Ano novo, vida nova… mercado de lado. Preços estáveis em praticamente todas as praças pecuárias pesquisadas.
Em São Paulo os frigoríficos que abastecem exclusivamente o mercado interno, mais apertados, chegam a ofertar, pelo boi gordo (rastreado ou não), R$61,00/@, a prazo, livre de Funrural, o que equivale a R$62,40/@, a prazo, para descontar o imposto.
Já os exportadores sustentam, também a prazo, R$60,00/@ livre, ou R$61,00/@ para descontar o Funrural, sendo que já tem quem apregoe R$60,00/@ para descontar o imposto. Novamente o mercado aponta preços melhores para animais não rastreados. É o supra-sumo do contra-senso. Péssimo para a promoção do SISBOV, que já amarga uma queda brusca no número de adesões.
Boa parte dos compradores aposta num aumento de oferta ao longo dos próximos dias, em função do retorno gradual dos pecuaristas que saíram de férias. É isso que, em parte, tem encorajado a imposição de recuos em algumas praças. No entanto, a demanda por animais terminados também tende a aumentar, em função da retomada das atividades do frigorífico Margen, um dos gigantes do setor. Esse é um fator importante para a sustentação dos preços.
Para 2005, as expectativas apontam preços mais remuneradores aos produtores, já que em 2004 as cotações deflacionadas despencaram, conforme pode ser observado na figura abaixo.
O maior obstáculo a valorizações mais expressivas da arroba, sem dúvida nenhuma, é o dólar relativamente baixo. O Banco Central aponta algo próximo a R$2,75 nas proximidades do final do ano, mas alguns economistas acreditam que ele não sobe, podendo cair até R$2,50 antes do final do primeiro semestre.
Fazendo uma média entre as duas estimativas, o câmbio seria de R$2,63. Considerando uma arroba a R$66,00, por exemplo, seria o mesmo que US$25,10. Se isso fosse em São Paulo, seria, em dólares, a cotação mais alta dos últimos 7 anos. Vale lembrar que o mercado futuro aponta algo em torno de R$70,00/@ para o final do ano.
Os frigoríficos tendem a exercer forte resistência a fim de não deixar que a cotação da arroba alcance patamares tão “elevados”. A não ser que haja um aumento significativo dos preços da carne, tanto no mercado interno, quanto externo.
Internamente, apesar dos bons resultados alcançados pela economia brasileira ao longo de 2004, e do anúncio de um novo aumento real do salário mínimo, ninguém espera que a renda do trabalhador brasileiro evolua consideravelmente. Além do mais, há uma política clara de contenção de preços, visando a redução da inflação.
Com relação às vendas externas, a cotação média da tonelada equivalente carcaça de carne bovina brasileira exportada, em dólares, aumentou cerca de 17% de 2003 para 2004. Contudo, o movimento de alta, forte ao longo de todo o primeiro semestre, por conta de um mercado enxuto, esfriou a partir do segundo semestre de 2004.
Para que a carne bovina brasileira realmente alcance preços mais elevados no mercado internacional seria fundamental, entre outras coisas, a conquista de novos mercados, notadamente os que pagam mais caro, como Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul. Apesar de todo esforço que vem sendo feito nesse sentido, ninguém espera resultados expressivos para o curto prazo. Ainda mais diante da descoberta de novos casos de febre aftosa em território nacional (Pará e Amazonas) e de um sistema de rastreabilidade cada vez mais capenga.
Em síntese, vários fatores tendem a favorecer a valorização da arroba em 2005, mas os frigoríficos, caso sintam alguma ameaça, devem adotar estratégias para impedir uma redução significativa de suas margens. E ficou claro, ao longo de 2004, que eles têm como trabalhar nesse sentido.
Apesar do cenário ligeiramente mais otimista, o produtor não deve descuidar da gestão de custos, muito menos “bobear” durante as negociações. Realizar vendas a termo ou fazer hedge de parte da produção junto à Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) podem, em determinados momentos, consistirem em boas opções. É preciso, no entanto, acompanhar constantemente o comportamento do mercado.