A diminuição da atividade ovariana observada em bovinos de corte após o parto está relacionada ao estímulo da glândula mamária promovido pelo bezerro e às interações mãe-cria. A importância da presença do bezerro, dos estímulos visual e olfatório na inibição da secreção de LH durante a fase de aleitamento, bem como a expressão da seletividade materna, foi verificada por GRIFFITH e WILLIAMS (1996).
O efeito provocado pelo estímulo da amamentação e a presença física do bezerro prolonga a duração do anestro pós parto (VIKER et al., 1989). O efeito depressor da amamentação é considerado o principal responsável pelo aumento do anestro pós-parto em fêmeas que não apresentam deficiências nutricionais. A intensidade, frequência e duração da amamentação têm sido consideradas como determinantes da duração do período de anestro pós-parto. Claramente, o intervalo entre partos aumenta com o aumento do estímulo da amamentação na glândula mamária.
Estudos demonstram que, somente quando a amamentação é restringida a um único contato diário mãe-cria, ocorre redução do intervalo parto-primeiro cio (DAY et al., 1987).
Em geral, na lactação, a alteração que ocorre na atividade reprodutiva é causada pela presença crônica do estímulo inibitório da amamentação sobre a liberação de gonadotrofinas, desenvolvimento folicular e ovulação.
A interação mãe-cria pode suprimir o estro e a ovulação mesmo não havendo o estímulo de amamentação (VIKER et al., 1989).
DISKYN (1997) analisando o efeito da mamada na duração do anestro pós-parto verificou que a restrição da amamentação a uma única vez ao dia durante 30 (trinta) minutos, levou a redução de 17 dias no período de anestro. Verificou também que as vacas que permaneciam totalmente isoladas de suas crias, sem contato visual nem auditivo, apresentaram redução ainda maior (28 dias) no intervalo do parto até o primeiro cio. Este fato permite concluir que, outros fatores além do estímulo tátil nos tetos, influem na inibição das atividades reprodutivas de fêmeas bovinas no pós parto.
Sendo assim, acredita-se que aspectos sensoriais como visual, olfatório e auditivo devem ser complementados pelo estímulo tátil na região inguinal, para prolongar o período de anestro pós parto. Este conceito está baseado na hipótese da presença de receptores sensoriais nos tetos e na glândula mamária, com ramificações capazes de modular as funções da hipófise e hipotálamo.
A elevação da frequência de liberação de pulsos de LH, ocorrendo após o desmame temporário ou desmame precoce, na terceira semana pós-parto, alcançou o pico ao redor de 96h, declinando após esse período para níveis semelhantes ao período anterior ao desmame (WILLIAMS, 1990).
Opióides endógenos
Os opióides endógenos são liberados no organismo em resposta a vários estímulos, como por exemplo, a amamentação. Algumas evidências mostram que os opióides endógenos liberados devido à amamentação, inibem a secreção de LH. Esses resultados demonstram que a secreção de LH pode ser inibida pela amamentação, através da liberação de opióides endógenos na circulação.
Os opióides têm sido responsabilizados por atuarem como inibidores endógenos de LH e estimuladores da prolactina. A administração de naloxone, um antagonista dos opióides endógenos, em vacas no pós parto levou a um aumento das concentrações de LH sérico (WISHNANT et al., 1986). Os mesmos autores observaram que a administração de naloxone em vacas nas quais o estímulo da mamada havia sido retirado não alterou as concentrações de LH sérico.
GREGG et al., (1986) utilizando injeções intra-venosas de nalaxone ou solução salina, observou um aumento na concentração de LH sérico após as injeções de naloxone em relação à solução salina. Também foram medidas as concentrações de prolactina que apesar de não se mostrarem alteradas tenderam a diminuir tanto com as aplicações de naloxone, quanto com as de solução salina.
Outros fatores que afetam a duração do anestro pós parto
Involução uterina
Durante a involução uterina ocorre grande produção de prostaglandina como parte do processo. A alta produção de prostaglandina atua prevenindo nova fertilização, e consequentemente promovendo regressão do corpo lúteo, no início do período pós parto, levando ao desenvolvimento de ciclos estrais de curta duração.
Presença do macho
A presença do macho diminui o período de anestro pós parto e o intervalo entre partos tanto em primíparas quanto em multíparas. Sabe-se que os sentidos visual, olfatório e auditivo atuam neste processo, porém outros mecanismos envolvidos na maior rapidez do retorno da atividade ovariana ainda não são conhecidos. (BELOSO et al. 1997).
Os ferormônios são substâncias químicas liberadas na urina, nas fezes e nas glândulas sudoríparas e são detectadas pelo sistema olfatório dos outros animais. Essas substâncias também fazem parte dos estímulos que são promovidos pelo macho.
Segundo ROBERTSON et al. (1991) a presença do macho diminui a idade à puberdade de novilhas. Vacas com baixa condição corporal, em contato constante com touros, apresentaram diminuição de 14 dias no anestro pós parto. Já as vacas com boa condição corporal tiveram uma diminuição de apenas 6 dias.
Idade ao parto
Vacas multíparas apresentam anestro pós parto menor do que as primíparas. Isso ocorre provavelmente devido a uma maior demanda nutricional das fêmeas primíparas, pois além de estarem amamentando ainda estão em crescimento, não conseguindo assim suprir totalmente as necessidades nutricionais para a volta da atividade ovariana. Essas fêmeas apresentam anestro pós parto aproximadamente 15 dias maior (DISKYN, 1997).
Distocias
Vários fatores como idade da mãe, sexo e peso do bezerro, tempo de gestação e cruzamento influem na ocorrência de distocias. Vacas primíparas têm mais problemas de distocias, e isso pode ser um dos agravantes no prolongamento do anestro pós parto.
Efeito do cruzamento industrial
A utilização de cruzamento industrial nos sistemas de produção também influencia aumentando o intervalo entre partos, devido ao fato de bezerros cruzados terem uma maior intensidade de mamadas. Essa maior intensidade de mamadas leva a uma maior inibição da atividade ovariana (BROWINING et al., 1996).
Sexo dos bezerros
O sexo dos bezerros altera o peso ao nascimento, o número de casos de distocias e o período de anestro pós parto. Bezerros machos nascem mais pesados, causam mais distocia e aumentam o intervalo pós parto de suas mães.
Ao analisarmos este fator devemos nos ater ao fato do peso médio de nascimento de machos e fêmeas da raça, pois existem raças que apesar dos machos nascerem mais pesados que as fêmeas não provocam distocias, não causando aumento na duração do anestro pós parto.
Referências bibliográficas
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