Por Oberdan Pandolfi Ermita1
É generalizado o sentimento de que a situação não tem sido nada favorável ao produtor, as sobras da atividade estão diminuindo a cada ano, por um lado, devido à elevação no preço dos insumos e, por outro, pela redução no preço de venda dos animais. O sentimento é de crise. Os frigoríficos também argumentam que estão passando por dificuldades.
O objetivo desta pesquisa foi mensurar a evolução das margens dos frigoríficos, analisando exclusivamente a diferença entre o preço pago ao produtor e a receita do frigorífico auferida pela venda dos animais em cortes, produtos e subprodutos.
Metodologia da pesquisa, conceitos e fonte de dados:
1- Preço médio da @ boi em São Paulo (Barretos) e Rondônia, levantados no Boletim Scot e deflacionados para preços de dezembro de 2005 pelo IGP-DI.
2- Preço de venda dos cortes, produtos e subprodutos de uma planta que opera com desossa e vende sua produção ao mercado atacadista paulista, obtidos no Boletim Intercarnes e deflacionados para preços de dezembro de 2005 pelo IGP-DI.
3- Coeficientes de rendimentos de um bovino médio de 16,5@ e estimação da produção de cortes, produtos e subprodutos, com base em levantamentos realizados junto a frigoríficos que operam em Rondônia.
4- Com base nos coeficientes de produção e nos preços de venda dos cortes produtos e subprodutos foi obtida a receita média do frigorífico com a venda de um animal de 16,5@ desmontado.
5- O preço pago ao produtor foi obtido pela multiplicação entre o peso do boi (16,5@) e o preço da @/boi praticado nos mercados paulista e rondoniense.
6- A “fatia” dos frigoríficos é a diferença entre o preço de compra do boi e a receita auferida pela venda do boi em cortes, produtos e subprodutos. É esta diferença que suporta os demais custos da empresa e o restante é o lucro.
O resultado da pesquisa é resumido no gráfico abaixo.
A receita média dos frigoríficos sofreu redução ao longo do período, passando de R$ 1.325,15, em 2003, para R$ 1.157,31, em 2005. Em outras palavras, tem diminuído o tamanho do “bolo”. Evidentemente o preço pago ao produtor também sofreu redução.
No caso do estado de São Paulo, o produtor que recebeu a preços deflacionados R$ 1.146,90, em 2003, passou a receber R$ 917,84, em 2005.
Entretanto, observem o preço pago ao produtor sofreu redução em ritmo bem mais acelerado, fazendo com que a fatia dos frigoríficos crescesse a cada ano. Em 2003, a fatia dos frigoríficos foi de R$ 178,25, passando para R$ 239,46, em 2005.
Gráfico 1: Comparativo de preços – São Paulo
O mesmo ocorre no estado de Rondônia, só que as diferenças são ainda maiores. O preço pago ao produtor, que foi em média R$ 937,07, em 2003, passou para R$ 733,21, em 2005, fazendo com que a fatia dos frigoríficos saltasse de R$ 388,08 para R$ 424,10 durante o período.
Gráfico 2: Comparativo de preços – Rondônia
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1Oberdan Pandolfi Ermita, economista da Método Consultoria e professor da FAP – Faculdade de Pimenta Bueno
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Parabéns Oberdan,
Todos esses dados mostram que o produtor precisa, mais do que nunca, se organizar, se unir para não ficar cada vez mais sendo esmagado pelo elo mais organizado da cadeia.
Muito boa a análise.
Para esta pesquisa ficar 100% completa basta acrescentar mais dados referente ao comércio de carne, que são atacadista e os supermercados, para saber realmente quem esta com a fatia deste bolo.
Parabéns pela lucidez do artigo.
Raramente aparecem coisas do gênero, ou seja, matérias isentas de tendências. O pecuarista fez a lição de casa como todo frigorífico, entidades de classe, governo e imprensa recomendaram. No entanto, esta aí, a fatia do pecuarista, o frigorífico comeu.
Há alguém que diga, falta união da classe produtora, mas como unir milhares, se a outra ponta, apenas meia dúzia, senta, decide o preço a pagar e até hoje nada se apurou sobre o cartel desses frigorificos.
Parabenizo o Prof. Oberdan pelo artigo que é bastante oportuno para a atual conjuntura da pecuária brasileira.
Fazendo uma análise mais critica da situação, eu sinceramente acredito que esse aumento na margem bruta percebida pelos frigoríficos não se traduz em correspondente aumento na lucratividade para os mesmos, já que seus custos de operação devam também, assim como o de nos pecuaristas, terem se elevado.
Sinto, porém, que a falta de transparência nas negociações e discussões afetam a credibilidade dos dois lados nesses momentos de crise e que a cadeia produtiva da carne bovina como um todo perde.
Acredito que toda a cadeia sofra do mal do desequilibro econômico que certos setores da economia brasileira vem passando nos últimos anos, onde a equação receita/custos/despesas não apresente como resultado o tão esperado “lucro”. Acompanho e estou envolvido em outros setores da atividade econômica brasileira e sinto problemas semelhantes em outros ramos de negócios.
Com certeza, nós pecuaristas temos maior limitação em melhorar nossa situação e maior potencial de perda pela natureza pulverizada pela qual ofertamos nossos produtos num mercado cuja demanda de compra pela parte intermediária da cadeia e relativamente concentrada. Outro fato que nos prejudica é a natureza do ciclo da nossa atividade, pois desembolsamos recursos por períodos que variam de 2 a 4 anos, antecipadamente antes de fazermos girar nossa mercadoria e fazer dinheiro da mesma.
A meu ver, deveríamos cultivar nas relações da cadeia da carne como um todo (aí se inclua os nossos clientes) uma atitude de ” ganha-ganha” e não a de “ganha-perde”.
Para mim, a verdade é que trabalhamos nas últimas décadas e melhoramos índices que aumentaram em muito a oferta e carne e não nos preocupamos tanto quanto deveríamos com ações que priorizassem o aumento da demanda para os nossos produtos.
Atitudes conjuntas de buscarmos maior competitividade em novos mercados de maior valor agregado e maior credibilidade internacional nos levaria a resultados mais sólidos. É necessário dizer que esse processo tem sido fomentado com relativo sucesso por parte da setores da cadeia, porém não ocorreram no ritmo e força necessários para diminuir o problema atual.
Se todos nós, envolvidos no setor, focássemos em procurar soluções para aumentar o “tamanho do bolo” e criássemos mecanismos para antever e prevenir os eventuais desequilíbrios na cadeia da carne poderíamos sair ganhando a longo prazo e passarmos de fato à categoria de “fornecedores” confiáveis de nossos produtos nos mercados interno e externo e maior prazer em estarmos investindo na atividade pecuária.
Gostaria muito que os frigoríficos do Brasil ganhassem 30%. Se não existisse o BNDES não existiria grandes do setor.
Frigorífico no Brasil é pura ilusão, é sinônimo de sonegação, não existe no Brasil uma planta sem dívidas ou débitos com fisco e bancos. Eles não tem patrimônio, para pagar o que devem, vivem dia após dia de tentar sobreviver num mercado de difícil concorrência desleal, para tentar vencer a batalha diária.
Muitos estão perdendo milhões por mês. Se algum pecuarista olhar o balanço real de um frigorífico eles mudam de ramo, pois a conta nunca fecha. Se fechasse, em lucros, maior a cada ano, eles não tinham a necessidade de irem ao BNDES.
Dívidas fiscais, mandato de segurança para não pagar Funrural, mas descontam do pecuarista e não recolhem. Se o fazem agora, é porque estão com medo do que pode acontecer. A pecuária do Brasil está quebrada, e o nosso Governo ainda não viu isso. Mas o problema não é de hoje, é de anos.
Gostaria de saber como o economista chegou nesse, lucros absurdos, seria o melhor negócio do planeta e podem ter certeza, é um dos piores hoje. Quem sonhou e entrou nesse negócio nunca mais pode sair, pois não ganha para isso. Experiência própria, pago até hoje erros do passado.
Estão falando no mercado de novos frigoríficos, uma planta de 3.500 bois dia se ganhasse tanto, para que BNDES? E financia-se muito mais porque existe a necessidade de gerar receitas para cobrir prejuízos anteriores.
O economista deve mostrar aos pecuaristas quais são as despesas que gera uma planta frigorífica, como frete vivo, frete morto, ICMS, PIS, Cofins, imposto de renda, INSS, insumos, embalagens, energia, água, manutenções diversas, folha de pagamento, empregos diretos e indiretos, quebra de peso, carne devolvida, boi leves, e sem cobertura, que os pecuaristas querem receber como boi bom.
Aí sim, vamos achar o verdadeiro lucro de um frigorífico, e temos que ter na cabeça que sem lucro, os pecuaristas ficam sem receber, pois mais cedo ou mais tarde é inevitável, eles quebram.
Parabéns pelo artigo.
Conseguiu demonstrar de forma clara e objetiva, algo que todos nós pecuaristas sentimos em nossas atividades.
Mas continua o problema, ou seja, tudo isto começou com a cartelização do frigoríficos, e com o financiamento dos governos federal e estadual. A próxima pergunta é: quando isto vai acabar, e ter alguma ação do governo?
Outra pergunta que não sai da minha cabeça, é qual a estratégia dos frigoríficos? Eles estão matando a cadeia de suprimento, pois conheço muitos pecuaristas que estão saindo da atividade, aqui em SP, mudando para Cana, Seringueiras, e até laranja. Se a estratégia é acabar com a pecuária de corte no estado de SP, eu dou meus parabéns, pois estão conseguindo o seu intento e em um prazo muito curto.
Vamos ser curtos e grossos!
Não queremos esmolas, queremos mercado justo.
Isto posto, sugiro que pessos voltadas para este assunto pudessem falar mais dele, pois assim poderemos sensibilizar a classe e talvez nascer alguma esperança.
Parabéns ao professor Oberdan pela iniciativa do trabalho.
Na verdade não podemos culpar as indústrias frigoríficas pelo lucro que estão tendo em seus negócios. Temos sim que culpar o pecuarista por estar inserida numa classe desunida.
É inadmissível que um País, com um rebanho de aproximadamente 200 milhões de animais, com possibilidades de crescimento em termos de lotação animal por hectare, passar pelo que está passando em relação a preço de arroba produzida.
É preciso observar que as indústrias frigoríficas se organizaram, investiram pesado em estrutura física e pessoal qualificado. Foram atrás de novos mercados e estão gerando divisas e empregos.
Por outro lado, o dos pecuaristas, o que podemos observar é que continuam com a mentalidade de 20, 30 anos passados em relação a comecialização do seu produto.
Continuam vendendo boi por telefone e muitos nem vão à sua propriedade acompanhar o embarque de um lote de bois.
É verdade que muitos produtores investiram em pesquisa, melhoramento genético, sanidade e alimentação. Mas a maioria continua na estabilidade, esperando que as indústria aumentem o preço da arroba.
Se o pecuarista não investir em profissionalismo, em cooperativismo, com certeza vamos continuar, assistindo de camarote, a ascenção das indústrias frigoríficas e os pecuaristas reclamando do preço.
Gostaria de fazer algumas perguntas, única e exclusivamente só para esclarecimento:
Qual deve ser a lotação animal ideal, por hectare ?
Quantas arrobas devo produzir por hectare ?
Quanta custa produzir uma arroba ?
Qual deve ser o preço ideal de uma arroba ?
Sei que para cada propriedade ou região os valores se alteram. Mas é preciso ter um preço médio. Se o produtor de soja, de milho sabe quantas sacas deve colher por hectare, por que o pecuarista não sabe?
É preciso união.
Curiosamente o texto do Dr. Oberdan pode conter uma grande verdade, embora possa parecer improvável para a maioria das pessoas que desconhecem as diferenças e as situações dos diferentes elos da cadeia produtiva, pois, quando tanto frigoríficos quanto produtores reclamam e quase sempre os produtores procuram por vilões para justificarem as dificuldades encontradas, o que é plenamente natural, porém pode acontecer de ambos terem razão pelos motivos abaixo elencados.
No caso da pesquisa efetuada, a mesma compara preço de boi gordo com preço de corte de carne desossada, sendo que são produtos diferentes.
Carne desossada é um produto beneficiado, e quanto maior valor agregado dos produtos beneficiados, menor a indexação dos mesmos à matéria prima, no caso o boi gordo.
As variações de preço são diferentes em cada um dos itens que compõe a cesta de preços que formam o preço do produto final.
Assim a indexação do preço de produtos cárneos ao preço do boi gordo, pode ser uma forma simplista e errada de avaliar os ganhos dos diversos elos da cadeia.
Se avaliarmos alguns itens que formam o preço do produto final carne embalada, veremos que tiveram índices diferentes de inflação. Por exemplo: salário mínimo, energia combustíveis e embalagens, assim pode-se justificar o aumento da diferença do valor da receitas.
Quando avaliarmos a evolução receita líqüida dos diversos elos, possivelmente encontraremos uma diminuição considerável da receita líqüida de todos os integrantes da cadeia, visto que, conforme mostra o texto, a receita bruta dos frigoríficos diminuiu.
Em síntese, temos uma diminuição da receita bruta, um aumento das despesas formada pelos demais itens que formam o preço final, temos uma diminuição do valor pago aos produtores e da receita líqüida dos frigoríficos, que estão prensados pelo mercado atacadista não conseguindo repassar os aumentos ao consumidor, assim, dividindo a conta com o produtor.
Porém existe uma tendência natural histórica de acomodação e redistribuição de valores, equilibrado pela lei da oferta e da procura. Porém, em algumas cadeias produtivas, esta acomodação é mais lenta em função da lentidão do próprio ciclo produtivo.
Nunca devemos esquecer : “nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco”.
Assim quando o bolo diminui, todos perdem.
Perdoem a insistência , mas lendo as outras cartas sobre este artigo, que volto a dizer, transparente e elucidativo, me senti na obrigação de escrever um pouco mais e pedir ao competente economista, se possível, fazer as evoluções dos valores da carne, agora deixando de lado o mercado interno e mostrar claramente o mercado externo.
Com freqüência, nós escutamos alguns dizerem que o pecuarista não ganha, porque é incompetente, não sabe sequer o custo do seu boi, e por aí vai…Acredito que são poucos, bem poucos. No entanto a quantidade de frigoríficos com este perfil não é pequena.
Vamos então esquecer estes teimosos, e nos ater somente àqueles que seguiram todas as recomendações das indústrias: vacinas, precocidade, acabamento de carcaça, preservação do couro e, finalmente, a rastreabilidade, para que obtivéssemos uma rentabilidade melhor, vendendo somente para os frigoríficos exportadores.
Gostaria de ver estes números, ainda que o dólar esteja em baixa e considerando que as indústrias recolham todos os impostos.
Lendo hoje 25/4/2008 o artigo e os comentários podemos constatar que:
1-os frigoríficos bem administrados, com ou sem BNDES, estão ampliando suas plantas, comprando novas plantas, comprando plantas no exterior, ampliando e diversificando seus negócios, mas sem abandonarem o negócio de carne. Os recursos para isto estão saindo do bolo.
2-os custos aumentaram para todos, um pouco mais para uns que para outros, mas é certo que os pecuaristas se não estão tendo prejuizo estão com a continuidade do negócio ameaçada e muitos estão abandonando a atividade.
3-sempre há alguém abandonando uma atividade para ingressar em outra por diversos motivos, má administração, outra visão dos negócios, baixa lucratividade, saco cheio. Mas ninguém, mesmo de saco cheio abandona uma atividade lucrativa, e nunca se viu tanta liquidação de rebanho como estamos vendo.
Tem alguma coisa errada e não é dentro da porteira da fazenda como sugere alguns. União, tente unir todos da sua familia e depois vem conversar sobre isto. Cada um tem um calo e um sapato diferente, cabeça então nem se fala, tanto que sobre um bolo e as suas fatias gera-se tanta polêmica.
O fato é que investindo em melhoria de pastagem, conservação de água e solo, plantando melhores gramineas e leguminosas, pastejo rotacionado, sombreamento de pastagem, sincronizando cio, padronizando lote, acompanhando e selecionando por precocidade e ganho de peso, selecionando o sal mineral pelo melhor custo e desempenho, treinando pessoal de manejo, conservando o ambiente, investindo no social.
Todos os meus indices técnicos de produtividade, sociais, ambientais estão acima da média e sempre melhorando, mas, mesmo assim, está a cada ano mais dificil fechar as contas no final do exercício e estou a 30 anos nesta atividade sempre procurando fazer o melhor com o menor custo, alguém está comendo o meu lucro.