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APR-MT: boi rastreado não é valorizado

Outro fator que vem comprimindo os ganhos são os custos adicionais que os pecuaristas reclamam absorver em função da criação do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov).

“Até agora o grande ganhador deste benefício é a indústria frigorífica que repassa ao produtor os custos do animal para exportação”, afirma Cunha.

Em Mato Grosso, o custo do processo de identificação e certificação é de cerca de R$ 2,50 a R$ 3. “Em junho de 2002, quando o Sisbov passou a vigorar, o discurso era de que o boi rastreado teria um sobre-valor por arroba, o que compensaria as despesas do pecuarista para adesão ao sistema. Mas o que há hoje é a depreciação do animal que não está rastreado”.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Homero Pereira, confirma que neste caso, “houve o nivelamento por baixo, ou seja, paga-se o valor de mercado para animais rastreados e uma espécie de deságio, para o que não é. Fruto da desarmonia desta cadeia produtiva”, destaca.

Na visão dos dois representantes o primeiro erro foi a imposição do Sisbov. “O modelo de concepção do Sisbov está recebendo inúmeras alterações por meio de Instruções Normativas, esse é o principal indício de que a coisa não vai bem”, aponta Pereira.

“A rastreabilidade não pode acontecer da noite para o dia. Quem cria raças zebuínas já paga por um registro que custa até R$ 63 e que na minha opinião é o melhor que existe e está em vigor há décadas”, complementa Cunha.

O presidente do Sindicato dos Frigoríficos de Mato Grosso (Sindifrigo), Luiz Antônio de Freitas, avalia o Sisbov com ressalvas. “Poderíamos estar exportando mais. Há limitação no número de animais rastreados disponíveis”.

Freitas afirma que os “prêmios” pela arroba do boi estão sendo pagos em Mato Grosso, que as cifras dependem da política de cada indústria e que isso é diferenciado. “Mas paga-se no Estado cerca de R$ 1 a R$ 3 a mais sobre a cotação de mercado, ou seja, uma média de R$ 55 para boi rastreado e R$ 53 para boi não rastreado”, explica.

O presidente observa ainda que a redução do poder aquisitivo do mercado interno brasileiro não comporta pagar mais do que a média de R$ 53, “ao contrário do mercado de exportação que absorve melhor esta espécie de prêmios”, justifica Freitas.

Sobre a acusação dos pecuaristas de que as plantas industriais não pagam o sobre-valor Freitas responde com uma pergunta: qual é o real valor de mercado? “O mercado interno não absorve altas. Quem não exporta, por enquanto não tem obrigação em rastrear e certificar, mas quem vende para o mercado externo está recebendo um extra pela arroba”, insiste.

No Estado os 24 frigoríficos habilitados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) abatem diariamente cerca de 12 mil a 13 mil cabeças.

Fonte: Diário de Cuiabá/MT (por Marianna Peres), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Nagato Nakashima disse:

    A cotação do boi rastreado, divulgado pela imprensa diariamente, varia entre R$ 2,00 a R$ 3,00 por arroba às vezes se vê até R$ 5,00 reais, então vejamos, em boi de 15 arrobas o investimento em rastreabilidade seja de R$ 5,00, se a cotação por arroba é de R$ 2,00 logo teoricamente o boi está valendo R$ 30,00 reais, um saldo de R$ 25,00 ou 500% a mais do investimento. Vejamos agora em quanto encarecerá o 1 kg de carne ao CONSUMIDOR, considerando o repasse de R$ 5,00 em 1 arroba ou em 15 Kg encarecerá em R$ 0,33 por 1 kg, realizando uma consulta (não pesquisa) com os consumidores, que estão consumindo carne, sabem que a carne subiu, mas de quanto não sabem e não souberam responder, como também se subiu R$ 0,33 nem tomariam conhecimento, este é o perfil da média do nosso consumidor.

    Com a divulgação da cotação há forte indício de que já estão embutidos nos preços finais, uma vez que o preço não é tabelado, não diz respeito a mim, mas sinto muito pelos pecuaristas que insistem somente na produção de matérias primas para as indústrias.

    O pecuarista tem que entender que a cadeia da carne só termina no prato do consumidor, e, SISBOV é destinado a eles o Sr. CONSUMIDOR, não para pagar mais caro mas sim para conhecer melhor a carne a ser comprado. Todos sabemos que nossos pecuaristas são especialistas nas produções de bois e na hora da venda defrontam com compradores especialistas de bois que ganham na compra para vender bem. Daí são poucos que recebem bem pela produção.

  2. Maurício Dorazio Neto disse:

    Concordo com o comentário que ao invés de valorizar-se, o boi rastreado sofreu deságio. Para contornar isso só há um caminho, é o Pecuarista Brasileiro se unir para reivindicar seus direitos, não só na carne, mas também no couro que é pago aos frigoríficos pelos curtumes mas não é repassado ao produtor. A rastreabilidade Brasileira está aprendendo com o serviço e com a malandragem Brasileira.