A chance do consumidor brasileiro comer carne contaminada pelo Bacillus anthracis, a bactéria que está causando pânico nos EUA, é praticamente nula, segundo especialistas.
O carbúnculo hemático, doença causada pelo antraz, é raro no Brasil. Nos últimos cinco anos, segundo o Ministério da Agricultura, apenas 31 focos ocorreram no país, a maioria deles na região Norte. O rebanho bovino brasileiro é estimado em 160 milhões de cabeças.
“É improvável que alguém venha a comer carne de animais vitimados pelo carbúnculo hemático. O animal fica com um aspecto horroroso e o odor é muito desagradável”, diz o professor do Departamento de Medicina Veterinária e Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), Silvio Vasconcellos de Arruda.
Para se infectar, é preciso ingerir carne contaminada quase crua, acrescenta o professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, Pedro de Felício. “Se o alimento for frito ou cozido, a bactéria morre”, diz. Segundo ele, a carne de animais vitimados pelo carbúnculo hemático nem chega ao consumidor. “Os bovinos infectados morrem rapidamente e não são levados aos matadouros.”
O antraz, que foi convertido em arma pelo terrorismo, ataca bovinos, equinos, caprinos e ovinos. Embora seja uma doença rara no rebanho brasileiro, os fazendeiros temem que o pânico gerado pelo bioterrorismo possa afetar a imagem da carne bovina, já abalada pelo mal da vaca louca na Europa e, mais recentemente, pela volta da febre aftosa ao Rio Grande do Sul. “Estão confundindo alhos com bugalhos. E isso pode comprometer o marketing da carne”, reclama o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Nelore, Carlos Viacava.
O professor Arruda, da USP, diz que a vacinação dos animais contra o carbúnculo hemático é desnecessária, exceto em áreas de risco, como nos campos úmidos de algumas regiões do Norte do país. “Também não se deve fazer a necropsia das carcaças de animais vitimados pela doença para evitar que a bactéria, pela pressão ambiental, passe da forma vegetativa para a de esporos, tornando-se altamente resistente e de fácil disseminação. Os cadáveres devem ser enterrados ou cremados”, afirma Arruda.
A necropsia de cadáveres de bovinos contaminados foi responsável pelos raríssimos casos de antraz em seres humanos no Brasil. Segundo o infectologista, também professor da Universidade de São Paulo (USP), Vicente Amato Neto, “Em 50 anos de carreira, só atendi dois pacientes infectados pela bactéria e na forma cutânea, a menos perigosa. Os dois eram veterinários e tinham realizado necropsias em bovinos”
Fonte: Agrofolha (por Bruno Blecher e Sebastião Nascimento), adaptado por Equipe BeefPoint