Por Marcus Andreas1
Recentemente, o presidenciável Luis Ignácio Lula da Silva afirmou que a Área de Livre Comércio das Américas – a ALCA – seria uma política de anexação dos EUA. Para evitar este tipo de informação truncada e parcial, é bom que se esclareça, de forma menos emocional e, por isso, mais consistente, o que efetivamente significa esta tão polêmica sigla.
Com início previsto para o ano de 2006, a ALCA se propõe a abrigar 34 países das Américas, reunindo 800 milhões de pessoas, compreendendo um PIB de 13 trilhões de dólares e ser, antes de tudo, a “boa política econômica”. Se, antes, o que vigorava nas relações internacionais era a política da boa vizinhança entre os países americanos, hoje, o que impera é o bom relacionamento econômico entre os mesmos, estabelecido na premissa de que haverá tarifa aduaneira de 0% para 85% do volume transacionado entre os países.
Um dos mais polêmicos temas que pontua o assunto é, sem dúvida, o temor de uma possível concorrência desleal entre os países envolvidos no acordo. Isto porque, há o rumor disseminado de que, a partir da criação da Área de Livre Comércio das Américas, o Brasil perderia mercado consumidor interno, além de ser incapaz de concorrer com os produtos vendidos no mercado externo.
No caso específico do agronegócio, alguns dados apontam para o total equívoco deste pânico populista.
Em recente seminário sobre o assunto, e desenvolvido pela Câmara de Comércio Americana de São Paulo, o secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, Pedro de Camargo Neto, anunciou que o Brasil é o país de maior saldo de comércio agrícola do mundo (US$ 19bi). No entanto, devido ao temor infundado do empresariado agrícola nacional, o acordo parece jamais obter um consenso que satisfaça a todos.
A bem da verdade, esta insistente rejeição do segmento agrícola interno à ALCA só pode ser entendida se considerarmos o fato de que o Brasil não cultiva a tradição de agregar valor a seus produtos nos canais de distribuição, além de ser superficial nos temas que elevam nossa competitividade no exterior. Em resumo, exploramos pouco nosso próprio potencial competitivo nacional.
Ainda neste seminário, Ademerval Garcia, presidente da ABECITRUS, informou que 15-18% do suco que exportamos vai para os EUA, além de afirmar que não há nada na ALCA que não possamos ganhar na Organização Mundial do Comércio (OMC). Por fim, Garcia fez questão de enfatizar que nosso país está em franca abertura de mercado na China, concluindo, então, que é a ALCA que precisa do Brasil.
Para muito além dos inúmeros dados apresentados pelos diversos representantes do setor de agronegócio brasileiro, é bom que se anuncie que ninguém deste segmento é mais competitivo que nosso país. A agricultura é o maior gerador de empregos no Brasil, além de ter, na agroindústria, não apenas o maior gerador de empregos, mas, igualmente, de divisas internacionais.
De forma consciente, não podemos invalidar o fato de que o Brasil deve, sim, analisar estrategicamente os interesses dos EUA em nossos mercados, avaliando as propostas conflitantes ou alinhadas à nossa política econômica. Porém, afirmar, de forma inconseqüente e radical, que este novo eixo econômico deve ser ignorado, é postura leviana e ingênua. Na verdade, a ALCA é uma grande oportunidade para o mercado agropecuário, pois, além de intimidarmos economicamente o mercado norte-americano graças à nossa competitividade agropecuária, dizer não a esta nova aliança que se forma significa, deliberadamente, isolar nosso país dos mercados internacionais.
Importante é defender uma ALCA que ofereça o melhor possível para o Brasil. Por fim, ainda é possível defender o assunto afirmando que alguns grupos mais nacionalistas reconhecem na ALCA um efeito da globalização, enquanto outros, com visão mais alargada de mercado, dizem que ela é exatamente o contrário: um processo antiglobalização, que se caracteriza pela formação de blocos de parceiros que procuram se proteger de outros blocos.
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1 Marcus Andreas é consultor de marketing para o agronegócio e Diretor-Presidente da consultoria Andreas CMC
E-mail: andreascmc@andreascmc.com.br
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Quem lê as medidas tomados pelos EUA não consegue imaginar que eles dêem qualquer espaço para outro país crescer na ALCA, ou fora dela… É muita ingenuidade!