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Análise semanal – 07/12/2005

Mercado frouxo, envolto em especulações. Os frigoríficos aproveitam a onda de “terror”, formada a reboque da confirmação de um caso de febre aftosa no PR e da possibilidade da União Européia ampliar os embargos à carne brasileira, para derrubarem os preços.

Hoje pela manhã a maioria dos compradores estava fora de mercado. Quem permanecia na ativa, apregoava valores exageradamente baixos. Para se ter uma idéia, foram apuradas ordens de compra, de balcão, para o boi gordo rastreado, a R$51,00/@ em São Paulo e R$45,00/@ no Mato Grosso do Sul, ambas a prazo, para descontar o Funrural.

Do ponto de vista de mercado, é perfeitamente compreensível que, diante da supervalorização do real e dos entraves às exportações, as indústrias (no caso os frigoríficos) busquem derrubar os preços da matéria-prima (no caso o boi) que, aliás, é o maior componente do custo de produção.

Mas parece que estão exagerando na dose. É um caso típico de “complexo de Banco Central” que, perseguindo a todo custo uma meta de inflação um tanto quanto ambiciosa, permitiu que os juros alcançassem a estratosfera, levando à estagnação do crescimento econômico.

No caso da pecuária de corte, os preços pagos aos produtores, já bastante próximos das profundezas abissais, devem comprometer a evolução da atividade ao longo dos próximos anos. Os sinais já estão aí: contenção de custos a ponto de comprometer necessidades básicas (como a suplementação mineral), redução de investimentos e descarte elevado de matrizes.

Assim funciona o ciclo pecuário. A fase de baixa promove um ajuste da produção, que irá sustentar a recuperação dos preços e, conseqüentemente, a retomada dos investimentos ao longo dos anos seguintes (figura 1).

Figura 1. Ciclos pecuários: boi gordo em SP – R$/@, a prazo, corrigidos pelo IGP-DI

Fonte: IEA / Scot Consultoria

No entanto, é preciso considerar que, em 2006, a economia mundial deve se manter aquecida, favorecendo as exportações, além de ser ano de eleição no Brasil. Mais dinheiro deve ser posto em cicurlação, permitindo que o consumo reaja. Caso os entraves relacionados à febre aftosa sejam rapidamente sanados, o Brasil pode enfrentar dificuldades um tanto quanto significativas para atender a demanda por carne bovina.

Projeções a esse respeito seriam mais facilmente elaboradas caso não houvesse carência de informações oficiais precisas e atualizadas. É, no mínimo, extremamente penoso estimar alguma coisa num país de dimensões continentais, com 40% de abate clandestino e que há 10 anos não realiza um censo agropecuário.

Veja só. Essa semana o IBGE divulgou que o rebanho bovino brasileiro cresceu aproximadamente 4,7% de 2003 para 2004, totalizando cerca de 204,5 milhões de cabeças.

Alguém me responda como isso é possível, se o próprio IBGE apontou que, de 2002 a 2004, enquanto o abate de bois aumentou 11,1%, o de vacas cresceu 87,7%. Fica claro e evidente que está havendo um intenso movimento de abate de matrizes. Portanto, biologicamente falando, não tem como o rebanho crescer. Correto?

0 Comments

  1. julio monken silva disse:

    É um ótimo momento para vendermos apenas o estritamente necessário.

    Só então vamos apurar qual é a realidade do tamanho do rebanho bovino nacional.

    Assim descobriremos quão real e quão “virtual” é este número.

    Atenciosamente
    Julio Monken
    Pecuarista e Engenheiro agrônomo

  2. MICHEL CURY disse:

    Mas até quando conseguiremos nos manter com esses preços tão baixos, será que alguém tem coragem de investir na pecuária hoje?

    Será que a união dos pecuaristas nunca existirá, mesmo sentindo na pele que sozinhos nunca conseguiremos nada nesse país.

    Neste momento estou sem palavras para continuar este texto, mas eu ainda acredito na pecuária brasileira.

    Obrigado pela atenção.

  3. Marco Aurélio Antunes Pereira disse:

    Caros Amigos,

    A pecuária é mais uma atividade que não tem controle ou supervisão em nosso país. Acredito também que os pecuaristas devam se organizar, pois só assim a atividade vai colher frutos melhores.

    Também acho impressionante o fato de termos que fazer nosso planejamento e demais previsões num país onde o censo é realizado a cada dez anos.

    Em dez anos uma atividade por mudar (uma região deixar de ser cafeeira para ser tradicional em grãos, uma região deixar de ser de pecuária extensiva para ser canavieira, etc). Além disso, o próprio mercado muda da noite para o dia…

    Precisamos de investimentos… Não gostaria de ver o governo mandando na minha atividade, mas ele poderia assumir a postura de um órgão regulador (mas para isso tem que estar preparado).

    Se ele assumir esse papel, fatos como os que estão acontecendo com a soja e a pecuária poderiam ter reflexos bem mais amenos para nós ligados diretamente na atividade.

    Um abraço a todos,

    Marco Aurélio

  4. Luiz Ribeiro Villela disse:

    Caro Fabiano;

    Preços de 1970 a 1995 três até quatro vezes maiores que de 1995 a 2005.

    Prova de que existe super oferta de bois, do Norte e dos confinamentos.

    A ‘Lei da Oferta e da Procura ‘ainda não foi revogada.

    Solução? Diminuir a produção urgente ou quebrar muita gente.

    Em tempo: a matança de vacas esta se mostrando claramente insuficiente para ajustar oferta e procura.

    Abraços

    Luiz

  5. Janete Zerwes disse:

    Caro Fabiano,

    Seu artigo traz à discussão, mais uma vez, a questão da falha do governo, na sua função de orientador econômico. O setor do agronegócio, que detém quase 40% do PIB do país, não recebe do governo, um direcionamento político e econômico para a produção.

    Não temos sequer, como muito bem diz você, um levantamento atualizado do rebanho bovino no país. Ficamos nós os pecuaristas, montando estratégias altamente negativas de represamento de gado dentro das fazendas, como meio de forçar um ajuste positivo para o preço da @.

    Fazemos coisas mais ou menos absurdas em termos macroscópicos, como foram feitas há dois anos atrás aqui no MT, pelo setor produtivo de soja, aumentamos em 10% a área plantada de soja, supervalorizando a terra, avançando sobre áreas de pecuária, deslocando mais uma vez, a pecuária mata adentro, com efeitos ambientais danosos.

    Nós produtores, pagamos preços pela terra, que só beneficiaram os especuladores imobiliários. Hoje o setor da soja está endividado, e a pecuária na situação que todos conhecem, em franca depressão.

    Talvez um estudo sério e profundo por parte do governo, formatasse uma política de produção, que orientasse o setor agrícola e pecuário, no sentido da diversificação de produção, fugindo da tendência à monocultura; quem sabe, devêssemos repensar a pecuária, em direção de uma redução de rebanho, deslocando a utilização de extensas áreas de pastagens degradadas, para outras atividades, como reflorestamento, por exemplo.

    Precisamos tecnificar o uso do solo de pastagens e a produção de carne, lembrando que represar gado encarece a produção de carne violentamente, reduzindo o lucro da atividade (cada dia a mais que um boi permanece no pasto, está sendo agregado um custo sobre o mesmo, e, reduzindo a oferta alimentar das categorias que vem atrás).

    Tomando como referência, o estado de MT, vemos que o maior percentual de desenvolvimento dos setores agrícola e pecuário, se efetivaram pelos esforços da iniciativa privada, temos a citar o exemplo do setor viário, estradas construídas em parceria, setor público e privado; geração de energia, entre outros.

    Concordo com você Fabiano, precisamos dados mais precisos. Com estes dados nós da iniciativa privada, talvez pudéssemos montar estratégias de políticas de produção, atreladas a mercados de consumo, evitando a rotina: super oferta X sub demanda.

    Abraço,

    Janete Zerwes
    Comissão de Produtoras Rurais – Federação da Agricultura de Mato Grosso
    Coordenação de Tecnificação e Pecuária