O fim câmbio fixo na Argentina, depois de quase 11 anos, desequilibrou todos os setores da economia do país e trouxe consigo, entre outras conseqüências não desejadas, uma forte remarcação de preços de produtos de primeira necessidade. A carne, um dos principais alimentos consumidos pelos argentinos, não escapou desta tendência e registrou aumentos significativos nos últimos tempos.
Os produtores de carne do país, porém, após um longo período de “vacas magras” – conseqüência dos preços baixos e dos problemas sanitários pelos quais o país passou – estão vivendo um período bastante satisfatório, conseguindo melhores preços por sua produção.
Por outro lado, a indústria, após o terremoto causado pela aftosa, está começando a recuperar o terreno perdido a nível internacional, mas com o risco de uma queda no consumo interno, devido a perda do poder de compra dos argentinos, excedente que não tão facilmente poderá ser destinado ao exterior.
“O melhor mercado de carnes do mundo é o nosso, o do consumo interno”, disse o presidente do Frigorífico Alberdi S.A., localizado na Província de Entre Ríos, Roberto Galeano. “Dos 12 milhões de animais que são abatidos no país, 10 milhões ficam no mercado interno. O lamentável é que, às vezes, não estamos preparados para abastecer este mercado, devido às políticas equivocadas que temos tido nos últimos anos”.
Galeano disse que, neste sentido, os ciclos pecuários praticamente não podem ser completados, ocorrendo, muitas vezes, distorções, porque não existe equilíbrio econômico e financeiro para manter a estrutura produtiva.
Preços
Em relação aos preços, Galeano disse que, se a análise é feita em pesos argentinos, esses vem aumentando, se for levado em consideração que os salários estão congelados há muitos anos. No entanto, em valores relativos em dólar norte-americano, este valor tem diminuído.
A possibilidade de uma queda do mercado interno devido à incapacidade de compra da população argentina, segundo Galeano, poderia levar à alternativa da produção ser direcionanda, aos poucos, para a exportação.
No entanto, Galeano ressalta a ausência de estabelecimentos habilitados para exportação na Província de Entre Ríos, que faz com que a cota da Província seja de somente 300 toneladas anuais, quando, de acordo com a quantidade de novilhos que produz, deveria ser de, pelo menos, 2 mil toneladas. “Temos uma estrutura muito pequena, que tem capacidade ociosa para o mercado interno, mas necessita de projetos de desenvolvimento para poder exportar, onde se requer grandes investimentos em relação aos aspectos sanitários, de acordo com as exigências internacionais. Por isso, é necessário analisar as políticas, e determinar até onde se quer canalizar a produção”, disse.
Galeano disse que isso, pelo menos atualmente, parece ser impossível, pois a economia argentina está mudando de acordo com as regras do jogo. “Se todos os dias nos impõem variações, temos que estar em permanente ajuste, o que faz com que trabalhemos para o presente, sem pensar no futuro”.
“O que pretendemos é que nossos políticos mantenham o equilíbrio e não modifiquem as variáveis da economia, porque, quando se mexe em uma delas, distorcem-se todas as outras, como aconteceu com a desvalorização. Voltar à estabilidade depois de uma modificação tão violenta, como a desvalorização do peso argentino, demandará muito tempo, pois serão geradas distorções muito fortes”.
Fonte: El Diario – Entre Ríos (por Danilo Lima), adaptado por Equipe BeefPoint