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Algumas reflexões sobre a ensilagem de soja

Por Rafael Camargo do Amaral1

As leguminosas são consideradas importante grupo de forrageiras para alimentação de animais devido ao seu elevado valor protéico e por sua habilidade na fixação de nitrogênio.

Em princípio, qualquer espécie forrageira, anual ou perene, pode ser ensilada. Segundo McDonald et al. (1991) o primeiro objetivo do processo de ensilagem é preservar a cultura pela fermentação natural em condições anaeróbias. O segundo é inibir a atividade de microrganismos indesejáveis como os clostrideos e as enterobactérias, devido a sua capacidade de deteriorar a matéria orgânica e originar perdas energéticas.

Desta forma, no momento de utilizarmos uma espécie que será destinada a ensilagem, é necessário direcionarmos atenção a três fatores chaves relacionados à planta: conteúdo de matéria seca, conteúdo de carboidrato solúveis (CHOs) e poder tampão (Figura 1).

O conteúdo de MS determina as alterações que podem ocorrer durante o processo de fermentação da forragem. Silagens com menos de 30% de MS (Figura 1), podem apresentar elevadas quantidades de efluentes e fermentação por bactérias do gênero Clostridium, resultando em perdas apreciáveis. Quando forragens são expostas a secagem (particularmente acima de 50% de MS), as perdas podem ser altas durante o pré-emurchecimento devido à precipitação pluviométrica e danos mecânicos.

Observa-se na Figura 1, que se a concentração de carboidratos solúveis é alta e o poder tampão é baixo, pode-se obter silagens de boa qualidade mesmo com plantas com baixo conteúdo de MS. Por outro lado, quando se observa situação inversa, somente se produz silagem de boa qualidade quando o conteúdo de MS é alto.

Portanto, as leguminosas de forma geral são consideradas culturas inapropriadas ao processo de ensilagem, sendo que estas apresentam alto poder tampão (devido à alta concentração de ácidos orgânicos e outros sais, também o alto conteúdo de proteína tem contribuição fundamental), baixo conteúdo de CHOs e geralmente, baixos valores de MS.

Figura 1. Relação entre conteúdo de matéria seca e proporção açúcar: capacidade tampão e seus efeitos na qualidade final das silagens.


Fonte: adaptado de Woolford (1984)

De acordo com o exposto até agora, a adoção da ensilagem de leguminosas torna-se um processo delicado, podendo esta, ser direcionada a fermentação indesejável, em grande parte devido a baixa relação entre açúcares solúveis e poder tampão, traduzindo-se em silagens de baixo valor alimentício.

Porém alguns trabalhos realizados com soja em associação a gramíneas mostraram resultados promissores. Carneiro et al. (1982) trabalhando com silagens de milho, e com inclusão de 20 e 40% de soja (forragem), verificou aumento no consumo de matéria seca, de proteína bruta e de energia metabolizável em ovinos a medida em que a soja foi adicionada na silagem, conforme pode ser observado na Tabela 1. Além do aumento de proteína na silagem, a adição de soja tem efeito marcante sobre os teores de minerais, principalmente fósforo.

Tabela 1. Consumo e digestibilidade de silagem mista de milho com soja, avaliados em ovinos


1g/kg0,75 2kcal/kg0,75
Fonte: Carneiro et al. (1982).

Segundo Evangelista et al. (2003), na associação soja-gramínea, uma das possibilidades é que a forragem seja resultante de culturas isoladas e a mistura seja realizada no momento da picagem do material (quando se utiliza picadeira estacionária) ou na medida em que vai colocando o material já picado dentro do silo. Segundo o mesmo autor, a soja deve ser colhida no estádio de início de enchimento de grãos (estádio R5), podendo apresentar até 18% de PB na matéria seca da forragem.

Uma vantagem na produção de soja para o pecuarista, pode também estar relacionada no aspecto de rotatividade de culturas, trazendo benefícios para o solo, além de ajudar no controle de pragas e equilíbrio de nutrientes do solo.

Considerações finais

Estudos recentes reportaram que a utilização de pré-tratamentos como emurchecimento e uso de aditivos tem contribuído para amenizar as características negativas da ensilagem das leguminosas, porém a adoção da ensilagem de soja em sistemas de produção animal somente poderá ser concretizada a partir do momento em que maiores investigações sobre o tema forem realizadas.

Literatura consultada

CARNEIRO A. M.; SANCHES, R. L.; RODRIGUES, N. M.; SOCORRO, E.P. do. Consumo e digestibilidade “aparente” de silagens mistas de milho e soja anual. Arquivo da Escola Veterinéria da UFMG, Belo Horizonte, v. 34, n. 2, p. 397-404, ago. 1982.

EVANGELISTA, A.R; RESENDE, P.M.; MACIEL, G.A. Uso da soja (Glycine max (L.) Merrill) na forma de forragem. Lavras: ESAL, 2003. 36 p. (ESAL. Boletim Técnico ; n. 120).

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1Rafael Camargo do Amaral é zootecnista, mestrando em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP.

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