O futuro do SISBOV
28 de dezembro de 2004
Donos do Margen são soltos pela Justiça
30 de dezembro de 2004

Análise Semanal – 29/12/2004

Balanço do ano: variação dos preços

O telefone dos compradores tem tocado pouco nos últimos dias. Os produtores estão fora de mercado. Em geral, têm aparecido apenas lotes pequenos, pingados.

Onde as programações de abate encolheram em demasia, como no Triângulo Mineiro e Sul de Goiás, houve uma ligeira recuperação dos preços. Também foram registrados negócios acima do preço referência em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Pará.

Já onde a folga dos frigoríficos permanece acentuada (escalas longas), como no caso de algumas regiões do Mato Grosso, as cotações da arroba tornaram a recuar.

Contudo, de maneira geral, o mercado tem andado de lado. As alterações observadas aparentemente não sinalizam nenhuma tendência, refletem apenas situações particulares de oferta e demanda.

No balanço do ano, observa-se que os preços pagos aos produtores não evoluíram como esperado, conforme pode ser observado na tabela abaixo.

Tabela 1. Variações reais (deflacionadas pelo IGP-DI) e nominais das cotações da arroba em 2004 – janeiro a dezembro.


Fonte: Scot Consultoria

Somente na Bahia a valorização da arroba foi superior à inflação, graças à forte escassez de animais terminados observada neste final de ano. Lá não choveu bem ainda, portanto, não tem boi de pasto. E se não tem boi, são poucos os produtores que estão se beneficiando da arroba a R$64,00.

Os maiores recuos foram observados no Rio Grande do Sul, Paraná, Pará e Rondônia. Além do aumento significativo da oferta de animais terminados, destaca-se, no Paraná e em Rondônia, o problema da concentração dos abates em poucos frigoríficos.

No caso específico do Paraná, o Margen, que monopolizava as exportações, saiu de cena, direcionando a maior parte do gado do Estado para frigoríficos de pequeno porte. Uma rebarba tem ficado com os “grandões” de São Paulo.

Com relação aos preços recebidos pelos frigoríficos na venda da carne, as variações também foram negativas, conforme pode ser observado na tabela 2.

Tabela 2. Variações reais (deflacionadas pelo IGP-DI) e nominais das cotações do atacado paulista em 2004 – janeiro a dezembro.


Fonte: Scot Consultoria

As cotações da carne no atacado também variaram abaixo da inflação. Na comparação entre o equivalente físico e a cotação da arroba do boi gordo paulista, nota-se que os preços pagos aos produtores recuaram um pouco mais. Nada significativo.

Apesar da recuperação da economia, com crescimento do PIB em torno de 5% e redução do desemprego, as vendas de carne não reagiram a contento.

Os preços pagos pela carne bovina exportada também recuaram. Veja na tabela 3.

Tabela 3. Variações reais (deflacionadas pelo IGP-DI) e nominais das cotações da carne bovina exportada, em tonelada equivalente carcaça, em 2004 – janeiro a novembro.


Fonte: MDIC / Scot Consultoria

Na verdade, ao longo do primeiro semestre, os preços da carne bovina exportada reagiram, já que o mercado internacional estava enxuto, com o real em desvalorização. Alta, no período, de 21% para a carne in natura, 12% para a carne industrializada e 22% para o total ponderado (in natura+ industrializada), bem acima da inflação de 6% observada entre janeiro e junho.

Esse foi um dos fatores que ajudou a sustentar as cotações da arroba na safra de 2004, mas a valorização da carne exportada foi superior à do boi. Na região de Barretos (SP), por exemplo, a cotação média da arroba do boi gordo rastreado saiu de R$60,83 em janeiro para R$61,86 em junho, alta de apenas 2%.

Os preços internacionais da carne bovina, em dólares, praticamente se estabilizaram a partir do segundo semestre. Com a valorização do real, a margem dos exportadores diminuiu. Assim, tão logo tiveram oportunidade, derrubaram as cotações da arroba. Procedimento padrão.

Vale colocar que, apesar de ter caído ao longo do ano, a cotação média da carne exportada em 2004, em reais, superou em 14% a de 2003, isso tomando como base os valores nominais. Já o preço médio do boi gordo paulista reagiu somente 5% de 2003 para 2004, a mesma variação observada para o equivalente físico. Com inflação de mais de 10% no período, houve valorização real da carne exportada e desvalorização do boi e da carne no atacado.

Em síntese, as cotações da arroba, da carne exportada e da carne no atacado recuaram ao longo de 2004. Contudo, de 2003 a 2004 os exportadores foram agraciados com um aumento real dos preços. Produtores e frigoríficos de mercado interno não tiveram a mesma “sorte”.

Que ventos melhores soprem em 2005. Feliz ano novo!

Os comentários estão encerrados.