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Alexandre Foroni: cooperativa é saída para maior rentabilidade do produtor


Alexandre Foroni é zootecnista formado pela USP Pirassununga. É sócio-diretor da Método Consultoria, empresa que presta serviços para a Cooperocarne, Cooperativa Rondoniense de Carne Ltda. Alexandre Foroni é cooperado fundador, um dos idealizadores da Cooperocarne e responsável pelo departamento de compras da cooperativa.

Rondônia tem um dos menores preços da arroba no Brasil, apesar de ter status de livre de febre aftosa com vacinação. Em 2001, o preço de RO era aproximadamente 20% inferior ao de SP-Barretos, hoje esse deságio é de 26%, segundo artigo de Alexandre Foroni e Oberdan Ermita publicado no BeefPoint em 12/12/2005. Entre os motivos apontados, Alexandre atribui à elevada concentração dos abates a poucos grupos empresariais.

Devido a esse cenário, um grupo de pecuaristas do estado fundou em 7 de dezembro de 2003, a Cooperocarne, visando encontrar uma alternativa às dificuldades na comercialização da produção. A cooperativa busca um financiamento pelo BNDES para a construção da planta frigorífica, localizada em Pimenta Bueno (RO). A construção da planta já está em andamento, com investimento dos cooperados, mas ainda aguarda a liberação dos recursos do BNDES para concluir o projeto.

Alexandre concedeu essa entrevista ao BeefPoint, onde fala da força do cooperativismo, dos desafios envolvidos no projeto e no trabalho de motivação dos cooperados. Entusiasmado, ele explica porque acredita que o cooperativismo é a melhor saída para a melhoria da lucratividade do produtor.

BeefPoint: Na sua opinião, por que o cooperativismo na pecuária de corte ainda está começando?

Alexandre Foroni: Acho que o produtor é o principal motivo por o cooperativismo na pecuária de corte ainda não ter deslanchado. O espírito cooperativista ainda é muito “cru” no produtor. Ele olha muito para dentro da propriedade, para o próprio umbigo. É preciso uma conscientização do que é uma cooperativa e dos benefícios que se pode obter dela. Não é para apenas um ou dois, é para todos ganharem. Precisamos aprender a dar as mãos.

BeefPoint: Você acredita na expansão do modelo cooperativista para a pecuária de corte?

Alexandre Foroni: Acredito muito. Este é um modelo que em outras atividades, como de consumo, de ensino, de medicina, de crédito, deu certo. A Unimed é um exemplo. Mas é necessário seriedade e uma equipe voltada para seus princípios.

Não tenho certeza de que o modelo que implantamos em Rondônia é o melhor e o mais adequado para todo o país, mas com certeza o cooperativismo é a saída para conseguirmos melhores condições de negociação.

Se desejamos elevar a renda na pecuária de corte temos que verticalizar a cadeia. E não adianta sermos apenas mais um, temos que ser “o frigorífico”. Temos que ser diferentes.

BeefPoint: Você poderia descrever esse modelo?

Alexandre Foroni: No modelo adotado pela Cooperocarne, o produtor compra cotas proporcionais ao que ele quer usufruir da indústria, isso é, compra direito de abate.

Por exemplo, se um produtor abate anualmente 500 cabeças, ele compra cota para 500 cabeças, se outro abate 100 cabeças por ano, ele compra 100 e assim por diante.

BeefPoint: Em que aspectos a Cooperocarne pretende se diferenciar dos demais frigoríficos?

Alexandre Foroni: Primeiramente, todos os cooperados tem acesso à contabilidade, o que os permite saber a qualquer momento a “saúde” da indústria. Hoje o produtor do país inteiro é obrigado a entregar seu patrimônio (boi) para um frigorífico que, na maioria das vezes, não mostra nem o contrato social da empresa. Nos anos de 2004 e 2005 três frigoríficos deram “calotes” aos produtores de Rondônia.

Um outro ponto importante é com relação à limpeza (faca) e à balança. Como os produtores são os próprios donos da indústria não temos intenção de lesar o produtor.

Também teremos uma equipe de extensão rural, a qual irá orientar o produtor e monitorar a produção, para podermos agregar valor a nossa carne e com isso remunerar melhor o produtor por qualidade.

BeefPoint: O que vocês farão para conseguir uma padronização maior?

Alexandre Foroni: Em primeiro lugar, através da equipe de extensão rural, que inicialmente irá realizar um levantamento das propriedades, buscando as características desejadas para nossa produção. Com isso podemos direcionar aonde queremos chegar. Por exemplo, se nosso maior problema for manejo pré-embarque, vamos fazer cursos e trazer especialistas. Só teremos esse resultado com equipe de extensão rural.

No frigorífico vamos remunerar melhor o produto padronizado. A princípio, pretendemos trabalhar com o preço de mercado, mas já criar um “plus” para padronização. Este não precisa ser apenas financeiramente, pode ser através de eventos, um reconhecimento de melhores produtores, um “ranking”.

BeefPoint: O projeto da cooperativa prevê a criação de uma marca de carne? E o programa Nelore Natural?

Alexandre Foroni: Um dos objetivos é trabalhar com o PQNN (Programa de Qualidade Nelore Natural). Mas não queremos trabalhar só com Nelore.

Temos cooperados que fazem cruzamento industrial, por exemplo. Portanto, se vamos focar no Nelore ou se vamos investir no Novilho Precoce, o que indicará é o mercado. Vamos apenas direcionar o cooperado a produzir o que o mercado está buscando.

Outra idéia é a criação do Selo Cooperocarne. Aqui no Brasil nem tanto, mas no exterior, principalmente na Europa, a cooperativa tem um apelo social, por ser distributivista.

BeefPoint: E vocês já fizeram algum cálculo das vantagens da padronização e de uma qualidade superior?

Alexandre Foroni: Temos alguma experiência com o Nelore Natural. O produto chega a atingir um sobrepreço que varia de 5 a 60%, dependendo do corte, mas na sua maioria o sobre preço está entre 15 e 20%.

BeefPoint: A Cooperocarne já tem mais de 470 associados. Quais foram as principais dificuldades para conseguir essa grande adesão? O que foi feito para convencer os cooperados de que valia a pena se filiar?

Alexandre Foroni: Nós estudamos muito a realidade do estado. Realizamos várias análises sobre as questões de preço e de rendimento de carcaça. Buscamos então pessoas que fossem formadoras de opinião de várias cidades da região. Eram duas ou três de cada cidade.

Eram pessoas de credibilidade muito grande, fundamentais para motivar outros produtores de cada cidade. A princípio, eram 27 pessoas nesse grupo. Nosso primeiro passo foi convencê-los. Do grupo inicial, 17 compraram a idéia. Passamos a realizar palestras em cada uma das cidades da região.

Essas pessoas de credibilidade constituem hoje a diretoria. É importante que sejam pessoas de várias cidades, para garantir a confiabilidade aos cooperados.

BeefPoint: O que vocês fazem para conquistar e manter a motivação e união entre as pessoas, mesmo com todas as dificuldades?

Alexandre Foroni: A obra motiva o cooperado. Não podemos parar a obra. Pode aumentar ou diminuir o ritmo, mas não pode parar. Se tivesse tudo isso só em projeto ou aplicado no banco, iríamos desmotivar as pessoas. Mas outra coisa é ver a estrutura levantando, parede subindo. Isso mexe com as pessoas.

Nas assembléias, você sente que há uma grande energia entre as pessoas. O clima é forte, você vê o pessoal entusiasmado. Você ouve cooperados falando: “Gente isso aqui é importante! É nossa saída, nossa liberdade”. O interessante é que nas assembléias expomos as dificuldades, principalmente quanto ao financiamento. E todos querem achar uma solução.

BeefPoint: O sistema cooperativista de votos (um homem = um voto) constitui alguma barreira na tomada de decisão?

Alexandre Foroni: Essa é uma lei cooperativista, portanto não podemos mudá-la. Ela é mais democrática, portanto é mais fácil convencer o cooperado, pois quem entra com a cota mínima, tem o mesmo poder de quem entrou com muitas cotas.

BeefPoint: E quanto a quem entrou com muitas cotas? Vocês já tiveram algum problema nesse sentido?

Alexandre Foroni: Não, nunca tivemos. Mesmo porque, os grandes produtores não entraram até hoje. Para desfrutarmos dos benefícios fiscais da cooperativa, temos que respeitar a lei cooperativista.

O produtor muito grande, sozinho, já consegue uma negociação melhor com o frigorífico. São muito poucos os grandes pecuaristas que temos como cooperados. A grande maioria tem cotas para abater aproximadamente 200 cabeças/ano.

BeefPoint: Você poderia quantificar esses benefícios fiscais?

Alexandre Foroni: As cooperativas gozam de isenção de PIS, COFINS e IR. No projeto Cooperocarne, isso dá um montante da ordem R$ 5 milhões ao ano. Para um empreendimento de R$ 28 milhões, isso é bastante relevante.

BeefPoint: Qual a sua visão de futuro para a pecuária de corte?

Alexandre Foroni: Acho que a cada dia devemos nos profissionalizar, buscar novas tecnologias e intensificar. Na questão da rastreabilidade, fazer melhor, diferente e profissional.

A cadeia toda vai ter que melhorar e se reestruturar. Será preciso conquistar condições mais justas para todos os elos.

0 Comments

  1. José O Avila disse:

    Estou engolindo minhas próprias palavras.

    Sempre afirmei que iria morrer antes de surgir uma cooperativa de pecuaristas, e eis que agora aparece uma diante de meus olhos! Meus votos são de que o negócio vingue, frutifique e se transforme em um exemplo para outros estados.

    José de Oliveira Avila
    Ingeborg C Ebeling
    Criadores
    Ipameri, GO

  2. Ivo Martins Alves Filho disse:

    Caro Alexandre,

    Parabéns pelo profissionalismo e coragem!

    Tenho total certeza que o empreendedorismo e seriedade de toda equipe Cooperocarne, irá fomentar inúmeras iniciativas, para a mobilização e organização da classe produtora.

    Saudações,
    Ivo Martins
    Zootecnista FZEA/USP

  3. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Alexandre,

    Parabéns pela entrevista e pela iniciativa de formar uma cooperativa de fornecimento e abate de gado e comercialização de carne e seus derivados.

    Sem dúvida, o proposto uso de selo identificando a cooperativa será um grande lance comercial, principalmente no exportação, e as vezes é possível convencer os importadores do valor comercial para eles mantendo esta identificação nas gôndolas de supermercados lá fora.

    A cooperativa tem acesso a dinheiro com custo financeiro mais baixo, goza uma certa vantagem fiscal e deve ser tratado pelo estado e até pelo governo federal como uma valiosa arma contra uma concentração excessiva no ramo dos frigoríficos.

    Também o acesso às instituições de pesquisas, centros de educação e Universidades será bem mais fácil para vocês.

    A gestão da cooperativa deve ser profissionalizada ao máximo, respeitando a lei das cooperativas. Mas isso vocês já sabem há muito tempo.

    Parabéns e Boa Sorte, vocês merecem.

    Um abraço,
    Louis

  4. Francisco Rodrigo Martins disse:

    Prezado Alexandre,

    Parabéns, muito sucesso e um 2006 cheio de conquistas que você merece pela ótima pessoa e profissional que é.

    Abraço!
    Francisco R. Martins
    Graduando Zootecnia FZEA/USP

  5. João Gustavo de Paula disse:

    Caro Alexandre,

    Parabéns pelo trabalho na Cooperocarne. Acredito firmemente que a solução para uma melhor remuneração dos produtores de carne de qualidade no Brasil passa pela criação de uma rede de cooperativas regionais de abate espalhadas pelo país, que enviem suas carcaças com classificação de exportação para uma central de cooperativas localizada próxima a um porto, para desossa e exportação dessas carcaças.

    O pecuarista somente conseguirá a remuneração justa pela sua carne padrão exportação quando acessar diretamente o mercado externo (os frigoríficos pagam prêmio de 3% no boi de exportação e o vendem por mais de 50% do boi comum, usando parte desse lucro para compensar o prejuízo na colocação do boi comum no mercado doméstico). Por outro lado, dificilmente uma única cooperativa regional conseguirá fazer esse papel sozinha, uma vez que uma empresa exportadora precisa ter uma escala mínima de 1 a 2 mil bois/dia para poder atender aos pedidos internacionais (encher semanalmente containers de peças específicas) e arcar com custos de representação internacional. Mas esta central de cooperativas terá uma grande vantagem competitiva frente aos grandes frigoríficos exportadores: como ela sempre remunerará melhor o produtor (que participará dos lucros), terá sempre a melhor carne produzida no país. Sei que é um sonho de difícil realização, mas não vejo outra saída. E precisamos acreditar nos nossos sonhos.

    João Gustavo de Paula
    Associação dos Criadores de Gado de Corte do Norte de Minas Gerais
    Montes Claros-MG

  6. Geraldo Bach disse:

    Caro Alexandre

    Queremos cumprimentá-lo pela entrevista no BeefPoint e acreditamos que o cooperativismo seja uma alternativa viável na organização dos produtores. Temos exemplos nas áreas da suinocultura e avicultura onde cooperativas disputam junto com as demais empresas o mercado tanto interno quanto externo.

    Atuamos também dentro do Cooperativismo na área da rastreabilidade, onde executamos nossa tarefa com profissionais médicos veterinários, prestando um serviço de qualidade.

    Parabéns pela iniciativa e sucesso no empreendimento, pois precisamos construir alternativas viáveis aos nossos produtores e projetar o Brasil cada vez mais no cenário mundial, além de produzir um produto de qualidade para o mercado interno, às vezes relegado ao segundo plano.

    Atenciosamente

    Med. Vet. Geraldo Bach
    Presidente da UNIMEV/CERTIFICADORA

  7. alexandre soares de carvalho disse:

    O problema da cooperativa é sério. Estude a possibilidade de efetuar uma sociedade anônima fechada, mas não a cooperativa.

    No fundo, dá no mesmo. A cooperativa não paga determinados tributos, mas também não pode obter lucros, tampouco distribuí-los. Pense no assunto.

    Maria do Carmo Carvalho

  8. Tércio Telles de Moraes disse:

    Quando pensamos na cadeia produtiva dos produtos de origem bovina (carne, couro, etc) precisamos avaliá-lo de forma global. O que temos assistido, participado, verificado, observado: é uma organização crescente em todos os setores desde o produtor até o consumidor! Estamos no nível de negócios pecuários. A luta do solitário produtor já foi (os eficientes sobrevivem, mas a maioria não), agora estamos na luta do produtor integrado em diversos mecanismos (integração, cooperativa, condomínio, associação, sociedade anônima, etc.). Permanecer sozinho no mar aberto é um atestado para o óbito. Este espaço é automaticamente ocupado, por alguém mais eficiente.

    As nossas estatíticas locais, municipais, regionais, estaduais, nacionais e mundiais precisam ser divulgadas, acompanhadas, discutidas diariamente através dos mais variados meios de comunicação, para que possamos estar atentos aos principais movimentos e traçarmos as principais estratégias para o próximo dia, semana, mês, ano, década do setor bovino como fazem os concorrentes da cadeias produtivas.

    Temos diversas cotas: de produção, de consumo interno, de perdas, de distribuição, exportação etc.

    Permanecer no negócio pecuário bovino é uma aplicação dos princípios econômicos, administrativos, financeiros etc., como o ouro, petróleo, plástico, alumínio etc. Cada participante da cadeia produtiva precisa de sair da posição passiva e assumir uma posição ativa. Alguns já saíram há muito tempo! Outros estão sonhando! Outros estão dormindo! O ciclo vai e volta quando não interferimos, mas quando nos organizamos dentro e fora da porteira assumimos uma postura competitiva!

    Parabéns pela iniciativa. Precisamos de receber informações sobre o andamento da Cooperativa.

  9. Sivaldo Barbosa Goes disse:

    Parabéns, amigo Alexandre.

    Muito boa entrevista, estou aqui pensando nas palavras do amigo Sr. José de Oliveira Ávila “é preciso ter coragem”, somos testemunhas deste fato. O que está acontecendo com a administração deste país?! É um absurdo como pode ser tão difícil ter idéias, indivíduos para compartilhá-las, trabalhar e chegar a um objetivo comum, que é pruduzir neste país. Produzir para milhares de pessoas e dividir seus resultados. Mas não, acontece o contrário. Milhões de dólares para um só indivíduo investir fora do país, tem. É lamentável.

    Mas não podemos desistir, é por isso que existem pessoas como você Alexandre e o Sr. Euvaldo Foroni (e equipe) para romper e quebrar estes paradígmas.

  10. Andrey Ferreira Lira disse:

    Achei bastante interessante uma cooperativa na cadeia da carne, espero que a Cooperocarne se torne o ponto de partida para muitas outras que venha a surgir em todo país.

  11. José Rafael Dí Silvério disse:

    Alexandre

    Nossos parabéns por tão brilhante iniciativa e acreditamos no sucesso da cooperativa, com você a frente deste empreendimento, que muito nos orgulha pela idéia de colocar em prática as suas experiências.

    Para tanto colocamos a nossa estrutura no porto de Santos a sua inteira disposição para assessorar a sua equipe na área de comércio exterior.