A retomada das negociações para venda de carne argentina à União Européia (UE) está tendo o impacto que os frigoríficos exportadores brasileiros já esperavam, mas torciam para que não ocorresse: os preços de cortes nobres para exportação no mercado europeu estão sendo pressionados pela volta da Argentina. A queda nas cotações é de cerca de US$ 250 por tonelada.
A partir de 1o de fevereiro, a Argentina poderá retomar os embarques para a UE, após um embargo de 11 meses devido ao surgimento de casos de aftosa no país. Antes mesmo que a decisão da UE fosse anunciada – em 15 de janeiro, o mercado já começou a se mexer. “Quando surgiram os comentários de que a Argentina iria voltar, os frigoríficos brasileiros aumentaram as ofertas para a Europa”, afirmou Benedito de Paula, gerente de exportação do Frigoestrela.
Essa estratégia para tentar garantir vendas contribuiu para o recuo dos preços, admite o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Ênio Marques. Além disso, os importadores europeus se retraíram à espera de uma definição para os preços com a volta da Argentina.
Como resultado, até os cortes argentinos, tradicionalmente mais caros que os brasileiros, foram afetados. Conforme o gerente do Frigoestrela, os argentinos ofertavam o chamado rump loin (corte que reúne alcatra, contrafilé e filé) a US$ 6.500/tonelada FOB dentro da quota Hilton (sem impostos) no reinício das negociações. Agora, já estariam aceitando US$ 5.200, o que demonstra que “os exportadores argentinos estão competindo entre si”, disse Paula.
Já o rump loin brasileiro, ofertado a US$ 5.500,00/tonelada (dentro da quota Hilton) antes da volta da Argentina, caiu US$ 200,00 a US$ 250,00. Para um trader baseado em Londres, a pressão pela volta da Argentina é temporária. Élio Micheloni, da Hencorp Commcor, concorda. Segundo ele, além do impacto da volta da Argentina, o mercado sabe que o país tem um grande volume dentro da cota Hilton a ser cumprido.
A cota, válida entre julho de 2001 e junho de 2002, tem 28 mil toneladas. Como os argentinos não puderam exportar em 2001, é certo que não terão como cumprí-la. O mercado estima que o país conseguirá vender entre 12 mil e 15 mil toneladas.
A própria situação econômica argentina deve atenuar a concorrência para o Brasil, avalia Marques, da Abiec. Segundo ele, a crise no país desestabilizou o setor frigorífico por isso deve levar algum tempo para as exportações sejam totalmente restabelecidas.
E, de acordo com Marques, o Brasil está disposto a “ajudar” a Argentina a cumprir a cota Hilton. A Abiec vai sugerir ao governo brasileiro que consulte o país sobre a possibilidade de o Brasil, cujo volume na cota Hilton é de apenas 5 mil toneladas, fornecer carne aos argentinos para que cumpram as 28 mil toneladas.
Fonte: Valor Econômico (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint