O frio e as chuvas fora de época promoveram um ligeiro aumento na oferta de animais terminados em algumas praças. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, onde há alguns dias as programações de abate atendiam, em média, 3 ou 4 dias, os compradores agora adquirem animais para morrer 6 a 8 dias adiante.
No entanto, o mercado não está saturado a ponto de dar início a um novo movimento de baixa. Na verdade, observa-se certo equilíbrio entre oferta e demanda, mantendo os preços estáveis. Veja na tabela 1 as variações registradas para as cotações do boi gordo ao longo da última semana. Foram somente duas.
Tabela 1. Variações das cotações do boi gordo ao longo da semana
Rondônia é um caso a parte. Um único grupo frigorífico controla mais de 60% dos abates do Estado. Sem contar que o principal concorrente enfrenta uma crise e, ao menos por hora, interrompeu as atividades locais. Ambiente propício para a desvalorização da arroba.
Ainda assim, se considerarmos as variações ao longo do ano, as cotações de Rondônia não recuaram acima da média: 6,2% (RO) contra 9,3% (média). O “campeão” foi o Rio de Janeiro, com retração de 13% entre janeiro e maio de 2005.
Para o curto prazo, a tendência é que o mercado siga de lado. Porém, a disponibilidade de animais para abate deve começar a recuar gradativamente ao longo das próximas semanas. É o começo da entressafra.
O maior entrave à recuperação dos preços será mesmo o dólar baixo. Além do efeito direto, pois as cotações da arroba, como já foi demonstrado nesta coluna, estão atreladas ao dólar, a sobre-valorização do real tem prejudicado setores vitais para a cadeia produtiva da carne bovina, como o setor couro-calçadista.
Cerca de 70% do couro produzido no Brasil é negociado no mercado internacional. Portanto, o câmbio exerce forte influência sobre as margens dos curtumes. Do jeito que está, algumas empresas não têm conseguido sustentar as vendas.
Outras fazem o que podem para manter clientes e fornecedores. É o caso do Curtume Vitapelli, de Presidente Prudente (SP), maior do mundo instalado em uma única planta industrial. Em matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, o diretor-presidente da empresa afirmou que foi obrigado a dar férias coletivas a 40% dos funcionários e reduzir em 50% a produção diária do curtume.
Com base nas informações publicadas é possível estimar que as exportações do Vitapelli, em volume, representaram cerca de 12% de todo couro que o Brasil enviou para o exterior em 2004. O curtume é o terceiro maior exportador do país.
No Vale dos Sinos (RS), maior pólo de indústrias de couro e derivados do planeta, a crise também chegou com força. Algumas empresas paralisam por completo as atividades.
Como reflexo disso tudo, tem-se a desvalorização do couro verde (vendido pelos frigoríficos aos curtumes), como pode ser observado na figura 1.
Assim como acontece com o boi, as cotações do couro verde atingiram um dos patamares mais baixos da história, mesmo em valores nominais!! Vale lembrar que o couro é responsável por 10% a 13% do faturamento de um frigorífico.
O dólar baixo é realmente o grande vilão do desempenho do agronegócio este ano.