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Argentina lança ‘dólar agro’ em tentativa de reforçar reservas

O governo argentino anunciou ontem um pacote de medidas para reforçar as reservas internacionais do país em níveis criticamente baixos, mas que foram consideradas pouco eficazes pelos economistas. A seis meses das eleições de outubro, analistas acreditam que o pacote tende, na verdade, a pressionar ainda mais a crescente inflação e ampliar a brecha cambial e o endividamento em médio prazo.

As medidas anunciadas pelo ministro da Economia, Sergio Massa, esperadas desde a semana passada, são centradas na adoção de um novo tipo de câmbio para exportadores de commodities agrícolas. O “dólar-agro”, ou “novo dólar-soja” — como vem sendo chamado pelos economistas do país — terá um câmbio fixo de 300 pesos por US$ 1, bem acima da cotação oficial, de 211 pesos.

Com isso, o governo pretende acelerar a recuperação de suas reservas líquidas em moeda estrangeira, que desceram ao nível de US$ 2,6 bilhões, as mais baixas em vários meses, segundo o último dado do banco central argentino, de fevereiro. Empacotadas como um “programa de incremento à exportação”, as medidas começam a valer dia 8 e se estenderam até 24 de maio para produtores de soja.

“É possível que o governo consiga algo em curto prazo, com a antecipação da liquidação de uma parte das exportações, mas esse tipo de medida compromete outros objetivos da equipe econômica, como a estabilidade e solvência do balanço do banco central”, afirmou o analista Luis Secco, diretor da consultoria Persperctiv@s Econômicas. “Ou seja, o que o BC está dizendo a certos exportadores é que vai comprar dólares a 300 pesos para vender a outros pela cotação oficial de pouco mais de 200 pesos. O que é certo é que isso obriga o banco central a uma perda, que certamente terá impacto, no fim das contas, no volume de reservas financeiras, na cotação do dólar em termos reais e, consequentemente, na inflação que supera os 100% anuais”, afirmou.

“Trata-se de mais um exemplo de medidas insuficientes, transitórias e pouco eficientes, no qual se tenta resolver problemas econômicos pela aplicação de soluções políticas”, analisou Secco.

“O objetivo é aliviar a situação dos produtores que enfrentam a pior seca em muitas décadas, ajudando-os também a manter a produção para o mercado interno”, disse Massa.
Massa, no entanto, buscou vender as medidas como uma forma de atender às demandas do agronegócio, principal motor de exportação do país. “O objetivo é aliviar a situação dos produtores que enfrentam a pior seca em décadas, ajudando-os a manter a produção para o mercado interno”, disse. O programa inclui a suspensão de execuções fiscais e bancárias e facilitação de crédito para o setor.

O ministro, porém, advertiu que exportadores que ultrapassaram o prazo de 180 dias para trocar os dólares das exportações já vendidas terão 30 dias para regularizar sua situação, sob pena de ter suspensos seus registros empresariais — que os habilitam a comprar divisas para operações de comércio exterior pelo câmbio oficial. Uma lista divulgada pelo Fisco argentino apontou cem empresas em situação irregular, que precisam liquidar US$ 3,7 bilhões no BC. As sanções se estenderão a diretores dessas companhias, aos quais Massa chamou de “especuladores”.

No mercado paralelo, ou “blue”, o dólar fechou ontem em 392 pesos, com o spread com a cotação oficial em 85,6%.

“As medidas projetam um efeito inflacionário tanto na ponta da emissão, para a liquidação dos valores envolvidos em peso, quanto no impacto que a cotação deve gerar nas cadeias envolvidas”, afirmou o analista da consultoria Ledesma, Gabriel Caamaño, em declaração à emissora “Todo Noticias”. “Queiram ou não, estão subindo o preço das mercadorias em questão”, disse Caamaño.

“A única coisa que o anúncio do governo vai fazer é antecipar alguma entrada de dólares nos cofres do banco central, mas em alguns meses, as reservas estarão baixas outra vez”, disse Nicolás Alonzo, economista da J. Ferrerés & Asociados. “É tudo o que o governo pode fazer agora. É tarde para a implementação de qualquer outra ação necessária, que inclua um programa de ajuste abragente, em termos fiscais, monetários e cambiais.”

Fonte: Valor Econômico.

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