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Análise semanal – 22/03/2006

O mercado do boi teve uma semana de queda, mesmo com uma pequena valorização do dólar. O indicador da Esalq teve queda de 1,12% na semana, fechando o dia de hoje (22/03) em R$49,23 à vista. O indicador em dólar caiu 2,61% na semana, com valor de US$22,87. A cotação do dólar teve alta de 1,52% nos últimos 7 dias. A desvalorização do boi gordo, mesmo com a subida do dólar indica um mercado interno fraco, pressionado pelos preços em queda da carne de frango e período de final de mês.

A relação de troca segue diminuindo, com 4,6% de queda acumulada no ano. Em 02/janeiro a relação era de 2,51 bezerros por boi gordo (16,5@) e ontem estava em 2,41. É um indicativo (ainda frágil) da diminuição da oferta de bezerros e possível virada de ciclo.

O mercado futuro teve uma semana de queda, com o contrato de maio/2006 fechando 22/03 valendo R$49,81, menos 1,44% em sete dias e o de outubro valendo R$58,62, desvalorização de 1,94% na semana.

No mercado físico, a cotação média teve queda de 0,77% nas 24 praças pesquisadas pelo Instituto FNP. As principais reduções ocorreram no Noroeste de SP, Dourados/MS, Colíder/MT, Maringá/PR, Paragominas/PA e Cacoal/RO. As praças de Cáceres/MT, Triângulo Mineiro e Porto Alegre/RS tiveram reajustes positivos. O mercado da carne bovina no atacado não se alterou na última semana, com o equivalente físico estabilizado em R$ 44,67/@.


Exportações

Segundo dados da Secex, as exportações de produtos básicos cresceram 39,5% em março desse ano (três semanas) em relação ao mesmo mês de 2005, passando de US$ 103,6 milhões para US$ 144,6 milhões. Esse aumento das exportações foi gerado por produtos como: petróleo, minério de ferro, algodão, soja e carne bovina. Ainda não foram divulgados os números isolados da carne bovina, mas sabe-se que houve aumento em valor total exportado.

Argentina

A Argentina não deve modificar no curto prazo sua política de contenção da inflação. Na terça-feira, o governo suspendeu o comércio de bovinos no mercado de Liniers, principal local de negociação de bovinos para abate do país.

A Rússia quer que a Argentina flexibilize a suspensão das exportações de carne bovina, abrindo uma exceção ao país. Os russos compraram cerca de 200 mil toneladas da Argentina em 2005.

A medida tomada pela Argentina está favorecendo o Brasil, permitindo aumentar os preços no mercado externo e servindo como mais um fator de pressão para queda dos embargos a carne brasileira.

Embargos

Há boatos no mercado que a Rússia iria reabrir a importação dos estados do RS e SC em alguns dias. Dos seis estados autorizados a exportar para a Rússia apenas dois têm frigoríficos habilitados: Rondônia e Tocantins. De acordo com Abiec, há negociações avançadas com Argélia e Chile, e a perspectiva é que os três países retomem as compras de carne bovina no curto prazo.

O Chile é o único grande importador brasileiros que embargou o país integralmente. Hoje, o Chile compra carne do Uruguai, com preços mais altos. O Uruguai segue tendo os EUA como principal mercado para carne in natura, com preços mais altos que os pagos ao Brasil pelo Chile e Rússia por exemplo.

Gripe aviária

A gripe aviária está reduzindo o consumo de frango em diversos países do mundo, em especial na Europa. Essa diminuição do consumo de frango no mercado externo pode favorecer as exportações de carne bovina, como já indicado pela Abiec.

O excedente da produção de frango não exportada deve ser direcionada ao mercado doméstico brasileiro. Duas possíveis consequências podem ser elencadas: redução dos preços da carne bovina no mercado interno e aumento da diferença do poder de compra dos frigoríficos exportadores em relação aos que operam apenas no mercado interno. Dessa forma, mesmo com melhores preços internacionais, os frigoríficos conseguiriam comprar boi gordo por preços mais baixos.

Segundo dados da Jox Consultoria, publicados no Avisite, o quilo de frango vivo valia R$1,00 em 1o de março. Desde 17/03 (sexta-feira passada) está cotado em apenas R$0,70.

A oferta elevada (a preços muito baixos) de carne de frango no mercado interno poderá ter um efeito negativo superior ao do aumento das exportações, na cotação do boi gordo.

MP do Bem agrícola

A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) pleiteia junto ao governo federal a desoneração da venda de carne bovina no mercado interno, com isenção de PIS e Cofins, como já ocorre na carne exportada. O pleito está incluído na MP do Bem Agrícola. A equipe econômica do governo está reticente a aprovação dessa medida, pois geraria uma redução arrecadação de R$ 6 bilhões.

A redução de impostos pode estimular o consumo de carne bovina e aumentar a competitividade dos frigoríficos de mercado interno frente aos exportadores.

0 Comments

  1. Miguel José Thomé Menezes disse:

    Caro Miguel, gostei muito de seus comentários, pois têm abordado variáveis normalmente pouco discutidas em análises de mercado. Por outro lado, gostaria de fazer três comentários em relação a sua última análise semanal.

    1) Acho que a redução na relação de troca ainda não é o anúncio de virada de ciclo. Normalmente os comerciantes de gado de reposição sempre tentam segurar por um pouco mais de tempo o preço do boi magro, mesmo com o boi gordo em queda. Por esse motivo que os preços do bezerro e boi magro não variam tanto quanto o do boi gordo. Há 10 dias atrás o, boi estava a R$ 51,00 no Noroeste Paulista e nesse patamar de preços a relação de troca continua a mesma que era em janeiro. Sendo assim, acho diferença muito pequena para fazermos inferências sobre escassez de bezerro. Outro ponto a ser ponderado é que estamos na pré-safra de bezerros. A partir do mês que vem chove bezerro por aí.

    2) Acho que o impacto do frango é momentâneo, uma vez que um ciclo completo é de 60 dias e não de 4 anos como o do boi. O que vai haver logo logo, são férias coletivas em abatedouros de aves e, por regra de três simples, dado o fenômeno da integração nesse setor, os granjeiros deixam de colocar pintos na granja após os últimos abates. Nessa situação, o frango sai do mercado, os preços se normalizam e quem produz milho é que se prejudica. Em resumo, esse mercado se estabiliza muito rápido.

    3) Quanto à MP do bem, o problema não é a carência da lei em si, na verdade ela até pode ajudar o setor, desde a queda de tributos seja repassado ao longo da cadeia. No entanto, quem garante que isso será repassado ao consumidor? Até hoje o varejo ainda não repassou nada da redução de preço do boi ao consumidor, como pudemos ver em em sua análise semanal da semana passada.

    Continuarei acompanhando suas análises e espero que meus comentários sejam de alguma valia.

    Um grande abraço,

    Miguel Menezes.