O mercado do boi gordo vinha trabalhando em ambiente equilibrado, mas aí veio a greve dos fiscais agropecuários federais para “bagunçar o coreto”. Alguns frigoríficos saíram do mercado. Outros seguiram abatendo, mas colocando carne em estoque. E teve quem, por meio de mandato de segurança, seguiu negociando normalmente.
O ambiente é de muita indefinição e especulação. Afinal, ninguém sabe até quando a paralisação vai se estender. Logo na segunda-feira, primeiro dia de greve, o governo havia anunciado que apresentaria uma proposta aos grevistas, confiante de que seria aceita. Até agora, 13 horas da quarta-feira (dia 17), nada foi resolvido.
O temor maior é que, em função da paralisação das exportações, ocorra um aumento da oferta de carne no mercado interno. Lembrando que devido ao fraco poder aquisitivo da população, contando com um “empurrãozinho” da Quaresma, o atacado já trabalha com sobra de mercadoria.
Ao longo da última semana somente a cotação do traseiro recuou R$0,40/kg, ou 9,5%. A defasagem do equivalente físico (48% traseiro + 39% dianteiro + 13% ponta de agulha) para a cotação da arroba do boi gordo paulista chegou a 19% (gráfico), ou 17% se tomarmos como base a cotação do boi não rastreado (que ainda tem por R$58,00/@, a prazo, para descontar o funrural).
E as ofertas de gado padrão exportação (rastreados) vêm se mostrando suficientes para atender a demanda. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) já existem quase 14 milhões de animais rastreados no país, com taxa de adesão próxima a 55 mil por dia.
Em relação ao início de 2003, quando apenas 1,5 milhão de cabeças faziam parte do sistema, houve um aumento de 800%. Mantendo esse ritmo de crescimento, serão mais de 29 milhões de cabeças rastreadas ao final de 2004. Assim, não há risco de desabastecimento, uma vez que a Scot Consultoria estima que este ano cerca de 7 milhões de animais devem ser abatidos para atender a demanda externa.
Com relação aos preços, no caso da greve ter um desfecho rápido, a tendência natural seria de preços mais firmes para o gado rastreado – uma vez que o mercado internacional está aquecido e a oferta desse produto, apesar de vir aumentando rapidamente, está mais ajustada – e frouxos para o não rastreado (quem exporta, mas ainda compra gado “comum”, sinaliza que a defasagem de R$2,00/@ pode aumentar).
No caso do problema com os grevistas se estender por um período prolongado, tem-se uma forte ameaça à sustentação dos preços da arroba, mesmo de animais rastreados, já que deve ficar muita carne em estoque e boi represado para morrer.