Recentes relatórios de organizações ambientais atacam sensacionalmente a exploração pecuária na Amazônia e propõem a idéia de que a produção da carne bovina brasileira é obtida via desmatamento criminoso e trabalho escravo. Esta realidade subjetiva, criada como a luta do bem contra o mal, assalta nossa razão e, implacavelmente, ocasiona grandes prejuízos ao segmento como um todo e à imagem do País. Mas, com mente aberta e vontade de compreender, podemos mudar nossa percepção e enxergaremos uma outra realidade.
Recentes relatórios de organizações ambientais atacam sensacionalmente a exploração pecuária na Amazônia e propõem a idéia de que a produção da carne bovina brasileira é obtida via desmatamento criminoso e trabalho escravo. Esta realidade subjetiva, criada como a luta do bem contra o mal, assalta nossa razão e, implacavelmente, ocasiona grandes prejuízos ao segmento como um todo e à imagem do País.
Mas, com mente aberta e vontade de compreender, podemos mudar nossa percepção e enxergaremos uma outra realidade e não a que fomos condicionados a ver.
Para nossa reflexão podemos utilizar as seguintes informações do Doutor em Ecologia e chefe geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda, publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo, no artigo “Campeão de desmatamento” em 17/01/2007:
1 – Há 8 mil anos o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Hoje o país detém 28,3%;
2 – A Europa sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas do planeta e hoje tem apenas 0,1%;
3 – A África possuía quase 11% e agora tem 3,4%;
4 – A Ásia já deteve 23,6%, agora possui 5,5% e segue desmatando;
5 – Se o desflorestamento mundial prosseguir no ritmo atual, o Brasil – por ser um dos que menos desmatou – deverá deter, em breve, quase metade das florestas primárias do planeta. O paradoxo é que ao invés de ser reconhecido pelo seu histórico de preservação florestal, o País é severamente criticado pelos campeões do desmatamento e alijado da própria memória.
O estudo da Embrapa indica que apesar do desmatamento dos últimos anos mantemos 69% de nossas florestas primitivas, não criamos desertos e nos tornamos um dos líderes da produção agrícola mundial, implantando com continuados avanços técnicos uma agricultura e pecuária moderna além das áreas ocupadas com produtivos reflorestamentos de café, laranja, eucalipto, seringa, etc.
Posto isto, lembremos que o Brasil possui uma área total de 851 milhões de hectares utilizando para o agronegócio 282 milhões de hectares, ou seja, um terço da área e tem 463 milhões de hectares (54%) onde não se pode plantar por estarem ocupados com a floresta amazônica, reservas legais, centros urbanos, rios, alagados, estradas e outras destinações.
Então fica a questão: Será um mero acaso que levantamentos de organizações ambientais queiram imputar a três das maiores indústrias frigoríficas brasileiras a culpa por desmatamentos que foram realizados ao longo do tempo e que contaram com incentivos do próprio governo na busca de garantir a propriedade e estabelecer programas de desenvolvimento para uma área que ocupa mais de 40% do nosso território e apresenta a mais baixa densidade demográfica do mundo?
Entendo que este tipo de denúncia nada constrói. Ao contrário, destrói a imagem, frustra a expectativa e desestimula o empreendimento nacional em região que clama por programas de pesquisa científica e por projetos que oportunizem desenvolvimento social e econômico aliado as modernas técnicas de proteção ambiental.
Ao governo brasileiro compete a defesa de nossa indústria, de nossa produção, de nosso território e, é inadmissível que aceite a contínua prática de agentes internacionais que definem como criminoso qualquer projeto no Norte brasileiro até que se prove o contrário.
Não negamos que haja muito a ser feito e a melhorar, mas daí a denegrir genericamente processos e indústrias legalmente constituídas é uma incoerência desmedida e inaceitável. Não somos cegos, sabemos que num país com dimensões continentais e grandes desafios sociais, econômicos e ambientais ainda falta muito para que o “made in Brazil” alcance o conceito de bom e desejável.
Mas o momento é de reflexão crítica e o País está fazendo sua parte. Não existem mudanças boas ou más, somos nós que percebemos se são ou não são favoráveis. É o equilíbrio na balança dos parâmetros biológicos, econômicos e sociais que definirá a eficiência de nossa produção pecuária. E, no momento atual, diversos indicadores confiáveis que avaliam a bovinocultura brasileira demonstram que ganhamos produtividade, eficiência e conquistamos mercados para nossos produtos embora, sem trégua, sejamos alvo preferencial dos suspeitos interesses de algumas organizações não governamentais que tem como mote quebrar a confiança, provocar medo, retração e paralisar investimentos que promovam nosso desenvolvimento, nossa competitividade e nossa independência.
Agora é hora de fazer escolhas, pois a mesa está sendo posta. Ou aceitamos passivamente as ardilosas e estigmatizantes associações que se vêm criando entre pecuária e Amazônia, ou oferecemos novas premissas que possibilitem uma nova percepção e, portanto, uma nova realidade.
0 Comments
Caro José Luiz Martins Costa Kessler,
Parabéns.
Nada melhor do que a verdade bem exposta.
É exatamente o que nós da Amazônia queremos – a verdade.
Muito bom seu artigo, devemos difundir estes dados a outros orgãos de informação de nosso país e trabalhar para que todos estejam cientes deles, pois brasileiros nossos irmãos moradores de cidades estão gostando dessas medidas, acham que nos que moramos no campo somos culpados por tudo o que esta sendo divulgado na mídia de um modo geral, mas isso não é bem assim, o diferencial é que eles divulgam seus dados infundados e nos temos que correr atrás para desmentir, devemos nos antecipar e divulgar todos os dados comparativos com os países dos quais eles pertencem, quando eles tiverem suas casas devidamente em ordem, dai sim podem dar pitacos no nosso problema, temos muitos problemas, mas devidamente possiveis de nos mesmos os resolvermos.
José Luiz. O que está estabelecido, no meu entender: A dicotomia entre o Brasil que se estabelece como potencia mundial no setor de agronegócios e “ultima fronteira agriculturável do mundo” e o código de “ética” internacional criado para conter avanços indesejáveis e manipular mercados, do qual o Brasil faz parte e necessita. Tudo isto numa época em que se está conhecendo a fragilidade dos recursos naturais perante as mudanças climáticas.
O Brasil não pode ser reconhecido como país que preserva suas riquezas até por que não conseguimos regulamentar, de forma viável nossa legislação ambiental tão restritiva; temos, ainda, muitos interesses difusos nos trâmites dos processos legítimos. Nossa conciência como povo, como produtores, ainda é exploratória e extrativista e regida por regulamentações e não por respeito aos conceitos de sustentabilidade.
O que se vê é que o Brasil se desenvolveu muito tecnicamente nas últimas décadas e isto trouxe resultados efetivos que alteraram as relações de força no comércio internacional. Internamente foi iniciado um processo paulatino de contenção dos fatores de degradação do meio ambiente (práticas agrícolas, manejo do solo, etc..), mas quase perdemos o Bioma Mata Atlântica, que hoje se resume a algumas RPPNs. O avanço sobre o cerrado também foi feito sem critério algum e ainda hoje passa por dificuldades de implementação de manejo.
Talvez aqui esteja a encruzilhada de tua análise: Não somos como povo distruidores de florestas e isto pode ser bem visto nos números que apresentas, e a carne brasileira não é produzida unicamente nos contornos e interior da floresta amazônica, ao contrário hoje a agricultura é a atividade principal nestes ambientes. Esta generalização que as ONGs internacionais tentam passar mostra claramente o cunho econômico deste assunto. Está em jogo um processo no qual é preciso restringir significativamente o acesso ao mercado dos produtos agropecuários brasileiros, tendo em vista esta preocupação internacional de descompasso na balança comercial, na qual “eles” sempre ditaram as regras.
Cabe ao Brasil e especialmente aos setores ligados a pecuária de carne criar o contraponto de salvaguardas, de controles e de processos que identifiquem a procedência da carne brasileira e regulamentem o mercado com menor grau de prejuizo para os produtores, mas com preocupação ambiental. No entanto, baseado no fator cultural de nossas lideranças tenho muitas dúvidas que seja levado a bom termo. O trabalho também deverá ser realizado de dentro para fora, como forma de nos fortalecermos e para mudarmos esta imagem (produzida e real) perante o mundo. Abraço.
Prezado Eugenio Mario Possamai,
Muito obrigado por seu comentário. Entendo que este tema é muito oportuno e você propõe antecipar e difundir estas novas percepções para que a sociedade seja devidamente informada. Eu concordo inteiramente e imagino que nossas lideranças devam, com urgência, iniciar um plano estratégico de marketing. Penso que esta ação deva ser coordenada pela indústria (talvez a ABIEC) com intensa participação dos produtores pecuários (CNA, Associações de Raças). Também concordo que cabe a nós brasileiros, a nossa pesquisa principalmente, identificar problemas e propor correções de rota. Não considero que ONGS que promovem sensacionalmente denúncias pontuais sobre determinados segmentos mereçam o espaço que tem obtido na mídia brasileira por acreditar que suas ações não estão isentas de grandes interesses comerciais. Fraterno abraço, José Luiz Kessler.
Prezados amigos,
Para leitura encaminho a troca de observações com meu irmão (eng. agr.) João Paulo, sobre o artigo que escrevi para o BeefPoint.
Abraços,
José Luiz
Zé Luiz,
O que está estabelecido, no meu entender: A dicotomia entre o Brasil que se estabelece como potência mundial no setor de agronegócios e última fronteira agriculturável do mundo e o código de “ética” internacional criado para conter avanços indesejáveis e manipular mercados, do qual o Brasil faz parte e necessita. Tudo isto numa época em que se está conhecendo a fragilidade dos recursos naturais perante as mudanças climáticas.
Entendo que o Brasil não pode ser reconhecido como país que preserva suas riquezas, até por que não conseguimos regulamentar, de forma viável nossa legislação ambiental restritiva e inviável; temos, ainda, muitos interesses difusos nos trâmites dos processos legítimos. Nossa consciência como povo, como produtores, ainda é exploratória e extrativista e regida por regulamentações e não por respeito aos conceitos de sustentabilidade.
O que se vê é que o Brasil se desenvolveu muito técnicamente nas últimas décadas e isto trouxe resultados efetivos que alteraram as relações de força no comércio internacional. Internamente foi iniciado um processo paulatino de contenção dos fatores de degradação do meio ambiente (práticas agrícolas, manejo do solo, etc.), mas quase perdemos o Bioma Mata Atlântica, que hoje se resume a algumas RPPNs. O avanço sobre o cerrado também foi feito sem critério algum e ainda hoje passa por dificuldades de implementação de manejo.
Talvez aqui esteja a encruzilhada de tua análise: Não somos como povo distruidores de florestas e isto pode ser bem visto nos números que apresentas, e a carne brasileira não é produzida unicamente nos contornos e interior da floresta amazônica, ao contrário hoje a agricultura é a atividade principal nestes ambientes. Esta generalização que as ONGs internacionais tentam passar mostra claramente o cunho econômico deste assunto.
Está em jogo um processo no qual é preciso restringir significativamente o acesso ao mercado dos produtos agropecuários brasileiros, tendo em vista esta preocupação internacional de descompasso na balança comercial, na qual “eles” sempre ditaram as regras.
Cabe ao Brasil e especialmente aos setores ligados a pecuária de carne criar o contraponto de salvaguardas, de controles e de processos que identifiquem a procedência da carne brasileira e regulamentem o mercado com menor grau de prejuizo para os produtores, mas com preocupação ambiental. O trabalho também deverá ser realizado de dentro para fora, como forma de nos fortalecermos e para mudarmos esta imagem (produzida e real) perante o mundo.
Fugi um pouco do centro do assunto, mas é que há muitos aspectos interligados,
Abração,
João Paulo Kessler
Resposta do autor:
Estimado irmão João Paulo:
Em primeiro lugar quero cumprimentar-te por tão bem articulada forma de raciocinar e perceber. Parabéns! Muito bom mesmo.
Ressalvo porém, mesmo não discordando. que partes de uma percepção que o Brasil não preserva. Eu destacaria é que nenhum país preserva, modificam suas paisagens e transformam os ambientes na busca de renda.
Buscar explorar com equilíbrio é o cerne da questão. Manter tudo como antes é impossível e, onde for feito, tem que haver compensações via renda (créditos de carbono é uma idéia).
A questão das mudanças climáticas não tem obtido o consenso de que são recentes. Inúmeros trabalhos e observações comprovam que são históricas. Não estou tomando partido, apenas menciono o conflito de cientistas.
Sobre o Bioma Mata Atlântica, temos que lembrar do grande dano provocado pela ocupação urbana, bem mais significativo que o provocado pela agricultura. No cerrado tenho a idéia de que as modificações impostas em grande parte foram positivas e seus problemas bem mais fáceis de contornar.
Outro aspecto que entendo importante, é de que não se crie o paradigma de que não seja possível produzir carne e outros produtos na região amazônica. Não podemos ter um jardim botânico que ocupe mais de 40% do nosso território. Sou totalmente favorável aos processos com certificados de qualidade ambiental e social e almejo que sejam adotados para todos os produtos, não restrigindo-se aos da produção primária. Tem que ser para tudo, eletrônicos, texteis, energéticos, químicos, etc.
Feitas estas pequenas pontificações para nossa reflexão gostaria de repetir que achei brilhante teu aparte. Obrigado pela oportunidade de enriquecer minhas reflexões.
Abraço,
José Luiz