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Análise semanal – 11/10/2005

Nas últimas 4 semanas as cotações do boi gordo, na média de 25 praças pesquisadas pela Scot Consultoria, reagiram 9,9%. Em São Paulo o reajuste foi de 18,0%. No Mato Grosso do Sul alcançou 13,1%.

A retração das ofertas de animais terminados, os preços relativamente altos da carne bovina comercializada internamente e o bom desempenho das exportações sinalizavam para um final de ano de mercado firme.

Mas veio então a confirmação de um foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Agora o mercado está tenso, envolto em especulações. Afinal, Mato Grosso do Sul detém o maior rebanho bovino do país (com mais de 20 milhões de cabeças) e, depois de São Paulo, é o maior Estado produtor e exportador de carne bovina. Aliás, em São Paulo são abatidos muitos animais sul-matogrossenses. Portanto, independente de quem é o primeiro ou o segundo, pode-se dizer que, junto com São Paulo, o Mato Grosso do Sul forma o motor da pecuária nacional.

O mais angustiante é que, infelizmente, a tragédia já era esperada. Afinal, os trabalhos desenvolvidos pela Defesa Sanitária têm se mostrado insuficientes para garantir a segurança dos processos produtivos num país de dimensões continentais como o Brasil. A falta de recursos engessa a eficiência da fiscalização, o que é deveras preocupante, principalmente em áreas de risco como a região de Eldorado – MS, próxima ao complicado Paraguai.

Vale lembrar que, ao menos até ontem, o Mato Grosso do Sul não havia recebido a verba a que tinha direito para ações de defesa sanitária em 2005. E já estamos em outubro! Agora o Ministério da Fazenda anunciou que vai liberar recursos de emergência. Será que o pessoal do governo alguma vez ouviu aquela máxima de que “prevenir é melhor que remediar”?

Mas… e agora José? O que esperar do mercado?

Difícil dizer. Primeiro, porque é semana de feriado. No Mato-Grosso do Sul então, é feriado hoje e amanhã. Paradeira geral. Depois, é preciso esperar pela reação dos compradores de carne brasileira. Haverá embargos? Por parte de quem? Para quais Estados? Só o MS? E para que tipo de produtos? Só quando se souber tudo isso é que será possível traçar um cenário realista para o comportamento do mercado.

A única coisa que se tem quase como certa é que os produtores sul-matogrossenses deverão sofrer um baque pesado. Dificilmente as restrições comerciais, por parte do mercado internacional, se concentrarão a uma área de 25 km ao redor do foco. Mesmo porque, internamente, Paraná, Minas Gerais e São Paulo já fecharam suas fronteiras para a entrada de animais vivos e carne in natura do Mato Grosso do Sul.

O fechamento de mercados tende a derrubar os preços internos. Acompanhe na figura 1 o que aconteceu com a arroba do boi gordo sul mato-grossense entre o final de 1999 e início de 2000, quando havia sido registrado o último foco de febre aftosa no Estado.

Figura 1. Defasagem do preço do boi do Mato Grosso do Sul em relação à São Paulo


Para as cotações dos demais Estados, não vale a pena, ao menos por hora, arriscar palpite. Na BM&F os contratos futuros despencaram, batendo limite de baixa. Portanto, está bem claro o que se passa na cabeça dos investidores.

Mas e se os prováveis embargos à carne brasileira se restringirem apenas ao Mato Grosso do Sul? Aí a tendência é de alta, principalmente em São Paulo, que abate muito gado sul-matogrossense.

Observe que a única coisa realmente clara, ao menos por enquanto, é que ainda não há muita coisa clara.

Mas é óbvio que, do ponto de vista do mercado internacional, a aftosa brasileira é um prato cheio para os nossos concorrentes, principalmente os europeus, que exercem um lobby velado contra a carne nacional.

Hoje discutem-se muito questões relacionadas à rastreabilidade e certificação de origem, bem-estar animal, tipificação de carcaças, etc. Tópicos importantes, é verdade, mas não mais do que a febre aftosa, que faz com que 61% do mercado internacional, em termos de faturamento, ainda esteja fechado para a carne in natura do Brasil.

E para resolver esse problema, não é preciso queimar muita pestana, discutir novos protocolos ou estudar tendências internacionais. Basta vacinar e fiscalizar. De forma eficiente e responsável, claro.

0 Comments

  1. Tarso de Oliveira Guimarães disse:

    Caro colega,

    O simples fato de se vacinar o rebanho, como tem sido colocado pela mídia, e em algumas declarações de alguns “especialistas”, não nos garante uma segurança a respeito do que estamos fazendo.

    Gostaria de lembrar que a defasagem do preço da nossa commodity inerente aos esforços realizados parece conto da carochinha.

    Agora, dizer que quase 30% de infestação do rebanho é única e exclusivamente devido à infectologia do vírus, é desconhecimento. Talvez esteja aí, nessa “falta de responsabilidade nossa”, a resposta para a inoculação da enfermidade em nossos rebanhos.

    O que eu queria dizer, é que estamos sendo acusados, de uma maneira em geral, sem direito de defesa, de algo que não foi comprovado. Acredito que se formos declarados inocentes, não partirá de nenhuma parte, um pedido formal de desculpas.