Uma questão que às vezes vem à tona está relacionada à intensificação dos sistemas de produção de gado de corte, particularmente com referência à intensificação da produção de forragem e do seu uso através do pastejo. Dentro desse mesmo contexto, tem sido levantada também a questão do que seria mais importante, produção por unidade de área ou produção por animal (performance individual).
Em primeiro lugar, os sistemas de produção têm que ser racionais. Estamos usando a palavra racional para definir sistemas de produção que utilizam as tecnologias mais adequadas, com competente gerenciamento de todos os aspectos envolvidos nos mesmos. Como atividade econômica, a produção de gado de corte requer que os sistemas de produção usados possibilitem maximizar a rentabilidade, tanto por animal como por unidade de área. De uma maneira simplificada, a questão do nível de intensificação, no presente caso da produção e da utilização das forragens produzidas pelas pastagens, deve ser encarada como uma decorrência do balanço entre custos e receitas adicionais.
Como todos sabem, a produção de forragem das pastagens é estacional. Como conseqüência, a produção animal baseada somente em pastagens também é estacional. Portanto, nesses sistemas a colheita de bezerros (desmama) e ou venda de animais para abate é estacional e deve ocorrer no final do período das chuvas. Devido à produção estacional de forragens, sistemas racionais de produção de gado de corte somente baseados em pastagens implicam na tolerância de alguma ineficiência em termos de utilização de pastagens durante o período das chuvas para que ocorram sobras a ser utilizadas durante a seca (produção por unidade de área). Em sistemas de produção somente a pasto, a não observância desse aspecto da produção animal estacional, aumenta muito a ineficiência técnica de produção em termos de desempenho animal (excesso de carga nas fases de cria e recria) e ou em termos de produção por unidade de área (por excesso de carga animal ou por grandes sobras de forragem durante o período das chuvas). Deve ficar claro, que em termos financeiros poderá ser viável, em determinadas condições, trabalhar com grande ineficiência de utilização de forragem das pastagens durante o período das chuvas (baixos custos da forragem produzida pelas pastagens e ou não consideração do valor das terras).
Tendo como ponto de partida o que foi definido no parágrafo anterior como sistema racional de produção de gado de corte baseado somente em pastagens, a primeira evolução seria diminuir ou eliminar a ineficiência de utilização de forragem inerente a esses sistemas. Existem várias alternativas, entre elas as mais viáveis seriam confinamento (fase de acabamento) e pastagens de seca (inverno) semeadas em fevereiro a abril, com os animais suplementados ou não com concentrados (fases de cria, mas principalmente de recria e acabamento).
Qualquer intensificação da produção de forragens das pastagens através do uso intensivo de insumos, requer o manejo intensivo em termos de utilização da forragem produzida. Quando feita em pequena escala, essa intensificação pode ajudar no manejo e na recuperação das pastagens da propriedade. Quando feita em média e larga escala, ela implica em um grande aumento do número de animais que precisam ser alimentados durante o período da seca fora das pastagens, isto é, com outros recursos forrageiros. É obvio que esses custos adicionais devem ser levados em consideração quando se pensa no retorno econômico da intensificação da produção e utilização das forragens das pastagens. Outro ponto importante a ser considerado é o desempenho animal nos sistemas intensivos de utilização de pastagens, pois apesar de baixos ganhos serem viáveis para maximizar a produção por unidade de área, eles podem implicar em aumento de custos de produção em etapas posteriores, diminuindo os pesos para entrada em reprodução no caso de fêmeas de reposição ou para entrada na fase de acabamento no caso de machos (tanto acabamento a pasto como em confinamento).
Além dos aspectos econômicos, dois outros terão cada vez mais importância na viabilidade do uso intensivo de insumos em pastagens. O primeiro está relacionado à ecologia (contaminação do meio ambiente), e o segundo ao conforto e aos direitos dos animais. O fato de serem feitas especulações de que os objetivos seriam os de aumentar as barreiras para entrada de nossa carne, principalmente na Comunidade Européia, não justifica uma atitude passiva por nossa parte.
0 Comments
Muito interessante a reportagem, gostaria de ressaltar que a criação de bovinos no Brasil está na dependência das condições regionais, as quais levaram a idealizacao de dois processos de exploracão capazes de satisfazer não somente as condições regionais, como também as do próprio criador, as intensificações desses processos são opções para uma criação melhor.