Passado o pior da crise empresas brasileiras estudam aumentar a internacionalização. Fortes no mercado interno e ávidas por competir no mercado externo, onde enxergam oportunidades de aquisições e de expansão de seus negócios, as companhias brasileiras estão recorrendo em peso ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em busca de crédito.
Fortes no mercado interno e ávidas por competir no mercado externo, onde enxergam oportunidades de aquisições e de expansão de seus negócios, as companhias brasileiras estão recorrendo em peso ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em busca de crédito.
“Elas estão retomando planos de investimentos pré-crise”, diz Leonardo Botelho Ferreira, chefe do Departamento de Internacionalização de Empresas do banco, que desde 2008 registra um aumento de 600% nas consultas sobre apoio a investimentos no exterior. Com a desvalorização do dólar de cerca de 25% em relação ao real, está mais barato para as companhias que faturam em reais investir no exterior.
Parte do governo Lula, que até recentemente tinha uma visão negativa da internacionalização, associada à exportação de emprego, passou a reconhecer os aspectos positivos da atividade, revelados em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com base nisso, está surgindo uma nova política de incentivo.
“O investimento produtivo no exterior só acontece porque a empresa tem presença forte no mercado brasileiro. Além disso, a internacionalização ajuda a dividir os riscos do investimento, aumenta a escala de produção, gera um valor maior para a marca no mercado internacional, cria empregos no país e lá fora”, resume o titular da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), Welber Barral.
Um setor que deverá aumentar sua internacionalização é o de alimentos, prevê Barral. “Há empresas interessadas em comprar fábricas de alimentos no Leste Europeu. Elas vão importar carne daqui e beneficiá-la no exterior.”
As candidatas a múltis se espelham no sucesso de empresas do setor de carnes, como JBS Friboi, Marfrig, Bertin, Perdigão, Minerva e Sadia, que estão entre as 57 empresas mais internacionalizadas do Brasil, de acordo com pesquisa elaborada pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) em parceria com o Valor Econômico.
A JBS, número um no ranking das transnacionais brasileiras, fez 30 aquisições nos últimos 15 anos, que lhe renderam a liderança mundial em carne bovina. A JBS marcou um momento importante na política do BNDES para a internacionalização. Foi a primeira a receber crédito em 2005, três anos depois da reforma nos estatutos do banco. O financiamento foi usado na compra da Swift na Argentina. Até 2002, havia restrições estatutárias no BNDES que só permitiam financiamento vinculado às exportações brasileiras.
De 2003 a 2007, houve excesso de liquidez no mundo e crédito abundante para as empresas, que pouco recorreram às linhas de financiamento do BNDES, comenta Leonardo Botelho Ferreira. “As empresas foram para fora com capital próprio ou com recursos do exterior, sem a ajuda do banco. Em 2008, veio a crise. Num primeiro momento, houve suspensão dos planos de expansão de várias empresas brasileiras. Porém, a crise sinalizava que em poucos meses começariam a aparecer ativos a preços interessantes”, diz.
As empresas se internacionalizam em busca de competitividade, para acompanhar o cliente, atender a demanda global, reduzir a dependência do mercado interno, estabelecer plataformas de exportação e obter economias de escala, apurou a pesquisa da Sobeet.
“Melhorar os mecanismos de financiamento é fundamental. Também é preciso aumentar o volume de recursos, eliminar a bitributação das empresas e instituir políticas de apoio à internacionalização em áreas críticas e sensíveis da tecnologia”, defende Glauco Arbix, coordenador-executivo do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
A matéria é de Maria Helena Tachinardi, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.