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Análise das exportações de janeiro a julho de 2006

No período acumulado de janeiro a julho de 2006, as exportações de carne bovina somaram 816.917 toneladas, com receita cambial de US$ 2.042,214 milhões, entre categorias in natura, industrializada e miúdos. O volume total embarcado de carne bovina não foi muito superior ao mesmo período de 2005, com crescimento de 1,12%.

No período acumulado de janeiro a julho de 2006, as exportações de carne bovina somaram 816.917 toneladas, com receita cambial de US$ 2.042,214 milhões, entre categorias in natura, industrializada e miúdos. O volume total embarcado de carne bovina não foi muito superior ao mesmo período de 2005, com crescimento de 1,12%. Mesmo assim, a receita com as vendas no exterior cresceu 15,52% no período

Este resultado se deve a um aumento nos preços médios exportados nas três categorias, com destaque para a carne industrializada. Nesta categoria, o volume total embarcado, ao contrário da carne in natura e miúdos, teve aumento de 15,23%.

Apenas em julho, o total exportado nas três categorias foi de 139.914 toneladas, com receita cambial de US$ 355,980 milhões. Houve queda de 6,30% no volume embarcado em relação a julho de 2005 e crescimento de 8,66% na receita. Veja que a queda no mês de julho não significa que o desempenho das exportações foi fraco, pois, como já foi observado no artigo Análise das exportações no 1º semestre, ocorreu uma concentração do total exportado em 2005 durante os meses de julho e agosto.

A tabela 1 representa os valores e variações das exportações de janeiro a julho de 2006, nas 3 categorias.

Tabela 1. Exportações de carne bovina de janeiro a julho de 2006


O crescimento da receita de carne bovina industrializada foi de 41,39%, devido ao aumento no volume de 15,23% e 22,70% no preço médio. O crescimento na participação do mercado norte-americano no total exportado de carne bovina industrializada teve grande contribuição para o aumento do preço médio exportado. Este mercado absorveu 34% do volume e 44% da receita total exportados em carne bovina industrializada em 2006, contra 24,6% em volume e 31,9% em receita em 2005. De janeiro a julho de 2006, foram exportadas 39.179 toneladas (+ 58,54%), por US$ 165,129 milhões (+ 94,66%) aos EUA. O preço médio foi de US$ 4.215/tonelada, 29,4% acima da média geral (tabela 1).

Carne bovina in natura

As exportações de carne bovina in natura de janeiro a julho de 2006 ficaram um pouco abaixo do volume exportado em 2005 no mesmo período, mas com crescimento expressivo na receita, também garantido pelo aumento do preços médios exportados. No período acumulado, foram exportadas 651.542 toneladas, com receita cambial de US$ 1.596,977 milhões em carne bovina in natura. A queda no volume foi de 0,89%. Mesmo assim, a receita exportada cresceu 10,85%, com aumento de 11,85% no preço médio exportado, que foi de US$ 2.451/tonelada no período.

Apenas em julho, foram embarcadas 115.447 toneladas, com receita cambial de US$ 290,995 milhões (preço médio de US$ 2.521/tonelada). O volume exportado foi 10,04% inferior ao mesmo período de 2005, e a receita 4,66% superior, devido ao preço médio 16,34% superior. Em relação a junho de 2006, as exportações cresceram 7,23% em volume e 3,45% em receita. O preço médio recuou 3,53%.

A análise do período acumulado mostra um desempenho parecido do volume embarcado no ano, de janeiro a julho, em relação ao ano passado. Entretanto, os preços tiveram uma elevação significativa. Em maio deste ano, atingiram valor histórico, de US$ 2.636/tonelada, o que levou a um incremento importante na receita exportada.

Analisando as exportações por estado produtor, entre os principais, fica clara a perda de participação de SP, MS e PR para outros que estados não foram embargados por mercados importantes, como a UE. A tabela 2 mostra os número nos principais estados exportadores e o gráfico 1 mostra as variações em volume e receita das exportações de janeiro a julho, entre 2005 e 2006.

Tabela 2. Exportações por UF em 2006 (in natura)


Gráfico 1. Variação das exportações de janeiro a julho, entre 2005 a 2006 (in natura)


Os principais mercados para a carne bovina in natura brasileira são UE, Rússia e Egito, por ordem de receita exportada. Se considerarmos o volume embarcado, o Egito passa a ser mais importante que a Rússia no período acumulado. Acompanhe nas tabelas 3 e 4 as exportações para estes mercados.

Tabela 3. Exportações por mercado em 2006(in natura)


Tabela 4. Exportações por mercado em julho (in natura)


De fato, o Egito teve um crescimento excepcional, de 30,81% em volume e 44,84% em receita no período acumulado. O preço médio teve aumento de 10,73% no período. Para o diretor da unidade de carnes da Coimex Trading Company, Jerry O´Callaghan, este aumento nos preços médios, que ocorrem de forma geral e não só no Egito, deverão estabelecer um limite para as exportações. Sua expectativa é de uma redução do volume exportado ao Egito nos próximos meses, visto que os preços atuais da carne bovina in natura são pouco compatíveis com o nível de renda da população local. De acordo com a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Mapa, o PIB per capita do Egito é de US$ 1.251 (em 2005), enquanto o da Rússia é de US$ 5.165.

O crescimento da demanda por carne bovina no Egito é decorrente da necessidade de substituição da proteína de aves, após os recentes surtos de gripe aviária. A carne bovina se beneficiou do fato de os muçulmanos não comerem carne suína por questões culturais e religiosas. Entretanto, Jerry explicou que com preços altos na carne bovina, a de búfalos da Índia, alternativa mais barata de proteína animal, deverá substituir em parte essa demanda por proteína de origem animal. Veja no gráfico 2 a evolução das exportações para o Egito.

Gráfico 2. Exportações para o Egito (in natura)


Fonte: Secex/MDIC, elaboração BeefPoint

Considerando as exportações totais para a Rússia, a tabela 3 mostrou que a queda foi de 27,51% em volume e 15,51% em receita em 2006, até julho. Isso ocorreu principalmente pela queda na capacidade instalada para atender este mercado, visto que os principais estados produtores estão proibidos de exportar para a Rússia. Apenas em julho (tabela 4), as exportações caíram 69,22% em volume e 59,31% em receita. Em julho de 2005, o Brasil exportou o recorde de 49.132 toneladas, por US$ 96,559 milhões de carne bovina in natura à Rússia. Como referência, naquele mês a UE, que é tradicionalmente o principal mercado para a carne brasileira, importou 18.772 toneladas, e o máximo que a UE importou do Brasil entre 2005 e 2006 foi 24.449 toneladas, em maio deste ano.

Claro que, além da capacidade instalada e autorizada para exportação, existem gargalos logísticos que influenciam o desempenho, como período de congelamento dos portos e quantidade de contêineres disponíveis. Por esta razão, um desempenho regular seria mais desejável do que um pico de exportações como ocorreu em julho do ano passado. Isso previne a ocorrência de sobra ou falta de contêineres no destino ou na origem, como explicou Jerry.

De acordo com o Dipoa, existem no Brasil 76 frigoríficos habilitados a exportar para a Rússia (apenas 27 autorizados atualmente). Após o embargo ao MS em 11/10/05, o número caiu para 63. Em 13/12/06, foram embargados PR, SC, GO, SP, MG, MT e RS, e o número de frigoríficos autorizados caiu para 5. Em 04/04/06, com a liberação de RS passou a 12.

Em 19/02/2006 a imprensa nacional denunciou uma prática ilegal de emissão de certificados para exportação de estados embargados (clique para ver a notícia). Acompanhe a evolução das exportações de carne bovina in natura para a Rússia no gráfico 3.

Gráfico 3. Exportações para a Rússia (in natura)


A Rússia anunciou na semana passada a suspensão do embargo às importações de carne bovina do MT. Considerando que as exportações no MT tiveram crescimento de 143,8% em receita e 101,87% em volume, o fato deverá beneficiar ainda mais as exportações deste estado. Com essa notícia, o estado passa a ter 15 dos 27 frigoríficos no país atualmente autorizados a exportar carne bovina a este mercado.

Tabela 4. Plantas habilitadas por estado (in natura)


Para se ter uma idéia do potencial de crescimento das exportações no MT, é possível analisar o impacto da abertura do mercado russo para a carne bovina gaúcha, que tem 7 das 27 plantas (no momento da reabertura eram 12 no total) autorizadas a exportar à Rússia, de acordo com o Dipoa. De janeiro a julho de 2005, as exportações foram de cerca de apenas 76 toneladas, por US$ 110 mil. No mesmo período de 2006, as exportações deste estado saltaram para 24.186 toneladas, com receita de US$ 57,3 milhões.

De janeiro a julho de 2005, o MT exportou à Rússia 9.054 toneladas, com receita de US$ 17,295 milhões. Este resultado caiu 73,35% em volume, para 2.413 toneladas e 72,93% em receita, para US$ 4,682 milhões em 2006.

Tabela 5. Exportações para a Rússia por UF (in natura)


Em 2005, no período analisado, 91,94% do volume exportado pelo Brasil de carne bovina in natura para a Rússia foi atendido por SP, PR, MS e GO juntos, estados produtores hoje proibidos de exportar à Rússia. Atualmente este número caiu para 46,02%. Por outro lado, TO, RO e ES juntos saíram de 0,05% para 50,51%, principalmente devido ao crescimento das exportações no RS, que tem maior capacidade entre esses estados para atender o mercado russo. Hoje apenas o MT, RO, ES, RS e TO têm plantas autorizadas à exportar para a Rússia.

A demanda pela importação de carne bovina na Rússia também acena com boas perspectivas. As importações de carne da Rússia são distribuídas em cotas, das quais a UE detinha 78%. Com a obrigatoriedade de importação de carne da UE, que tem preços mais elevados, o governo russo negociou uma redução em mais de 50% com a UE, devido a preocupações com o abastecimento e com os preços internos. Uma notícia publicada pelo jornal russo Kommersant informou que a Rússia poderá buscar em outros mercados 150 mil toneladas em agosto e 83 mil toneladas em setembro, parte que caberia à UE antes do acordo assinado pelo Comissário para o Comércio, Peter Mandelson.

A habilidade de negociação das autoridades brasileiras, bem como a capacidade do setor produtivo em atender, e até mesmo se antecipar às exigências dos mercados nos requisitos de segurança dos alimentos e controle sanitário, terão papel fundamental para alavancar as exportações de carne bovina. Os números deixam claro o potencial existente por trás das barreiras às exportações para estes mercados, como a Rússia que foi discutida neste artigo.

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