O gado continua circulando livremente na região afetada pela aftosa, em Eldorado, no Mato Grosso do Sul. Ontem, dezenas de vacas e bezerros estavam na Linha Internacional, a estrada que serve de fronteira seca entre o Brasil e o Paraguai. Uma pequena boiada estava solta a 6 km do rebanho suspeito de ter aftosa no município de Japorã. Os animais pastavam ao lado do marco número 337 da divisa. Vacas e bezerros se deslocavam sem destino pela estrada, com vários acessos livres, tanto para o lado paraguaio quanto para o brasileiro. Não havia ninguém cuidando das reses.
Outro grupo de animais estava solto na estrada, junto ao marco 554, a 28 km de Eldorado, onde um foco confirmado da doença já causou o abate de 582 bovinos.
Caminhões com cargas cobertas também circulam livremente na região interditada pela aftosa. Um veículo com placas de Eldorado, que poderia estar transportando bezerros, saiu da BR-163, município de Mundo Novo, cruzou a Linha Internacional e pegou a estrada de Palomas, já em território paraguaio. O veículo rodou cerca de 15 quilômetros até uma estância sem encontrar nenhuma barreira sanitária no trajeto.
Ao longo de 50 km da Linha Internacional, entre os municípios de Mundo Novo, Japorã e Iguatemi, que estão sob decreto de emergência sanitária, não havia qualquer barreira ou fiscalização na manhã de ontem.
Ontem, o ministro da Agricultura do Paraguai, Edgard Ruiz Dias, foi a um posto de fiscalização, instalado na rodovia de acesso a Salto de Guairá, na divisa com o Brasil. Soldados do Exército, portando ostensivamente fuzis e metralhadoras, apoiavam o trabalho dos agentes do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal na fiscalização dos veículos. Carros e caminhões eram fiscalizados e pulverizados com desinfetantes. “Temos de proteger nosso rebanho dessa aftosa que surgiu no Brasil”, comentou o ministro.
Ao ser informado que a poucos quilômetros dali gado e veículos brasileiros entravam no Paraguai sem fiscalização, Dias prometeu mais rigor dos assessores. “Em dois dias vamos cobrir toda a fronteira”, prometeu. “Não podemos baixar a guarda”, garantiu.
Os animais soltos são os chamados “gado de corda”, animais pertencentes a pequenos criadores, geralmente de assentamentos do Incra que, por falta de pasto, mantém o gado nas margens de estradas, presos por cordas. “Esses animais circulam demais e passam de um dono para outro, dificultando o controle. O risco de contaminação é maior”, admitiu um agente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro).
No assentamento interditado pelo Iagro surgiram ontem mais animais com sintomas da aftosa. O material coletado foi encaminhado ao laboratório nacional agropecuário, no estado de Pernambuco. Não há confirmação, mas os vizinhos têm certeza de que se trata da aftosa. “Tem gente descuidada, que deixa de vacinar o gado”, afirmou o criador Antonio Rovari. Impedido de vender os 60 litros de leite que tira por dia, o laticínio também está interditado, ele diz que muito gado vem do Paraguai. “Vem como gado vacinado, mas quem vai saber?”
No lado paraguaio, o administrador João Patrício de Melo, da fazenda Mata-Burro, repete o que lhe contaram assentados do Indiana. “Disseram que tem gente lá que pega a vacina e joga fora”. Mas ele defende os criadores paraguaios. “Aqui, a fiscalização vem ver se a gente está vacinando direito”.
Pelas contas da Iagro, apenas nas áreas dos assentamentos do Incra em Japorã e Novo Mundo circulam por mês de 600 a mil animais, tornando difícil o controle sanitário. José de Almeida Filho, do Assentamento Pedro Ramalho, município de Novo Mundo, diz que é injustiça responsabilizar os assentados. “São os funcionários da Iagro que vacinam nosso gado. Se fica animal sem vacinar, de quem é a culpa?”
Ele não solta o gado na estrada. Os animais são alimentados por capim que ele mesmo ceifa. A coordenação da Iagro em Eldorado garante que as áreas afetadas estão isoladas. A colocação de barreiras na fronteira deve ser feita pelo governo paraguaio para evitar possível entrada da doença em seu território.
Fonte: O Estado de São Paulo (por José Maria Tomazela), adaptado por Equipe BeefPoint
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Esta notícia retrata bem como nossos patrícios são irresponsáveis e que como o governo federal “brinca de fazer defesa sanitária”. Para os deputados votarem no presidente da câmara federal o Lula liberou 1,5 bi, e para a agropecuária, nada.
Se o foco tem origem no assentamento do MST, quero ver o MAPA , sacrificar todos animais.
Nestes momentos, o sentimento é de vergonha de ser brasileiro e de ter como vizinho uns patrícios irresponsáveis.
José Moglia
Médico veterinário
Sinop-MT
Prezado editor,
Como diz Boris Casoy, Isto è uma vergonha!
Sou veterinário e estou residindo atualmente na Nova Zelândia. Me sinto envergonhado com esse descaso com que é tratado o maior rebanho bovino comercial do mundo, o qual tanto todos temos nos gabado.
Sorte esse artigo não estar em páginas internacionais, as quais meus colegas aqui da N.Z. teriam fácil acesso.
Atenciosamente.
Ricardo Cauduro.