Os preços da arroba do boi gordo deverão oscilar entre R$ 250 e R$ 270 em São Paulo no ano que vem, projeta a consultoria Safras & Mercado. O novo patamar de preços – muito mais baixo que o deste ano, quando houve negócios a R$ 350 – é
resultado da queda da demanda chinesa e do já esperado aumento na oferta de gado.
“Teremos um boi mais firme no começo do ano, mas depois os preços vão cair”, diz o analista Fernando Iglesias. “Algumas pessoas têm a impressão de que as commodities se estabilizam no topo, mas não é assim. E o ciclo do boi está apontando para baixo, com todo aquele investimento que o pecuarista fez em aumento de capacidade produtiva entre 2019 e 2021”.
A boa condição das pastagens no começo do próximo ano tende a ajudar o produtor a reter o gado no campo para ganhar poder de barganha com a indústria. Porém, Iglesias não acredita que esse movimento vá durar muito tempo.
Os frigoríficos já estão diminuindo o ritmo de atividades em algumas unidades e se reposicionando para lidar com o novo cenário, segundo o analista. “Há um esforço brutal do pecuarista neste momento para conseguir vender a R$ 300 em São Paulo”, afirma. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) registrou negócios entre R$ 280 e R$ 290 na semana passada.
Exportações em queda
Para o analista, as exportações, que ajudaram o segmento a contrabalançar o declínio do consumo no mercado interno, não repetirão o desempenho “espetacular” de 2022, já que a China, principal destino dos embarques, reduziu sua dependência externa.
“O Brasil continua sendo a melhor opção global [para os importadores], mas teremos um movimento um pouco mais discreto”, avalia Iglesias. Ele projeta exportações de 2% a 3% menores em 2023.
Os números dos embarques deverão começar a refletir a queda das compras chinesas a partir de fevereiro. “Veremos os efeitos dos lockdowns nos relatórios da Secex [Secretaria de Comércio Exterior] dentro de 45 a 60 dias”, afirma.
As medidas de restrição sanitária para conter a covid-19 na China e uma forte desvalorização do yuan teriam, de acordo com o analista, deflagrado um movimento de renegociação entre importadores chineses e exportadores brasileiros. “É por isso que vemos agora preços médios que são quase a metade do pico que ocorreu em junho”, diz.
Fonte: Valor Econômico.