O alívio demonstrado pela cadeia produtiva da suinocultura com a reabertura do mercado russo para a carne gaúcha não foi compartilhado pelos frigoríficos do Rio Grande do Sul que abatem bovinos. As indústrias do Estado que trabalham com suínos retomaram as remessas assim que os embarques foram liberados. Já o frigorífico Extremo Sul S.A., de Capão do Leão, a única planta gaúcha habilitada a exportar para a Rússia, ainda não fechou nenhum negócio para o mercado agora reconquistado, embora exista interesse de importadores. O diretor da unidade, José Alfredo Knorr, revela que o entrave, agora, está nos preços que os russos estão dispostos a pagar. Preferindo não falar em cifras, Knorr diz que os valores são entre 10% e 15% inferiores aos obtidos pelo frigorífico nas vendas para a Europa. “A Rússia sempre comprou carne mais barata. Mas daqui a pouco pode sair negócio”, pondera Knorr, lembrando que o mercado internacional é dinâmico. Mas, mesmo enquanto o Estado esteve liberado para negociar com os russos, antes do reaparecimento da febre aftosa, não foram registrados embarques.
Mesmo que não exista entusiasmo com a liberação das exportações de carne bovina, dois outros frigoríficos do Rio Grande do Sul mostraram interesse em exportar para a Rússia. A possibilidade, entretanto, depende da vinda de uma missão técnica do país ao Estado, algo ainda sem previsão. “É sempre bom estar habilitado a exportar para outros mercados. Os preços a gente pode vir a negociar”, lembra a assistente de Exportação do General Meat Food Exportação e Importação Ltda, de Santana do Livramento, Liane Cordeiro. Hoje, para o mercado externo, a unidade envia apenas carne enlatada para o Caribe e Inglaterra. Liane revela que também existem negociações para enviar cortes nobres para Portugal. Como o frigorífico esteve parado durante grande parte de 2001 devido ao reaparecimento da febre aftosa, a planta ainda está em fase de recuperação do ritmo normal de abates, tentando produzir um volume suficiente para suprir a demanda lusitana. O outro frigorífico interessado no mercado russo, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Zilmar Moussale, é o Mercosul Ltda, de Bagé.
O diretor do frigorífico Extremo Sul demonstra mais interesse na reconquista dos mercados do Chile e do Egito. Knorr lembra que o Uruguai, que sofreu com a aftosa ao mesmo tempo que o Rio Grande do Sul, já conseguiu retomar as exportações para o Chile. “E o nosso controle da aftosa foi muito melhor que o do Uruguai”, afirma, lamentando a exclusão do Estado, ao contrário do restante do Brasil. Os frigoríficos gaúchos esperavam para a metade de abril a chegada de uma missão técnica do Chile, mas a visita não ocorreu e, agora, é esperada para maio.
O diretor do Extremo Sul recorda ainda que o Rio Grande foi o primeiro Estado brasileiro a exportar para o país sul-americano. “O Chile já representou mais de 50% das nossas exportações”, relata. Para Knorr, a conquista de novos mercados também pode reverter a tendência de queda do preço do boi no Estado. Nos tempos áureos de exportação, antes da aftosa, o Extremo Sul tinha nas vendas externas mais da metade do faturamento. Hoje, de acordo com ele, o percentual estaria em torno 30%.
O Chile, que já era o maior cliente da carne bovina brasileira, aumentou em 72% as compras do produto nacional em 2001, observando-se os números de janeiro a setembro. O crescimento da procura pela carne brasileira ocorreu justamente pelo surto de aftosa na Argentina e no Uruguai, tradicionais fornecedores dos chilenos. Como em maio do mesmo ano o vírus acabou infectando o rebanho gaúcho, todos os demais estados acabaram se beneficiando, incrementando as vendas para os chilenos.
Comparando-se os nove primeiros meses de 2000 e 2001, a queda das exportações gaúchas de carne bovina in natura para todos os mercados, foi de 44,22%. De janeiro a setembro de 2000, as vendas internacionais somaram 10.158 toneladas, volume avaliado em US$ 23 milhões. No mesmo período do ano passado as exportações atingiram apenas 5.666 toneladas, obtendo-se uma receita de aproximadamente US$ 11 milhões, valor 52,77% inferior ao obtido em 2000. As conseqüências para a carne industrializada foram menores, com uma queda de apenas 5,59% nos negócios para outros países. A redução verificada foi de 11.749 toneladas para 11.081 toneladas. Em valores, a diferença foi de 8,21%, baixando de US$ 20,1 milhões para US$ 18,4 milhões.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Caio Cigana), adaptado por Equipe BeefPoint