Por João Luís Mendo Trigo Chichorro Rodrigues1
Envolvendo-se no assunto
A naturalidade com que vivem os animais é determinada por fatores ambientais e hereditários. O meio ambiente é determinado por fatores físicos, químicos e biológicos que rodeiam os animais. Os componentes do ambiente, estão sobre o domínio da ecologia animal, com excessão dos alimentos fornecidos aos animais domésticos que são estudados em particular.
Assim sendo, a performance de um animal, quanto à sua capacidade produtiva, reprodutiva e até mesmo de sobrevivência, estará diretamente relacionada aos diversos componentes do ambiente a que o mesmo está submetido.
Assim sendo, pode-se dizer que os seres vivos têm três exigências fundamentais para que o seu desenvolvimento seja normal: disponibilidade de alimentos, segurança diante da possível agressão de outros indivíduos e adequação das propriedades físicas e químicas do meio envolvente com a sua constituição orgânica.
Por alimentos entendemos tanto o conjunto de substâncias químicas que necessita o organismo da cada indivíduo, quanto a energia requerida para cumprir com sua atividade biológica.
A vida de um ser depende, também, das defesas próprias da espécie e das que é capaz de desenvolver por sua inteligência diante do ataque de outros organismos muitas vezes microscópicos.
Nem a abundância de alimentos, nem a mais completa segurança são suficientes para que a vida do indivíduo se desenvolva normalmente.
Fica claro, que uma das funções do engenheiro agrícola é a de criar espaços, tanto interiores como exteriores, ajustados a normas de habitabilidade física, química e de segurança, determinadas pela necessidade dos indivíduos que os ocupam.
Estes conhecimentos, que comumente se apresentam sob o título de Condicionamento Térmico Natural tiveram um desenvolvimento relativamente recente, o que explica que não fazem parte, pelo menos com a extensão que seria necessária, dos currículos de formação profissional de faculdades e escolas voltadas à cadeia produtiva de animais, embora seja reconhecido que esta técnica tem uma enorme importância. A este problema soma-se o fato de que a bibliografia sobre o assunto pressupõe um conhecimento de física que os profissionais que trabalham na cadeia produtiva não possuem.
Esta série de artigos tem como objetivo reunir conhecimentos atualizados, a respeito das reações dos animais aos efeitos dos ambientes a que são submetidos, e preparar o leitor ao entendimento de informações que o mesmo venha a se deparar no futuro. Pretende-se promover discussões de alguns problemas ambientais e apoiar o desenvolvimento de soluções para estes problemas. Estes artigos, voltados especificamente aos problemas térmicos do bem estar animal, ao qual não é atribuído uma importância maior que às outras variáveis, sendo que esta apreciação dependerá tanto da função do espaço quanto da medida em que cada um dos parâmetros físico-químicos dos meio se afastam do nível ótimo.
O condicionamento térmico natural é uma técnica que estuda os métodos para que o espaço habitado apresente as condições térmicas exigidas pelo seres que o habitam, sem recorrer a nenhum tipo de energia própria. Temos três elementos principais, o meio, o animal e a envolvente. As inter-relações entre eles estão governadas pelos princípios da transmissão de calor. Ainda que seja somente sobre uma base conceitual devemos analisá-los, pois sua compreensão é necessária para ajudar a adotar decisões sobre a orientação e forma dos volumes e sobre a utilização racional dos materiais de construção. Esta técnica tem naturalmente grandes limitações: assim, se tivermos um volume, dentro do qual não há geração de calor, imerso num meio cuja temperatura se mantém durante vários dias consecutivos abaixo de 10oC, sem receber os raios do sol, não haverá solução alguma que faça ascender a temperatura interior por cima desse registro. O conforto térmico, nessas condições, só poderá se alcançado mediante equipamentos calefatores, ou por outros meios artificiais.
Cada unidade de produção animal é composta de um ambiente único e complexo, logo, devem-se considerar, para efeitos de estudos, os problemas individualmente.
Em busca de maior retorno financeiro e na tentativa de contornar problemas ambientais, os produtores e pesquisadores da área, tem conseguido encontrar soluções, relativamente recentes e inovadoras, nesta área, aliando-as ao uso de melhores alimentos, raças e manejos mais adequados. Neste sentido, devemos estar abertos a uma série de novas informações que irão ajudar-nos a compreender as condições de produção animal. Informações que poderão vir a ser mais importantes, a partir do momento em que os aspectos ambientais e de manejo animal forem tratados com a devida atenção.
Além destes fatores que incrementaram o desenvolvimento dos estudos do confinamento animal, podemos citar outros fatores que levaram os produtores a buscar novas soluções e melhorias em suas explorações, tais como: controle dos desperdícios; baixa eficiência econômica; dificuldade de mão-de-obra; variações acentuadas e críticas do meio ambiente natural; redução dos preços finais; aumento do consumo mundial, entre tantos outros fatores que poderiam ser citados. Além disso, os siclos sazonais também foram diminuídos, na produção de ovos, leite e carne, depois do advento do confinamento e do manejo ambiental.
Deve-se, entretanto observar as necessidades reais dos animais em confinamento, para tal, os produtores aliados aos engenheiros e pesquisadores, devem ter atenção, no referente à sua “habilidade” de reproduzirem em ambientes artificiais, todas as condições necessárias aos animais de se desenvolverem em sua plenitude e de modo a que os animais não venham a sofrer debilidades que não teriam em condições naturais, respeitando a habilidade de adaptabilidade de cada animal as condições adversas ambientais. Para tal é fundamental a percepção do estresse do animal.
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1 João Luís Mendo Trigo Chichorro Rodrigues é MSd. Engenharia Agrícola e Bem Estar Animal e sócio-diretor técnico da Mendes e Mendo, Engenharia e Projetos