A carne argentina é reconhecida em todo o mundo por sua qualidade. No entanto, dentro do próprio país, o produto não é tão valorizado, sendo vendido como “commodity”, quase sem distinção de suas características. Para reverter esta situação, a Secretaria da Agricultura elaborou um programa para começar a “classificar” a carne. A idéia é que o consumidor possa escolher a carne que quer assim como escolhe um hotel ou um restaurante, ou seja, possa escolher entre bifes de uma a cinco estrelas.
Apesar de parecer destinada a satisfazer as crescentes exigências do consumidor, a medida tem uma tendência econômica clara: ao segmentar por qualidade, começará a valorizar cada corte como realmente é, e não como o que parece. Neste esquema, os cortes “cinco estrelas” serão os mais caros e selecionados. No entanto, espera-se uma redução no preço da carne de baixa qualidade, que hoje é vendida como boa.
Salvo raras exceções, na Argentina, a carne tem um valor semelhante. Os preços podem variar por local de venda ou por ser carne de vitelo ou novilho. Há algumas carnes com marca que são vendidas com preços até 30% maiores e garantem determinada “qualidade”. Porém, representam apenas 3% de um mercado que move cerca de 2,2 milhões de toneladas e 1,2 bilhão de pesos (US$ 404,72 milhões).
Na última quarta-feira, a Secretaria da Agricultura da Argentina emitiu uma resolução para criar uma comissão que atualizará as normas para “tipificação” da carne bovina, já que as vigentes são de 1973. “O esquema antigo somente avalia o animal médio, não aprofundando. Devido a isso, o consumidor não pode escolher e o produtor cobra um preço médio, que não premia seu esforço para produzir animais de maior qualidade”, disse o representante da Oficina Nacional de Controle Comercial Agropecuário (ONCCA), Marcelo Rossi.
Com o objetivo de estabelecer a diferença, já existe um esboço com as novas regras, elaborado por técnicos da Secretaria da Agricultura da Argentina, da Universidade de Buenos Aires (UBA), da Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola (AACREA), do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) e pelos criadores de Angus e Hereford, as raças bovinas mais difundidas no país. Nesse esboço foram estabelecidos 10 parâmetros diferentes para medir a qualidade da carne. A aspiração é que todos esses comecem a ser inseridos nos rótulos dos produtos, ainda que não de maneira obrigatória, a partir de 2006.
Os especialistas recomendaram classificar cada corte em um gradiente que vai de uma a cinco estrelas. A idade do animal, seu genótipo (se pertence a raças britânicas como Angus ou Hereford, cruzamentos ou de raças zebuínas), o peso do animal, a presença de contusões e os dias de maturação dos cortes na câmara frigorífica (uma das chaves para se obter maciez) serão algumas coisas que terão que começar a serem levadas em conta pelos consumidores e pela cadeia comercial. Como a certificação destes atributos ficará a cargo de empresas especialmente habilitadas, não sobrará espaço para a venda de “gato por lebre”.
Fonte: Clarín, adaptado por Equipe BeefPoint