Os pecuaristas não negociam a arroba do boi gordo no patamar de R$ 350,00 há quase um ano. Atualmente, os contratos de novembro na B3, bolsa de valores brasileira, têm girado em torno de R$ 330,00 por arroba, sinalizando uma recuperação frente ao mercado físico. Mas, será que há fôlego para impulsionar os preços nos últimos meses de 2025?
Segundo analistas, a aposta, neste momento, é de estabilidade dos preços, com um leve viés de alta. Nessa perspectiva, o cenário externo tem sido um dos principais sustentadores da demanda. Este ano, o Brasil abriu mercados relevantes: a Indonésia passou a comprar carne bovina e o Vietnã também liberou as importações. Além disso, apesar do tarifaço dos Estados Unidos, o México vem ampliando suas compras desde junho, e novas plantas frigoríficas devem ser habilitadas ainda neste ano para atender os mexicanos.
Adiciona-se a esse quadro a demanda chinesa, que segue aquecida, contribuindo para o cenário de exportações elevadas. No entanto, Felipe Fabbri, coordenador de inteligência de mercado da Scot Consultoria, lembra que o câmbio está jogando contra uma possível repetição dos valores máximos da arroba observados no final de 2024. “O preço em dólar está muito bom, mas, convertido em reais, a margem da indústria fica mais apertada. Isso limita até onde o frigorífico pode pagar pelo boi”, afirma.
Outro ponto que pesa é a concorrência das proteínas alternativas no mercado doméstico. Conforme a consultoria, o frango segue mais competitivo, já que a produção não foi ajustada após o episódio da gripe aviária no país.
Apesar do Brasil ter retomado o seu status internacional livre do vírus, importantes compradores, como China e União Europeia, ainda mantêm o mercado fechado ao produto. Assim, com maior oferta interna e preços em queda, a carne de aves pressiona o consumo de carne bovina. Já o suíno se mantém em patamares semelhantes ao ano passado, sem grande influência adicional sobre o boi.
Mesmo assim, Pedro Gonçalves, analista da Scot Consultoria, avalia que a tendência de alta no mercado futuro pode levar a arroba a patamares bem mais elevados. Porém, não este ano. “Um dia vai chegar a R$ 400. Talvez este ano ainda não, mas o cenário é de alta”, afirma. Ele pondera que a força da demanda internacional continua sendo um pilar importante, apesar da incerteza em torno da investigação da China sobre a importação de carne bovina de todos os países.
As investigações no principal comprador da carne bovina do Brasil foram abertas no fim de 2024. A previsão era de conclusão do processo em agosto deste ano, porém a avaliação foi prorrogada até novembro. “Esperamos que não aconteça nada de grave como essa questão do tarifaço dos Estados Unidos. É importante lembrar que o mercado norte-americano representa cerca de 2% da nossa produção total de carne bovina. Mas, se fosse a China impor restrições ou decidir estabelecer cotas para nossas exportações, qual seria o impacto? Por isso, esperamos que nada nesse sentido aconteça”, pondera.
Enquanto o mercado aguarda o encerramento das investigações, os especialistas acreditam que, se nenhum novo episódio negativo acontecer, a arroba deve encerrar 2025 sustentada em torno dos R$ 330,00 com exportações aquecidas, mas sem condições de retomar os R$ 350,00 ainda este ano. Esse nível pode ficar para 2026, quando se espera uma oferta mais ajustada, com uma maior retenção de fêmeas, e um ambiente de preços mais favoráveis.
Fonte: Estadão.