As cotações do boi gordo voltaram a recuar em algumas praças. No entanto, conforme esperado, o ritmo das retrações diminuiu bem. Ao longo da última semana os preços caíram em “apenas” 7 praças, conforme pode ser observado na tabela 1.
Tabela 1 Variações das cotações do boi gordo ao longo da semana
No Paraná, a redução significativa na oferta de gado promoveu, inclusive, uma recuperação dos preços. No Mato Grosso do Sul passaram a ocorrer negócios acima do preço referência. Em geral, o mercado tendia à estabilidade. Porém, dois novos fatores podem alterar o curso dos acontecimentos.
Primeiro, o Brasil suspendeu as importações de carne bovina industrializada para os Estados Unidos. Para se ter uma idéia do que isso representa, no ano passado os norte-americanos compraram cerca de 139,60 mil toneladas equivalente carcaça de carne enlatada, mais ou menos 24% do volume total exportado pelo país.
Tomando por base um peso médio de carcaça de 200 kg – considerando bois, vacas, novilhas, etc. – tal volume de carne equivale a aproximadamente 700 mil cabeças bovinas. É gado suficiente para abastecer um grande frigorífico por pelo menos 2,5 anos.
Em 2004 o faturamento com as vendas para os Estados Unidos foi de US$198,70 milhões, o que equivale, considerando a cotação do boi gordo em São Paulo (R$55,00/@), a 3,61 milhões de arrobas.
Os números assustam e preocupam. No entanto, é preciso considerar que foi o governo brasileiro que decidiu pela paralisação das vendas, a fim, justamente, de realizar as alterações solicitadas pelos norte-americanos. Como não houve embargo, e a expectativa é que tudo volte ao normal dentro de 3 semanas, os frigoríficos dificilmente se apegarão a esse fato a fim de aumentar as pressões baixistas sobre as cotações da arroba.
O problema maior hoje é, de longe, o dólar, que resolveu cair para perto de R$2,45, cotação mais baixa dos últimos 3 anos. Em função, principalmente, do aumento das exportações, as cotações internas do boi gordo estão fortemente atreladas à moeda norte-americana, conforme pode ser observado na figura 1.
Figura 1 Dólar (vezes 10) e arroba do boi gordo em SP – R$ nominais
Se o dólar cai, a tendência é que os frigoríficos busquem derrubar os preços do boi em reais, a fim de também segurar as cotações da arroba em dólares. Ao contrário, se o dólar sobe, as pressões baixistas sobre o boi gordo diminuem, e os frigoríficos cedem mais facilmente aos reajustes.
Veja, por exemplo, o que aconteceu em 2002. Na média entre abril e maio (safra) a cotação do boi gordo em São Paulo ficou em R$42,96/@. Já entre outubro e novembro (entressafra), a cotação média alcançou R$51,59/@, alta de 20%. Além da redução da disponibilidade de animais terminados, como tradicionalmente ocorre na entressafra, a cotação média do dólar, no período, reagiu 53%, saindo de R$2,40 para R$3,68.
Veja que o boi subiu em reais. Porém, em dólares, passou de US$17,90/@ (na média abril/maio) para US$14,02/@ (na média outubro/novembro), retração de 18%. Bom negócio para produtores e frigoríficos.
Já no ano seguinte, 2003, a diferença do preço médio pago pelo boi gordo na entressafra, em relação à safra, caiu para 11%. Foi quase a metade da observada em 2002. O dólar médio, nesse período, recuou 5%.
Hoje, o boi gordo em São Paulo vale algo próximo a US$22,40/@. É a cotação mais alta, para maio, desde 1998. No entanto, os R$55,00/@, considerando valores corrigidos pelo IGP-DI, é a cotação mais baixa desde meados de 1996.
Para outubro deste ano a BM&F aponta um boi próximo de R$62,50/@. Em reais, é pouco. Considerando, novamente, uma série de preços corrigidos pelo IGP-DI, seria o outubro mais baixo da história!! Para se ter uma idéia, em 1996, quando as cotações também estiveram bastante deprimidas, o boi gordo em São Paulo chegou a R$63,19/@ em outubro, até hoje a cotação mais baixa para esse mês.
No entanto, com base no câmbio atual, o boi de outubro de 2005 valeria algo próximo de US$25,40/@. Em dólares é a cotação mais alta registrada desde outubro de 1995.
Tal “distorção” da taxa de câmbio não tem beneficiado ninguém. Alguém, por favor, segura o dólar!!