Por Liliane Suguisawa1
A técnica de ultra-sonografia vem sendo largamente utilizada em bovinos de corte nos Estados Unidos desde 1950, e hoje faz parte da rotina de manejo de grandes confinamentos americanos. Naquele mercado, em que a qualidade de carne é prioritária e os animais são abatidos com quantidade de gordura de cobertura elevada (> 10 mm), o ultra-som auxilia desde a formação dos lotes de confinamento e a detecção do grau de acabamento adequado para o abate, até na predição do grau de marmorização da carne e do rendimento de cortes cárneos.
No Brasil de hoje, embora a preocupação dos frigoríficos com a qualidade de carne se resume ao mínimo de gordura de cobertura (3 mm) para que a carcaça não sofra danos durante o processo de resfriamento no frigorífico, a ultra-sonografia também se mostra muito promissora para a detecção dos animais que estejam prontos para serem abatidos e na seleção de animais superiores para o melhoramento genético dos rebanhos comerciais.
As medidas de ultra-sonografia possibilitam o conhecimento do nível de musculosidade e do acabamento da carcaça do animal através da mensuração da área de olho-de-lombo (AOL) e da espessura da camada de gordura subcutânea (ECG) no animal vivo. Para tanto fazemos a leitura da imagem tomada na região da 12a-13a costelas dos bovinos, podendo-se obter no mesmo momento ambas medidas de AOL e ECG (Herring et al., 1994). Esta imagem representa um corte transversal do músculo Longissimus dorsi (o conhecido contra-filé).
O processo de “cold-shortening” tem causado sérios prejuízos ao frigorífico, e nada mais significa que o escurecimento, perda de água e endurecimento da carne dos animais abatidos com menos de 3 mm de gordura de cobertura, já que estes não dispõem da quantidade mínima suficiente para proteger toda a carcaça durante o processo de resfriamento rápido das nossas câmaras frigoríficas. Muitas vezes, o frigorífico penaliza os produtores que constantemente enviam animais com grau de acabamento inadequado para o abate. Desta maneira, o ultra-som poderá contribuir na melhoria da qualidade das carcaças, auxiliando a identificar os animais com o grau de acabamento ideal dias antes ao abate, reduzindo as penalizações aos produtores e a condenação das carcaças, incidindo em aumento do retorno econômico do sistema de produção da carne bovina.
Outra aplicação da ultra-sonografia é no melhoramento genético. Como as medidas (AOL e ECG) são muito confiáveis, podem ser utilizadas em programas de seleção para produção de tourinhos com as características desejáveis em função da finalidade do programa. Assim, caso o interesse seja o aumento da quantidade de músculo do rebanho, pode-se fazer a seleção de animais com área de olho-de-lombo mais expressiva, ou se o interesse for maior precocidade deve-se selecionar os animais do grupo que deposita gordura de acabamento (ou cobertura) mais cedo.
O ultra-som mostra se também uma ferramenta útil na detecção dos animais com maior precocidade de acabamento e de desenvolvimento muscular dentro de um rebanho, estas medidas também podem fornecer alguma perspectiva do tamanho do animal à maturidade e também de sua precocidade de acabamento. Mesmo estando estabelecida a relação entre a precocidade de acabamento e a precocidade sexual, ainda não está bem definida e quantificada em termos de correlações genéticas, a associação existente entre medidas de ECG e da AOL e medidas de tamanho adulto e precocidade sexual em bovinos, havendo a necessidade de estudos nesta área.
Como sabemos que há muita variação entre e dentro de raças, estas informações poderão complementar as avaliações que estão sendo corriqueiramente realizadas nos animais testados na prova de ganho de peso. Juntamente com as medidas tradicionalmente realizadas pelos técnicos responsáveis pelas provas, as medidas de ultra-sonografia colaborarão para aumentar a confiabilidade da classificação dos animais testados e, conseqüentemente, a eficiência de produção dos sistemas existentes, através da utilização de reprodutores selecionados que apresentem superioridade tanto para AOL ou para ECG.
Apesar destas informações ainda serem muito pouco conhecidas no Brasil, a inclusão destas medidas em programas de seleção de bovinos, que visam a produção de animais com maiores rendimentos cárneos, implicará em melhorias no sistema de produção de carne bovina, atendendo à demanda crescente do consumo e promovendo o aumento do retorno econômico da atividade, através do aumento da produção de carne por animal.
Desta maneira, a ultra-sonografia se consolida como técnica promissora no monitoramento da musculosidade e do grau de acabamento dos bovinos, sendo a melhor maneira de predizer nos animais vivos as características de carcaça importantes para a produção e melhoramento genético.
Referências Bibliográficas
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HERRING, W. O.; MILLER, D. C.; BERTRAND, J. K.; BENYSHEK, L. L. Evaluation of machine, technician, and interpreter effects on ultrasonic measures of backfat and longissimus muscle area in beef cattle. Journal of Animal Science, v.72, p. 2216-2226, 1994b
HOUGHTON, P. L. & TURLINGTON, L. M. Application of ultrasound for feeding and finishing animals: A review. Journal of Animal Science, v.70, p. 930- 941, 1992.
SUGUISAWA, L. Ultra-sonografia para predicao das caracteristicas e composicao da carcaca de bovinos. Dissertação – ESALQ/USP. 70 p. Marco/2002.
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1Liliane Suguisawa é doutoranda em Nutrição e Produção Animal – UNESP/Botucatu