o Brasil poderá ser peça chave para atenuar os efeitos da crise.

O mundo se encontra na maior crise desde a Quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Bancos de Investimentos tradicionais como Bear Stearns, Lehman Brothers se viram a beira da falência, a principal seguradora americana, AIG, precisou de ajuda do governo para continuar funcionando, as duas maiores empresas hipotecárias do EUA receberam mais de 200 bilhões de dólares de ajuda. A economia mais “neoliberal” do mundo se viu forçada a intervir drasticamente no mercado, levou para o congresso um pacote de ajuda nunca antes visto, mais de 700 bilhões de dólares.

No meio deste cenário, o medo tomou conta dos investidores, que temendo mais perdas estão retirando seus investimentos. Como conseqüência dessa fuga de dólares a moeda americana vem se valorizando fortemente. A queda na liquidez da moeda estrangeira levou o Banco Central (BC) brasileiro no dia 18/09 a entrar em ação, o BC colocou a venda 500 milhões de dólares na busca por uma queda da cotação. No quadro abaixo pode ser conferida a variação da moeda americana ao longo do mês de setembro, que chegou a aumentar 16,49%.

Tabela 1. Variação do dólar durante o mês de setembro de 2008


Fonte: Banco Central do Brasil

Interferência no Brasil e na agropecuária

No Brasil a influência da crise já é vista na Bovespa, enquanto que no começo do ano a bolsa operava perto dos 60 mil pontos, hoje está um pouco acima dos 50 mil. No acumulado do ano as perdas chegam a 17%.

Já na economia real do país; PIB, emprego, consumo; tudo vai “bem obrigado”. Alheio a crise, por não possuir capital em investimentos, a população brasileira vai às compras e alavanca a economia nacional. Enquanto o Banco Central brasileiro aumenta a taxa de juros básica em busca de uma queda no consumo, EUA e Europa vêm diminuindo suas taxas.

A previsão do dólar para o final do ano, segundo analistas do Banco Central, é de R$ 1,65 à R$ 1,70. Para 2009 já se fala em acima de R$ 1,70. O IED (Investimento Externo Direto) deve puxar este aumento, uma vez que deverá diminuir, afetando assim a liquidez da moeda no país.

Quem está se beneficiando com a atual crise é o produtor rural. O dólar valorizado é certeza de maior receita e aumento no valor das exportações. Numa crise o último gasto a ser cortado é a alimentação, assim a certeza de demanda fortalece a agropecuária.

Caso haja queda no consumo dos EUA; países como a China, Índia e Rússia podem ser a resposta. Segundo o professor da USP/FEA-SP, Fernando Homem de Melo, o produtor nacional teve sorte. Ele comprou os insumos em uma época de câmbio baixo e irá vender seus produtos num cenário de câmbio alto. A grande variação do dólar irá sobrepor facilmente às recentes quedas nos preços das commodities.

Conclusão

Se antes crises mundiais como a da Ásia (1997) e da Rússia (1998) interferiam causando no país uma taxa de juros básica perto dos 50% ao ano, hoje a economia brasileira pode ser vista como uma das saídas à crise mundial. Em um cenário pessimista a economia brasileira cresceu 6% neste segundo trimestre. Espera-se que o país cresça próximo dos 5% este ano.

O único empecilho poderá ser a inflação, a demanda nacional vem crescendo mais que a capacidade de produção, porém o BC deverá manter as rédeas curtas no controle do aumento de preços.

A tendência para o futuro é de grande queda no consumo por parte dos países desenvolvidos (EUA, União Européia e Japão), a crise agora deverá mostrar sua magnitude na Europa. Caberá aos países emergentes a manutenção da demanda mundial, assim o Brasil poderá ser peça chave para atenuar os efeitos da crise.

0 Comments

  1. sady borges stella disse:

    É isso aí! Disse tudo. Todos dizem o que o Brasil deve e não deve fazer “para dar certo”, mas aí está o fato. Provavelmente o país será um dos menos prejudicados pela crise mundial.

    Quem sabe agora passaremos a ser também melhor vistos pelo mercado mundial e também pelas “agencias de riscos”, que tanto desdenharam e rebaixaram o Brasil, e que agora até uma das mais influentes quase foi para o buraco.

    Da-lhes BRASIL!

  2. Marcio Sena Pinto disse:

    Prezados colegas,

    Os senhores afirmam que: “quem está se beneficiando com a atual crise é o produtor rural”, contudo, até agora, pelo menos em Goiás os preços recebidos estão os mesmos (R$ 83,00 a 85,00/@) relativamente baixos e, portanto, se é que tem alguém se beneficiando de um mês para cá é o exportador ou quem tem dólares.

    Por enquanto os rumores são de aumento de preços em peças, bombas, insumos (exceto fosfato, que subiu mais de 100% do ano passado para cá), etc., etc.

    Seria muito importante, neste tipo de análise, separar os custos e os preços recebidos pelos produtores dos demais elos da cadeia produtiva para se fazer uma análise mais justa e auferir os eventuais lucros e prejuizos de cada um.

    Abs.

  3. Diogo Selingardi disse:

    Prezado Márcio Sena Pinto,

    No artigo em questão buscou-se mostrar que embora a crise possa ser devastadora nas bolsas e no mercado financeiro, para o produtor rural os reflexos serão menos intensos.

    Em uma análise macroeconômica o agronegócio brasileiro sairá fortalecido no que tange as receitas provenientes do dólar valorizado. Por outro lado a escassez de crédito causará aumento dos juros e diminuição da liquidez e investimento.

    Os preços recebidos devem aumentar, pelo menos agora. Com a moeda estrangeira valorizada os frigoríficos procurarão exportar. O aumento da demanda por animais aliada a falta destes no mercado resultará no aumento do preço da @.

    Agradeço sua participação.

    Abs. Diogo Selingardi