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Antenor Nogueira: Ações da CNA em prol da cadeia produtiva da carne bovina brasileira

Entrevista com Antenor Nogueira, presidente do Fórum Permanente de Pecuária de Corte

Antenor Nogueira é pecuarista e foi criador de gado de elite por muitos anos até 1995. Hoje, trabalha apenas com recria e engorda no norte do estado de Goiás. Foi presidente da SGPA (Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura) por muitos anos e vice-presidente da FAEG (Federação da Agricultura do Estado de Goiás). Em 1997, foi convidado para ser presidente do SINDIPEC (Sindicato dos Pecuaristas). Nesse mesmo ano foi convidado pelo presidente da CNA, Antônio Ernesto de Salvo, para ser presidente do Fórum Permanente de Pecuária de Corte, com o objetivo de acabar com as divergências entre o SINDIPEC e a CNA.

Nessa entrevista, o Sr. Antenor Nogueira falou sobre diversos temas com exclusividade ao BeefPoint, como problemas com frigoríficos, atuação da CNA e do Fórum, rastreabilidade e, finalmente, sobre a situação atual da cadeia da carne bovina brasileira.

BeefPoint: O que o Fórum Nacional da Pecuária de Corte tem feito para integrar a cadeia produtiva da carne bovina?

Antenor Nogueira: O Fórum tem várias atividades.

Trabalhamos muito em conjunto com o MAPA na defesa sanitária. Nós ajudamos os estados e o MAPA com recursos financeiros, pessoal e logístico. O Fórum tem hoje um fundo de defesa, formado por doações. Nós temos colaboração de algumas empresas que compõem o SINDAN e da BUNGE, além da verba da CNA. Essa verba nos possibilita fazer um trabalho de motivação de vacinação, compra de vacinas para áreas indígenas e para áreas de divisas do Brasil, e ajuda a realizar treinamentos. Nós atuamos em pontos onde é muito mais difícil a atuação do próprio MAPA.

BeefPoint: E a questão de classificação de carcaças? Qual é a situação hoje? Se houve falar sobre isso há muito tempo, inclusive com trabalhos científicos e, até hoje, não saiu do papel.

Antenor Nogueira: Nós tivemos recentemente um acerto com o MAPA, onde ficou já definido que vamos apresentar um plano de proposta para implantação do programa nacional de classificação de carcaças. O Fórum acredita que não podemos ficar ao bel-prazer dos frigoríficos, onde eles determinam que tipo de animal querem comprar, de acordo com a necessidade momentânea deles. É preciso que haja regras claras de peso, tipo do animal, e acabamento de gordura.

BeefPoint: Mas há um prazo para a implantação efetiva desse programa?

Antenor Nogueira: Nós temos um sinal verde do ministro da agricultura. Nos próximos dias, devemos estar nos reunindo com o pessoal do SIF e do DIPOA em Brasília, para tentar determinar definitivamente essa classificação de carcaças no país. Acredito que hoje existe uma vontade política do próprio ministro para que isso se torne realidade. Até o final do ano, já teremos isso implantado, para que em 2003 esteja já em funcionamento. Os classificadores seriam das entidades de classe, treinados pelo SENAR e pela EMBRAPA, sendo credenciados pelo MAPA.

Ao mesmo tempo, estamos finalizando, a classificação do couro, outra conquista do setor, onde teremos a remuneração deste produto para o produtor, provavelmente já no segundo semestre de 2002. Teremos classificadores treinados e credenciados, que serão contratados pelo produtor.

BeefPoint: O tamanho e a concentração dos frigoríficos é muito maior que a dos produtores. O que precisa ser feito para aumentar o poder de negociação do produtor?

Antenor Nogueira: Acreditar nas lideranças.

Eu acredito que as lideranças no Brasil, de um modo geral, mudaram muito. Hoje, estamos vivendo no tempo da internet, da informação em tempo real. Temos todas as condições de dar ao produtor informações fidedignas de mercado, tanto de mercado brasileiro como de mercado internacional.

Precisamos, na verdade, deixar de ficar na “lei do Gérson”. Sempre tem alguém querendo levar uma “vantagenzinha”. Quando sinalizo que há alguma tentativa de manipulação do mercado, por parte das indústrias, tentando uma queda de preços. O produtor precisa analisar as informações com cautela.

Quando houve o problema das supostas importações de carne da Argentina, quando os diretores dos frigoríficos brasileiros afirmaram que era preferível importar carne argentina do que comprar boi no Brasil, nós dissemos que isso era uma grande mentira. O resultado foi um recuo de oferta e os preços retomaram os patamares anteriores.

BeefPoint: Entre os pecuaristas, existe desconhecimento sobre ações que o Fórum faz em prol da cadeia da carne, que se revertem em benefícios para o produtor. Quais os frutos das ações do Fórum em 2001? Quais os próximos passos do Fórum, para a pecuária de corte, em 2002?

Antenor Nogueira: Fizemos tanto trabalho em 2001… o produtor também não procura saber…

Temos um programa de exportação de carnes, em conjunto com a ABIEC e APEX. Temos dados apoio nos acordos sanitários internacionais, para que possamos abrir novos mercados internacionais. Temos trabalhado muito no combate a aftosa. Só a CNA vacinou 1,5 milhão de cabeças na divisa do Brasil com a Bolívia, criando um anel sanitário. Isso é importante para proteger o circuito pecuário do Centro-Oeste, que é hoje o circuito pecuário mais importante do mundo. Treinamos médicos-veterinários e construímos postos de fiscalização nas fronteiras. Fizemos vacinação do rebanho indígena, que é função da FUNAI. Temos participado constantemente de todas as decisões do MAPA, inclusive, agora, no plano de safra de 2002-03 da pecuária bovina, em relação à. discussão de programas sanitários de países vizinhos. Também, estamos tentando fazer uma campanha publicitária de caráter institucional, mostrando a realidade da carne vermelha, que não é a que muitos médicos por aí dizem que é. Tenho citado aquele artigo do Dr. Dráuzio Varela, em que ele escreve que, até hoje, a ciência ainda não conseguiu provar que dieta rica em gordura animal provoca ataque cardíaco ou encurta a vida.

Estamos fazendo um trabalho em parceria com o CEPEA/ESALQ/USP, preparando um acompanhamento detalhado da pecuária nacional, onde poderemos fornecer ao produtor informações melhores e em maior quantidade. Teremos informações como: variação de preços de carne, de insumos, custos de produção de diferentes regiões e diferentes sistemas de produção.

BeefPoint: Quais são os próximos passos? Quais as mudanças que precisam ocorrer no curto prazo?

Antenor Nogueira: Acabar com diferenças de peso nos frigoríficos. Também estamos tentando criar o sistema de seguro de crédito para a cadeia da carne bovina, protegendo o produtor de frigoríficos que, da noite para o dia, paralisam suas atividades.

BeefPoint: O que tem sido feito para se prevenir isso?

Antenor Nogueira: É preciso criar um cadastro nacional de frigoríficos, informando ao produtor quem é o dono, se está no nome dele, qual é a situação de cada frigorífico. Isso não é fácil de ser feito, pois há algumas questões jurídicas. Nós já conversamos com juristas e não é uma questão muito fácil. Com respeito aos problemas de peso na balança dos frigoríficos, é algo mais fácil de resolver. Existem algumas possibilidades que estamos estudando para solucionar esse problema que é comum no Brasil.

BeefPoint: A contribuição para a CNA é motivo de controvérsia para muitos produtores. Qual a postura em relação àqueles que consideram o pagamento desnecessário?

Antenor Nogueira: Eu tenho tristeza, pois até os pequenos produtores e assentamentos fazem contribuições para os órgãos que os representam. A importância paga é tão irrisória, criando condições para que possamos exercer a representação no Brasil inteiro. Não é possível fazer um bom trabalho sem condições mínimas.Para se realizar todo esse trabalho são necessários técnicos, economistas, juristas, para defender e discutir leis e questões sobre meio-ambiente, invasões, estatuto da terra. Para que isso ocorra, é necessário que o produtor se conscientize que existe um órgão nacional que está lutando para protegê-lo.Questões como a obrigatoriedade da rastreabilidade são difíceis de ser combatidas. É preciso ter técnicos que acompanhem todos os projetos de lei que influenciam o setor agropecuário brasileiro. É uma estrutura que não se faz com poucas pessoas. Sem essa contribuição, é impossível de ser feita.Não podemos viver como antigamente, apenas apagando incêndios.

BeefPoint: Qual tem sido a postura em relação aos produtores que se recusam a pagar?

Antenor Nogueira: Nós temos feito todo o possível para mostrar ao produtor o sentido, a necessidade de pagar essa contribuição. Em nenhum momento há o objetivo de executar ou protestar algum produtor que se recuse a pagar. Queremos que o próprio produtor veja que é importante contribuir.

Quando o MST reúne, por exemplo, 15 mil pessoas na frente do Palácio do Planalto, eles não foram do “bolso deles”, não… Eles criaram condições para estar lá. Quando nós fizemos o “caminhonaço”, tudo foi coberto por esses recursos e isso foi uma demonstração de força.

BeefPoint: Como o senhor vê a formação de líderes do setor rural? O que está sendo feito para que surjam novas lideranças? Não há uma carência de novos líderes?

Antenor Nogueira: No caso do fórum, temos dado força para todas as lideranças. Hoje estou lá, mas amanhã não estarei mais. É preciso que quando sair tenha quem dê continuidade a todo esse trabalho que está sendo realizado.

Da mesma forma, estão sendo criados órgãos dentro da CNA, substituindo as comissões, como por exemplo o Fórum da Equinocultura brasileira, que está sendo criado. Está sendo também formado um fórum para o setor de grãos e oleaginosas. O presidente da CNA criou há pouco tempo o programa Brasil Rural, para trazer todas as entidades de classe ligadas ao setor agrícola e pecuário do país.

Rastreabilidade

BeefPoint: Qual o posicionamento da CNA em relação às normas e exigências de rastreabilidade?

Antenor Nogueira: Há algumas coisas das quais a CNA não abre mão. Por exemplo, que a rastreabilidade seja voluntária. Recebi há poucos dias atrás telefonemas de alguns frigoríficos, solicitando a possibilidade de que fosse obrigatória. Como dizia o ex-ministro Magri, isso é “imexível”. Só com a possibilidade de ser voluntária é que o produtor poderá negociar um bônus, um prêmio pelos animais rastreados.Ainda continuo defendendo que, mesmo em 2007, continue a ser voluntária. Todos os países do mundo que exportam carne bovina têm a rastreabilidade como voluntária. Não há motivo para “engessarmos” o produtor brasileiro.

Outro ponto que exigimos e que foi mudado no projeto é que o credenciamento é da propriedade rural e não do produtor. Por que isso? Assim o produtor pode ter mais de uma propriedade e fazer rastreabilidade apenas na que escolher, ao mesmo tempo que pode querer fazer apenas em um retiro da propriedade.

Outro ponto que defendemos é que uma coisa é rastrear, outra é o método de identificação desses animais. Tem muita gente querendo vender brinco, vender chip, etc. O produtor vai usar aquilo que lhe convier. Se quiser brinco, ou chip, ou marca à fogo, ou tatuagem, não há problema, desde que atenda aos requerimentos para uma certificação precisa.

BeefPoint: Os animais de sua propriedade já estão rastreados?

Antenor Nogueira: Estão sendo. Nos próximos 15 dias todos meus animais estarão rastreados e aptos a terem a carne exportada para a Europa.

BeefPoint: Como funciona a parceria com a Planejar? O que isso vai trazer de benefício ao produtor?

Antenor Nogueira: O Fórum assinou um contrato de prestação de serviço com a Planejar, onde a empresa vai prestar o serviço para as federações de agricultura e para as associações que desejarem. Não é obrigatório aderir a esse contrato, mas é um contrato que tem uma série de vantagens para as entidades de classe.

BeefPoint: Qual vai ser a vantagem dessa parceria para o produtor?

Antenor Nogueira: Vai minimizar custos. Esse é o principal motivo. Em torno de R$ 1,00 por bovino, uma vez na vida. Isso vai minimizar o custo dos sindicatos rurais e das associações de classe ligados ao Fórum. É bom frisar que todas as entidades de classe ligadas ao fórum podem entrar nesse projeto.Nós vamos iniciar o treinamento e a demonstração de como funciona o sistema. Em Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso isso começará a ocorrer já nessa semana.

BeefPoint: Qual é a maior ameaça da pecuária hoje?

Antenor Nogueira: A maior ameaça nossa ainda continua sendo o problema sanitário. A rastreabilidade não deixa de ser uma nova barreira. Quando tivermos tudo pronto e implementado, surgirá uma nova exigência. Os problemas de saúde pública estão sendo cada vez mais discutidos. Nós devemos estar permanentemente atentos para perceber as mudanças nos outros países e nos adequarmos a essas mudanças.Além disso, temos que estar atentos e lutar contra o protecionismo. O Brasil tem apenas 5.000 toneladas de Cota Hilton, enquanto a Argentina tem 28.000 e vai ganhar mais 10.000 esse ano. Temos problemas de protecionismo com os EUA e Europa. Temos também que abrir novos mercados.

BeefPoint: O senhor está confiante na pecuária de corte no segundo semestre de 2002?

Antenor Nogueira: Sem dúvida. Nós temos tudo para crescer. Nós temos potencial para ser o maior exportador de carne do mundo. Por mais que os outros países coloquem barreiras, que dêem subsídios, não é possível competir com nosso custo de produção. Nós temos um sistema a pasto, com custo muito menor.O preço do boi vai provavelmente rear a partir de julho. Nós já estamos vendo parcerias de produtores com frigoríficos, em alguns casos até com compra antecipada, para que se previnam desse aumento.No ano passado, muito gado foi vendido. Esse ano, provavelmente vai faltar boi. Eu recomendaria segurar o boi no pasto por mais tempo.

BeefPoint: Qual a mensagem que o senhor manda para os produtores brasileiros?

Antenor Nogueira: União. Nós precisamos estar mais unidos. Precisamos deixar as vaidades de lado. Eu não mando em nada. Quem manda somos todos nós. Precisamos dar força a todas as lideranças.Apesar do descontentamento generalizado, as coisas estão melhorando. A união entre os produtores deve se estender a todos os estados brasileiros. Assim, poderemos ter uma única e forte voz.

0 Comments

  1. Paulo Roberto Gomes de Almeida disse:

    Gostaria de parabenizar o BeefPoint pela feliz entrevista com Antenor Nogueira, presidente do FNPC. Muito importante que continuem dando oportunidade as lideranças ligadas a CNA, entidade máxima de representação da pecuária e agricultura internacional, afim de que o maior número possível de pessoas interessadas nos assuntos de agropecuária , se interem do trabalho árduo exercido pelos sindicatos, federações e confederação.