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Alteração no tamanho de partículas – Quais as relações durante a fermentação e abertura do silo?

Por Rafael Camargo do Amaral e Thiago Fernandes Bernardes

Quando se pensa na relação existente entre o teor de matéria seca, o tamanho de partícula e densidade da massa, provavelmente a primeira imagem que vem em mente é de uma silagem com quantidade considerável de palhas, que provavelmente foi colhida com elevado teor de matéria seca, o qual gerou dificuldade na picagem durante o processo de ensilagem, principalmente para máquinas que possuem uma ou duas linhas de corte (tracionadas por trator). Por outro lado, quando visualizamos a forragem com teor adequado de matéria seca (p.ex. em silagem de milho – 30 a 35% de MS), estabelecemos relação positiva, com adequado tamanho de partículas, gerando densidade no silo com valores normais.

A pergunta é: O que ocorre durante o processo de fermentação com o estabelecimento desses fatos? Ou seja, irregularidades inerentes ao processo.

A Figura 1 é uma imagem difícil de ser vista no campo, porém ela traz uma informação muito relevante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1. Silagem de milho colhida por máquinas diferentes.

O silo em questão, no início de seu enchimento foi abastecido com forragem colhida por meio de colhedora automotriz, porém esta máquina teve problemas técnicos e houve necessidade da continuidade da colheita com máquina tracionada por trator, gerando a discrepância entre os tamanhos de partículas, o qual dividiu o silo em duas porções distintas.

Apesar da grande diferença visual entre os tamanhos de partículas, um ponto de destaque é a diferença entre as temperaturas das silagens, apresentando a silagem que teve sua partícula mal picada, superioridade em 5oC (41oC) frente a silagem bem picada (36oC). A questão agora é: Qual o indicativo desta diferença? O que pode estar gerando aumento da temperatura de uma silagem mal picada frente a uma bem picada?

A resposta pode seguir em diferentes direções, porém vamos nos remeter até o campo, local genitor da forragem. Para que esta silagem tivesse sua partícula prejudicada durante o corte, o seu teor de matéria seca estava elevado, no caso da Figura 1, o teor de matéria seca apresentado para a silagem foi de 37%. Quando nos deparamos com forragens no campo com elevado teor de matéria seca, não devemos somente nos preocupar com picagem, ao contrário, muitos podem ser os problemas da forragem permanecer mais tempo no campo, sendo que um desses problemas é o aparecimento de fungos, os quais a partir de certo momento iniciam seu desenvolvimento na forragem.

A Figura 2 mostra a relação existente entre o aparecimento da micotoxina zearalenona (produzida pelo fungo do gênero Fusarium) em função do aumento do teor de matéria seca da forragem ou do prolongamento da forragem no campo.

Figura 2. Teor de matéria seca e concentração de zearalenona em plantas de milho. (Oldenburg, 1996)

A planta no campo exposta por maior período de tempo, mostrou-se susceptível ao ataque de invasores, sendo os fungos um dos principais, gerando aumento na quantidade de seus esporos e por uma questão de competição iniciando a produção de micotoxinas.

Dessa forma, retornando a silagem em questão, temos que uma planta com maior teor de matéria seca, não apenas terá menores quantidades de carboidratos solúveis para a ocorrência do processo de fermentação, mais também a maior quantidade de fungos que serão carreados para dentro do silo.

Com a dificuldade na picagem, mesmo com aumento em carga de compactação, a silagem não atingirá densidade suficiente (por volta de 650 kg/m3), e sendo assim, a maior quantidade de poros existentes prejudicará a fermentação ou o consumo deste oxigênio remanescente prolongará a fase de respiração, o que poderá gerar maiores perdas.

Um fato importante de se comentar é de que a carga de fungos provenientes da lavoura “seca” terá sua ação sobre a qualidade da silagem, não somente no início do processo fermentativo (fase de respiração), mais principalmente após a abertura do silo, com a exposição da silagem ao oxigênio. O oxigênio será o “interruptor” de liga e desliga ou de inicia e pára, com relação ao desenvolvimento de fungos.

Assim, na Figura 1, a resposta para a maior temperatura na silagem mal picada é pela maior entrada de oxigênio para dentro do silo, o qual maximizou a crescimento da população de fungos presentes na forragem, estabelecendo a maior deterioração aeróbia da mesma.

A regra para obtenção de silagem de qualidade é o monitoramento constante do teor de matéria seca antes do início da colheita, respeitar a compactação no silo e principalmente, apresentar cautela no afiamento e revisão das facas que picam a forragem. Com pequenas observações, as chances em se obter silagem de qualidade são grandes.

 

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