Finalmente as normas gerais para que a rastreabilidade na cadeia da carne bovina possa vir a ser possível no Brasil foram oficializadas pelo Ministério da Agricultura, através das publicações no Diário Oficial da União.
Em comentários anteriores nos referimos ao problema de identificação como passo essencial e indispensável para qualquer sistema de rastreamento. Entretanto, conforme opinião de técnicos que estão se dedicando à problemática do rastreamento, ainda existe grande confusão entre identificação e rastreamento.
Independente de qualquer sistema de rastreamento, a identificação de bovinos sempre foi um desejo de técnicos com o objetivo de melhorar o planejamento do manejo, tanto de animais em reprodução como em crescimento. Hoje, além dos rebanhos puros e/ou destinados à produção de reprodutores, produtores considerados mais avançados já estão usando a identificação individual de animais de rebanhos comerciais com o objetivo mencionado acima.
O método de identificação individual através de tatuagem na orelha tem sido o mais comum e nos parece o mais seguro. Entretanto, para manejo de animais, ele é limitado, pois não permite a identificação sem a imobilização dos mesmos. As alternativas têm sido o uso de brincos ou a numeração através de marcação com ferro quente. É importante lembrar que tanto a numeração com ferro quente como a colocação de brincos em animais recém nascidos apresenta problemas. A primeira devido ao pouco espaço disponível para colocação dos números, além de problemas de sofrimento do animal. A segunda, por poder causar inflamações e miíases, principalmente em condições de clima quente e úmido. O indicado seria efetuar a tatuagem no tratamento do umbigo, ficando a colocação do brinco ou numeração com ferro quente para as épocas de vacinação contra carbúnculo ou de desmama. Apesar da possibilidade de perdas, o uso de brincos nos parece mais prático, pois sua visualização no campo é mais rápida. Nos casos de perda, novo brinco com o mesmo número ou número diferente poderá ser colocado, pois existe a referência da numeração via tatuagem como numeração permanente do animal.
A técnica de identificação através de sistemas eletrônicos, código de barra e chips, foi desenvolvida e introduzida mais recentemente. Entretanto, em função dos custos relativamente altos no Brasil, seu uso tem sido muito restrito. Nenhum dos dois métodos eletrônicos evita ainda a identificação externa dos animais para facilitar o manejo no campo. Futuramente isso poderá ocorrer com o desenvolvimento de leitoras de campo de baixo custo, principalmente no caso de chips.
Em animais tatuados, o uso de brincos contendo também código de barra permite a continuação e automação da identificação individual dos cortes de cada animal após o abate. Entretanto, para manejo na fazenda, o código de barras não ajuda muito, pois sua leitura é geralmente complicada pelas condições, como chuva e barro.
O uso de chips eletrônicos, além de permitir a continuidade da automação após o abate, é muito eficiente para aumentar a precisão e automação do controle zootécnico e da movimentação de animais entre pastos, retiros, propriedades, etc. O processo de identificação usando chips na forma de “bolus” também exige a identificação do animal no nascimento através da tatuagem, pois esses dispositivos só podem ser colocados após o desenvolvimento do rúmen, por volta do quarto mês de vida. Desenvolvimento de revestimento de chips com resina de mamona ou outros materiais resistentes para colocação na dobra umbilical logo após o nascimento foi testado aparentemente com sucesso na Embrapa Gado de Corte. Essa tecnologia, se aprovada para toda vida útil do animal, evitaria o uso da tatuagem como condição essencial para sua identificação permanente.
No momento, a onda é a propaganda de sistemas de identificação e rastreamento por várias empresas e grupos. O produtor deve ter cautela na adesão, pois a experiência nessa área é muito pequena. A primeira atitude de quem quer entrar em qualquer sistema de rastreamento é a identificação individual dos animais. No momento, a maneira mais simples e barata é a tatuagem para identificação permanente, e o uso de brincos para facilitar o manejo.
O uso de métodos eletrônicos deve ser considerado e sua viabilidade econômica avaliada. Sem dúvida, seu uso aumentará no futuro pela facilidade e precisão que confere tanto ao controle zootécnico como ao rastreamento. Entretanto, deve ficar claro que para identificar com o objetivo de rastreamento, não há necessidade de identificação eletrônica.
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Ainda são necessárias maiores discussões sobre este assunto. Não vamos esquecer que existe uma grande possibilidade do importador deixar bem claro qual é o sistema de acompanhamento (rastreamento) que poderá exigir. Portanto um pouco mais de precaução, menos propaganda enganosa, menos merchandising deste ou daquele sistema. Qualquer vacilo, qualquer não conformidade e tudo estará comprometido. Seria muito sensato que todos “ferramentais” – brinco, bolo, boton + brinco, brinco com código de barras – atendessem às exigências da ISO 11784 e 11785 e fossem certificados com reconhecimento internacional. Provavelmente esta será a exigência dos países importadores em relação ao sistema de rastreablidade a ser empregado. Se para exportar, digamos, bancos de carros, exige-se ISO 14000 do engradado de madeira no qual o banco vai acondicionado, porque para exportar carne à UE não se irá exigir ISO 11784 e 11785 para os ferramentais que hoje estão fazendo o seu merchandising de forma tão agressiva no mercado?