A arroba do boi gordo em Mato Grosso atingiu no mês de julho o preço mais baixo da história: R$ 43, para regiões fora da Baixada Cuiabana e de regiões como Cáceres, Rondonópolis e Barra do Garças, onde são praticados os melhores preços. Nessas regiões, o preço da arroba atingiu R$ 47, cifra que é também a mais baixa já registrada até agora no estado.
A constatação é da Associação de Proprietários Rurais (APR). “Nunca na história tivemos o preço tão aviltado”, reclama o diretor executivo da entidade, Paulo Resende. O preço mais baixo pago pela arroba, na Baixada Cuiabana, havia sido registrado em julho de 2001, R$ 47. “Se computarmos a inflação no período, os mesmos R$ 47 que estão sendo pagos hoje são bem inferiores aos daquela época”, contabiliza Resende.
Os produtores alertam que o aumento da oferta tem pressionado os preços recebidos pelos produtores rurais, “que atuam em um mercado concentrado, formado por compradores que têm informações estratégicas do mercado e que usam de artifícios como a programação de escalas de abate para direcionar a oferta e, conseqüentemente, reduzir os preços”.
O responsável pela área de pecuária da Famato, Eduardo Alves Ferreira Neto, lembra que, ano a ano, tem aumentado a distância entre os preços regionais e de outras praças. “Em 2004, a diferença de preços entre os frigoríficos de Mato Grosso e de outras regiões era de 10%. Atualmente, os estudos apontam que esta diferença subiu para 15%”, informa.
Resende disse que o produtor mato-grossense está descapitalizado e sendo obrigado a descartar as matrizes para sobreviver. “Todos sabem que isso só ocorre em casos extremos. E a pecuária está no fundo do poço”, afirma.
A grande preocupação dos produtores, segundo ele, é que o consumidor final não está sendo beneficiado com a queda abrupta do valor da arroba. “Por incrível que pareça, os preços da carne nos supermercados são os mesmos da época em que a arroba era comercializada a R$ 54”, cotação registrada em setembro do ano passado.
Resende informou que os preços dos insumos subiram, só neste ano, 5,5%, enquanto a arroba recuou 11,80% nos primeiros sete meses do ano.
A notícia do recorde negativo chega junto com outra notícia ruim para o setor. Estudo da CNA e do Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo) mostra que no primeiro semestre deste ano, o preço pago pelo boi gordo caiu 11,76%, enquanto os custos de produção subiram 5,04%.
Um dos primeiros efeitos dessa redução de receita para os pecuaristas está no aumento do abate de vacas, o que compromete a produção de bezerros. Atualmente, o abate das fêmeas já atinge 40% do rebanho. De acordo com a CNA, a média histórica nacional é de 23%.
Reflexos
Na avaliação dos técnicos, a pecuária “sucateada” pode atingir as exportações, que registraram aumento significativo nos primeiros seis meses de 2005, mesmo com a valorização do real.
No período, as remessas do setor ao exterior chegaram a US$ 1,424 bilhão ou 31% mais do que o registrado no primeiro semestre do ano passado: US$ 1,088 bilhão. Em termos de quantidade, o setor saiu de 802 mil toneladas de janeiro a junho de 2004 para 1,06 milhão de toneladas neste ano.
Redução
Os produtores acreditam que a expectativa é de que, a continuar o atual cenário, possivelmente no médio prazo haverá redução da oferta de boi para abate.
Atualmente, boa parte do rebanho é abatida por volta dos três anos, com 17 arrobas, peso cada vez mais comum também para animais de dois anos e meio. Entre as matrizes, a cada 100 vacas obtêm-se em média 70 bezerros desmamados, enquanto no passado 100 vacas geravam 50 bezerros.
De acordo com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), em 2004, o rebanho estadual atingiu cerca de 26 milhões de cabeças, sendo abatidos cerca de 3,2 milhões de animais. A produção de carne bovina de Mato Grosso é estimada em 733 mil toneladas, sendo que cerca de 642 mil toneladas são destinadas ao mercado interno nacional e exportação. Apenas 91 mil toneladas são consumidas dentro do estado.
Segundo o produtor Mário Cândia de Figueiredo, uma das alternativas para neste momento é “segurar” a expansão do rebanho. Segundo ele, o produtor deve buscar reduzir custos em sua propriedade, uma vez que o cenário não favorece novos investimentos e o crescimento do rebanho. “Tivemos uma redução nos preços da arroba do boi gordo entre 15% e 20%. Enquanto isso, houve uma elevação acentuada dos custos dos insumos. Os números são totalmente inversos e precisamos tomar muito cuidado”, analisa o produtor.
Cândia revelou que está disposto a reduzir em 50% o número de matrizes em suas propriedades, nas regiões de Alta Floresta e Poconé, na tentativa de conter a crise. “Ou tomamos uma decisão ou seremos obrigados a arcar com novos prejuízos”, afirma.
Alternativa
A expectativa dos pecuaristas é minimizar os efeitos da crise vendendo para frigoríficos de outros estados, que estão praticando melhores preços. Essa possibilidade passou a existir desde o momento em que o governo do estado baixou, de 12% para 3%, a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o boi em pé comercializado para outras regiões do país.
“Até agora, entretanto, ainda não sentimos os reflexos desta medida”, disse Resende. Ele acredita que a medida irá beneficiar produtores de regiões localizadas nas regiões sul e leste do Mato Grosso, situadas mais próximas das saídas para os grandes centros, como Goiás e Mato Grosso do Sul. “Os pecuaristas da região norte praticamente não serão beneficiados por causa da distância”, observa.
Fonte: Diário de Cuiabá/MT (por Marcondes Maciel), adaptado por Equipe BeefPoint