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Argentina: alta de preço traz alívio para pecuaristas

Os consumidores da Argentina comeram mais carne do que nunca no ano passado devido aos baixos preços do alimento, mas a escassez de gado bovino impulsiona o valor dos cortes e reaviva os temores de novas intervenções do Governo no mercado. "Há otimismo, mas é um otimismo cauteloso, porque os produtores pensam que o Governo não tolerará esse nível de aumento", disse o analista de mercado, Belisario Castillo.

Os consumidores da Argentina comeram mais carne do que nunca no ano passado devido aos baixos preços do alimento, mas a escassez de gado bovino impulsiona o valor dos cortes e reaviva os temores de novas intervenções do Governo no mercado.

No mercado de Liniers, principal mercado de gado da Argentina, as operadoras comentam que as recentes altas nos valores estavam atrasadas e que poderiam evitar que mais produtores de desfizessem de seus rebanhos, optando pela atividade agrícola mais lucrativa. “Os produtores venderam o gado a preços muito baixos e isso ajudou muito na decisão de liquidar seu rebanho”, disse o consignatário no mercado de Liniers, Sergio Terrani, que disse também que a grave seca obrigou os pecuaristas a vender seus animais.

No entanto, as chuvas recentes deram um novo impulso aos pastos na região dos Pampas, o que está levando os criadores a deixar seus animais engordando em seus campos, antes de enviá-los ao mercado. A atual queda no ritmo de abates eventualmente faria aumentar a oferta de gado, ainda que o efeito mais imediato seja uma alta nos preços da carne, cujo valor médio subiu em 16% nos últimos dois meses. A mídia local fala de uma alta de 40% nos açougues.

“Há otimismo, mas é um otimismo cauteloso, porque os produtores pensam que o Governo não tolerará esse nível de aumento”, disse o analista de mercado, Belisario Castillo.

Até agora nesse ano, 132.242 animais foram enviados a Liniers, uma baixa de 20% com relação ao mesmo período do ano passado. Por sua vez, as exportações de carne subiram mais de 57% em 2009, refletindo em parte a decisão dos produtores de enviar seus animais ao abate.

A alta de preços da carne é um tema sensível na Argentina, onde o churrasco é considerado o estandarte nacional e o Governo acompanha de perto o valor dos cortes para garantir os níveis de consumo doméstico.

O argentino médio, principal consumidor de carne do mundo, consumiu mais de 73 quilos de carne em 2009, o mais alto nível dos últimos 15 anos, segundo os últimos dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes (CICCRA).

A carne influencia bastante o índice de inflação da Argentina. Apesar da importante desaceleração da terceira economia da América Latina em 2009, os índices de inflação permaneceram altos e o preço dos alimentos subiu em 1,6% em dezembro, segundo dados oficiais. No entanto, pesquisas privadas indicam uma inflação muito maior.

Qualquer sinal de que a demanda começa a superar a oferta se traduz em demora na outorga de permissões oficiais para exportação. “Esse Governo tem uma política de carne que é: primeiro, se abastece o consumo doméstico e, depois, se sobrar, exporta”, disse uma fonte do setor.

Vários analistas acreditam que os altos preços poderiam ajudar a rejuvenescer a indústria pecuária e conter a mudança dos produtores bovinos para agricultura de soja, o principal cultivo do país. “A partir de agora, a pecuária volta a ser uma opção”, disse o diretor executivo do mercado Rosgan, que funciona na Bolsa de Comércio de Rosário, Raúl Milano.

Em Liniers, o negócio parece continuar como sempre, mas muitos temem um retorno da tensão vivida nos últimos anos, quando funcionários do Governo recorriam ao mercado para deter as altas de preços. “Desde 2006, quando começou a intervenção, começou a baixar fortemente a quantidade de gado à venda”, disse o chefe de operações e sistemas no mercado de Liniers, Jorge Longobuco.

A reportagem é da Reuters, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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