A confirmação dos primeiros focos de gripe aviária em aves silvestres no Brasil balançou o setor de frigoríficos na B3 e, inicialmente, derrubou as ações das exportadoras de frango. Mas ao contrário do que se esperava, desde então, os papéis das quatro maiores empresas de carnes do país acumulam alta, puxados sobretudo por sinais de melhora em suas margens operacionais – se a doença permanecer sob controle.
Levantamento do Valor Data mostra que, no acumulado do dia 15 de maio até quarta-feira, as ações ON da JBS marcaram alta de 9,21%, as de Minerva ON subiram 10,24% e Marfrig ON ganhou 5,90%. A BRF liderou os ganhos nesse intervalo com 19,15%, porém, seus ativos foram beneficiados pelo anúncio de uma injeção de capital de R$ 4,5 bilhões pela Marfrig e o fundo saudita Salic.
O movimento positivo das quatro empresas inverte perdas que vinham se arrastando desde o início de 2023. Segundo o Valor Data, JBS recuou 26,6% no ano até 12 de maio, último dia de negociações na bolsa antes do anúncio da chegada da influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) pelo Ministério da Agricultura. Nesse período, Minerva perdeu 22,35%, Marfrig teve baixa de 24,6% e BRF acumulou redução de 10,51%.
“Até abril, tivemos um cenário macro, tanto para beef quanto para frango, muito ruim”, disse Rafael Passos, analista sócio da Ajax Asset, citando fatores como o embargo temporário de exportações de carne bovina do Brasil para a China, o alto custo do gado nos Estados Unidos e a queda de preços no mercado global de frango.
A divulgação de balanços dessas empresas em maio foi mais um item negativo para as ações na primeira quinzena do mês. Mas, a sinalização dada pelos executivos sobre os resultados foi unânime: o pior havia ficado para trás e havia uma promessa de recuperação gradativa, que tenderia a se intensificar no segundo semestre.
De fato, as ações começaram a reagir da segunda quinzena de abril em diante contando, primeiramente, com uma recuperação das perdas já sofridas. “Essa melhora recente vai em linha com a melhora que tivemos no Brasil para ativos de risco (…) No curto prazo, ainda podemos ter realização (de lucros)”, disse Passos.
Além disso, a expectativa é de reação para os mercados de carne bovina e de aves, desde de que a gripe aviária não se espalhe pelas granjas comerciais.
A queda nos preços dos grãos é o ponto comum favorável às duas cadeias, visto que insumos como milho e farelo de soja são usados na alimentação de aves e suínos e do gado em confinamento.
Para Thiago Duarte e Henrique Brustolin, do BTG Pactual, os preços dos grãos continuaram a cair no Brasil devido à safra cheia e restrições logísticas, que levaram os custos médios de ração na avicultura a recuar 13% na variação mensal e 34% em base anual. “Isso permitiu que os spreads de exportação aumentassem 19% m/m, e agora ficassem 9% acima do histórico, o maior em mais de 3 anos”, disseram em relatório.
“Enquanto a oferta de aves puder se manter equilibrada, acreditamos que custos mais baixos podem desencadear o processo de recuperação de margem que os players de aves tanto precisam”, acrescentaram.
Sobre os bovinos, o especialista da Ajax comentou que a expectativa é favorável, seja por uma melhora gradativa de oferta que se desenha nos EUA – onde JBS e Marfrig têm operações – ou por uma normalização nos fluxos de embarque de carne do Brasil à China, maior compradora da proteína. Entre fevereiro e março, as vendas à China foram suspensas por um caso atípico de “vaca louca” no Pará.
Após embarques da proteína ainda patinando em abril, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as exportações brasileiras de carne bovina in natura cresceram 10,6% em maio, sobre igual período de 2022, para 168,5 mil toneladas.
Nesse contexto, os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, do Itaú BBA, têm perspectivas mais favoráveis para JBS e Minerva, e neutras para BRF e Marfrig, com o risco da influenza.
Fonte: Valor Econômico.