Transcorridos praticamente oito anos desde que um grupo de técnicos argentinos iniciou os trabalhos para a formação de um instituto para a promoção de carnes e após mais de um ano de promulgada a lei que deu luz verde para a sua criação, finalmente, o secretário da Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentação (SAGPyA) do país, Haroldo Lebed, convocou na quarta-feira da semana passada uma assembléia de representantes na sede da secretaria.
Lebed se reuniu com os representantes da produção e da indústria frigorífica e marcou uma nova reunião para esta quarta-feira, “quando seriam definidos os parâmetros de trabalho. Isto se refere a temas pontuais, como por exemplo, o orçamento com o qual se administrará o Instituto”, disse ele.
Foi dado o primeiro passo, ainda que, de fato, eram esperados maiores avanços na primeira reunião; por exemplo, que fosse divulgado o nome de quem passaria a presidir a entidade. As expectativas são que o vice-presidente da Sociedade Rural Argentina e membro executivo da Oficina Permanente Internacional da Carne (OPIC), Arturo Llavallol, fique com o cargo. A vice-presidência do Instituto deverá ficar nas mãos do atual presidente da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da República Argentina (Ciccra), Miguel Schiaritti.
O técnico do Instituto de Estudos Econômicos da Sociedade Rural Argentina (SRA), Marcelo Fielder, que foi um dos pioneiros na elaboração do projeto de lei, disse que é necessário deixar bem claro que o Instituto é um órgão público não estatal, estabelecido exclusivamente pelo setor privado. O Estado não tem nenhum tipo de gasto com a entidade.
O setor de produção de carne da Argentina será responsável por 70% do orçamento do Instituto, enquanto os 30% restantes serão financiados pela indústria. Por isso, a presidência da entidade está nas mãos de um representante da produção e a vice-presidência, da indústria. O Instituto contará também com um conselho de representantes, uma espécie de direção, integrado por quatro representantes da produção, três da indústria e um da SAGPyA, totalizando oito membros.
Está prevista uma estrutura administrativa que signifique não mais de 5% do total de recursos do orçamento anual; isto foi decretado por lei. O resto deve estar destinado às ações próprias do Instituto, que vão estar representadas fundamentalmente por promoções, pesquisas, congressos, entre outras coisas.
O diretor executivo da entidade será designado estritamente por concurso. Com relação ao recolhimento de fundos, a lei fixou um valor índice referente ao preço do novilho. Acredita-se que este valor estará em torno de 2 pesos (64,51 centavos de dólar) por animal abatido, pelo qual o produtor terá que abonar 1,40 peso (45,16 centavos de dólar) e a indústria, 60 centavos (19,35 centavos de dólar). Recolheriam-se, assim, cerca de 24 milhões de pesos (US$ 7,74 milhões) por ano para que o Instituto possa atuar.
A estimativa atual é de que, em 90 dias, o Instituto esteja funcionando plenamente. O trabalho deverá ser bastante árduo, diante da atual situação do mercado de carnes da Argentina. Dos 75 mercados que o país conseguiu conquistar nos melhores momentos da indústria, atualmente conta com 52 e com a Rússia, que ainda está definindo requerimentos. Além disso, faltam os Estados Unidos e o Canadá. Segundo Schiaritti, em 2000, a Argentina exportou aos membros do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) 35% do volume exportado e, agora, poderia somar o México, um mercado importante abastecido pelos EUA.
Porém, há algo mais em que tanto Fielder como Schiaritti concordam plenamente: o objetivo principal do Instituto deverá ser o crescimento do setor. A expectativa é que volte a aumentar o negócio pecuário que, nos últimos 10 anos, se reduziu consideravelmente. Considera-se que, de 53 milhões de cabeças, existem atualmente 49 milhões.
Recuperação
Para conseguir esta recuperação – que se estima que poderá ser alcançada em cerca de cinco anos – é necessário desenvolver uma política coerente no setor pecuário e de carnes, além de impulsionar uma política que obtenha o apoio de todos os setores da indústria. Outro aspecto significativo a ser trabalhado é o fato de cerca de 85% da produção total da Argentina estar destinada ao mercado interno. Por isso, a busca de crescimento deverá ser orientada em todos os sentidos: tanto ao mercado externo como interno.
Para finalizar a reunião, Fielder citou palavras ditas em um Congresso Mundial de Carnes que se desenvolveu na Irlanda há cinco anos. Neste congresso, um especialista irlandês, encarregado da Oficina de Promoção de Alimentos de seu país, disse que, para trabalhar com promoção, é necessário trabalhar com inteligência comercial, que é um conceito absolutamente diferente. A inteligência comercial engloba a análise sobre o que os competidores fazem, a fixação de preços, a entrega dos produtos, os tipos de cortes, a logística, os centros de distribuição, etc. Segundo ele, a promoção não é simplesmente dizer “coma mais carne”. É necessário investigar o mercado. Esta é a inteligência comercial e é o mais importante de tudo, finalizou Fielder.
Fonte: La Nación (por Héctor Müller), adaptado por Equipe BeefPoint