Mercado morno, travado. Muitos frigoríficos, principalmente em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, paralisaram as atividades. A maioria dos que estão na ativa, trabalha bem abaixo da capacidade normal de abate.
Tudo porque ainda não se tem uma definição clara da extensão dos casos de febre aftosa. Enquanto redigia este texto, já haviam sido confirmados 12 focos no Mato Grosso do Sul e ninguém havia esclarecido nada sobre as suspeitas de casos em São Paulo e Paraná.
As informações eram de que as chances da doença ter se deslocado até São Paulo eram remotas. Os animais suspeitos nem apresentavam sintomas. Mas no Paraná as evidências apontam para o lado da encrenca.
É verdade que o Paraná responde por apenas 6% das exportações brasileiras de carne bovina, o que não é muito. Mas é um grande produtor e exportador de suínos, faz fronteira com Santa Catarina – que é o maior exportador de carne suína e não vacina seu rebanho há anos – e São Paulo, que responde por 60% das exportações de carne bovina.
Mesmo sem aftosa, será difícil derrubar os embargos às carnes paulistas já que o Estado pode estar cercado pela doença.
Diante de tantas indefinições, ninguém sabe muito bem que postura adotar. Nem frigoríficos, nem produtores, nem importadores, nem governos e nem os investidores da BM&F, que oscila entre limites de baixa e limites de alta. Uma bagunça.
Em São Paulo, no início da semana, os frigoríficos derrubaram as cotações do boi gordo para R$52,00/@, a prazo, para descontar o funrural. Vale lembrar que há pouco mais de 2 semanas o mercado estava firme, com preço referência em R$59,00/@ e alguns negócios a R$60,00/@.
A ação dos compradores paulistas promoveu algo inédito. Os preços de Minas Gerais e Goiás superaram os de São Paulo, como pode ser observado na figura 1.
Figura 1. Boi gordo nos últimos 30 dias – R$/@, a prazo, para descontar o funrural
De toda forma, por R$52,00/@ praticamente não se compra boi em São Paulo. Tanto que os compradores já aceitavam, no fechamento desta análise, pagar R$1,00/@ a mais. Ainda assim os negócios evoluíam muito pouco.
E o mercado deve mesmo reagir. Afinal, com embargos ou não, os frigoríficos precisam movimentar algum dinheiro, mesmo que os exportadores tenham que colocar boa parte da produção no mercado interno.
Com preços mais altos fora do Estado, não faz sentindo para os compradores paulistas buscarem gado em Minas Gerais ou Goiás. Mesmo o gado mato-grossense não compensa, pois a diferença de preços é mínima frente ao custo do frete. E do Mato Grosso do Sul e Paraná não pode vir gado em pé.
Entretanto, como o mercado está enxuto, principalmente em São Paulo, a cotação do boi gordo paulista terá que, pelo menos, alcançar as cotações das praças vizinhas. Ao que parece, o mercado só não firma novamente se a aftosa estourar em São Paulo.
0 Comments
Concordo plenamente com a analise feita pelo Fabiano Tito Rosa. O preço da arroba deve subir, já que os frigoríficos precisam comprar para manter uma atividade mínima. E, nesse preço da arroba, poucos ou quase nenhum pecuarista estará disposto a vender.
Mas essa situação se sustenta por pouco tempo, e a razão é simples. Da mesma forma que os frigoríficos precisam manter uma atividade mínima, os pecuaristas também precisam fazer frente aos seus compromissos, e não podem ficar sem a receita da venda dos animais por muito tempo. E se a oferta de bois voltar ao normal, a carne que seria destinada à exportação será redirecionada ao mercado interno, derrubando o preço.
Portanto, a grande questão é saber quanto tempo levará até que as exportações possam se normalizar. Enquanto isso, vejo tempos difíceis e muita pressão baixista sobre os preços da arroba.
É hora da cadeia esquecer suas divergências históricas e, junta, procurar a melhor solução, incluindo as autoridades sanitárias. Do contrário, perdem todos: pecuaristas, frigoríficos, o país e o mundo, já que a carne brasileira hoje é fundamental para o mercado internacional.