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Aspectos da suplementação de bovinos de corte durante o período das águas

A resposta produtiva de animais suplementados em pastejo, é dependente das característica da pastagem, tipo de suplemento, forma de fornecimento, bem como o potencial genético produtivo dos animais. A prática da suplementação protéica e/ou energética de animais em pastejo durante o período de pleno crescimento forrageiro, é questão mais recente e alguns resultados apontam no sentido de desenvolvimento de uma nova forma de manejo nutricional dos ruminantes.

Winter et al. (1991), ao revisar os índices de ganho de peso médio na Austrália, durante o período das águas, encontrou valores de até 700g animal/dia. Dados semelhantes são observados nas condições de produção do Brasil Central. Por outro lado, para as regiões temperadas são observados ganhos diários maiores, ainda que parte destas diferenças possa ser atribuída aos diferentes potenciais zootécnicos das raças criadas nessas regiões. Os aspectos nutricionais relacionados às características das plantas forrageiras tropicais e temperadas, explicam também parte dos resultados obtidos, devido à características histológicas, físicas e químicas das plantas forrageiras.

Segundo Poppi & Mclennan (1995) existem poucas informações sobre o quanto a proteína é limitante no período das águas para forragens de climas tropicais, e que suplementações de bovinos em pastejo de forragens de alta qualidade apresentam resultados pouco efetivos. Porém, ao lançar mão de suplementos com altas quantidades de proteína, principalmente no período inicial das águas, pode-se obter melhores respostas em ganho de peso. Alguns aspectos do suprimento protéico para animais em pastagens no período vegetativo, revistos por Poppi & Mclennan (1995), permitem identificar uma relação entre a transferência da proteína ingerida e a matéria orgânica fermentável no rúmen. As perdas de proteína, ou transferência incompleta da proteína dietética para o intestino ocorreriam quando a relação entre teor protéico e matéria orgânica fermentável (MOF) excedesse 210 g de proteína bruta (PB)/ kg de MOF. O valor de 210 g de PB/ kg de MOF poderia ser utilizado para identificar situações nas quais ocorreriam perdas significativas de nitrogênio. Porém, uma relação de 160 g de PB/kg de MOF já seria o suficiente para ocorrer passagem de proteína para o intestino. Vale ressaltar que essas relações foram obtidas para pastagens temperadas.

Andrade & Alcalde (1995) citaram trabalhos onde foram utilizadas suplementações de verão com fontes protéicas menos degradáveis no rúmen, como a farinha de carne, com acréscimo de cerca de 300 g no ganho de peso. Os autores ainda sugeriram, baseando-se em outros trabalhos, a utilização estratégica das fontes de proteína, usando-se fontes menos degradáveis no período das águas e de fontes degradáveis no período das secas.

Já Ruas et al. (2000) avaliaram a suplementação protéica (40,8% PB) para vacas de corte durante o período das águas, e observaram aumento na ingestão diária de matéria seca e nos ganhos de peso das fêmeas recebendo suplementação em relação às não suplementadas.

Zervoudakis et al., (2001) utilizando novilhos cruzados e suplementação energético/protéico (20% PB) à base de milho e farelo de soja ou farelo de trigo e farelo de soja, não observaram diferenças no desempenho dos animais suplementados e não suplementados mantidos em pastagens de Brachiaria decumbens. A falta de resposta à suplementação nesse trabalho provavelmente se deve às altas disponibilidades de forragem e níveis de PB, que foram de 7000 Kg/ha e 9 % PB, respectivamente. Isso permitiu que os animais selecionassem uma dieta com níveis adequados de nutrientes.

Em situações em que excesso de forragem é disponível para o pastejo, o fornecimento de suplementos energéticos aumenta o total de alimento consumido, porém pode haver um efeito de substituição da ingestão de forragem pelo suplemento, quando a quantidade de suplemento ultrapassa valores de aproximadamente 1% peso vivo dos animais. A diminuição do consumo de forragem, pelo fornecimento do suplemento, retrata um coeficiente de substituição maior que zero, sendo que em ocasiões em que não há decréscimo no consumo de forragem com a suplementação, o coeficiente de substituição é nulo (Minson, 1990).

O coeficiente de substituição é variável com o tipo de suplemento, o tempo de alimentação e a qualidade da forragem, mas não é afetada pela espécie de ruminante, ou pela forma de produção. Com respeito à qualidade da forragem, maiores coeficientes de substituição são encontrados quando a forragem está com alta qualidade e sem restrição de oferta (Reis et al., 1997). Contudo, o efeito de substituição é diretamente afetado pela concentração de nutrientes na pastagem em questão, particularmente quando concentrados são fornecidos. Em situações em que a pastagem é de baixa qualidade, o suplemento fornecido aumenta a eficiência da fermentação ruminal, mas se o mesmo suplemento for fornecido para animais em pastagem com quantidades maiores de energia disponível, poderá atuar na diminuição da digestão de componentes estruturais da dieta.

Segundo Minson (1990), a diminuição no consumo de forragem causado pela suplementação energética é associado com uma progressiva diminuição no tempo de pastejo, razão de bocado, e tamanho de bocado, conforme é aumentado a quantidade de suplemento fornecido. A redução no consumo de forragens é mais influenciada por fatores comportamentais do que limitações nutricionais, sendo que com o fornecimento de fontes de nutrientes prontamente disponíveis na forma de suplementos concentrados, os animais expendem menor esforço em pastejar, diminuindo assim o consumo de forragens.

Karn (2000), avaliou o desempenho de novilhos de corte durante cinco anos consecutivos e observou melhores respostas para suplementação energética em relação à suplementação protéica, durante o período das águas. O autor citou que, a resposta à suplementação está diretamente relacionada à disponibilidade e qualidade da forragem, e que provavelmente a quantidade de proteína das pastagens atingem os níveis exigidos pelos animais no período das águas.

Ao se utilizar a suplementação de bovinos de corte nas regiões tropicais, devemos nos focar no fato de que a deficiência energética é bastante diminuída, e que a deficiência protéica vai variar durante o período, sendo menor nos períodos inicial e final (transição águas/secas).

Observação: É proibida a utilização de farinha de carne como fonte de proteína para alimentação de bovinos no Brasil, segundono instrução normativa do MAPA de 17/07/01. A citação foi fetia, para manter a fidelidade ao trabalho de pesquisa dos autores.

Referências bibliográficas

ANDRADE, P.; ALCALDE, C. R. Nutrição e alimentação de novilho precoce. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE NOVILHO PRECOCE. Campinas, 1995. Anais. Campinas: CATI, 1995. p. 93-109.

KARN, J. Supplementation of yearling steers grazing northern great plains rangelands. Journal of Range Management, v. 53, n. 2, p. 170-175, 2000.

MINSON, D.J. Forage in ruminant nutrition. San Diego: Academic Press, 1990, cap. 2, p. 9-58.

POPPI, D.P.; McLENNAN, S.R. Protein and energy utilization by ruminants at pasture. Journal of Animal Science, v. 73, n.1, p. 278-290, 1995.

REIS, R.A.; RODRIGUES, L.R.de.A.; PEREIRA, J.R.A. A Suplementação como estratégia de manejo de pastagem. In: SIMPÓSIO SOBRE O MANEJO DA PASTAGEM, 13., Piracicaba, 1996. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1997. p. 123-151.

RUAS, J.R.M.; TORRES, C.A.A.; VALADARES FILHO, S.C.; PEREIRA, J.C.; BORGES, L.E.; MARCATI NETO, A. Efeito da suplementação protéica a pasto sobre consumo de forragens, ganho de peso e condição corporal, em vacas Nelore. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia. v. 29, n. 3, p. 930-934, 2000.

WINTER, W. H.; WINKS, L.; SEEBECK, R. M. Sustaining productive pastures in the tropics. Tropical Grassland, v. 25, n. 1, p. 145-156, 1991.

ZERVOUDAKIS, J.T.; PAULINO, M.F.; DETMANN, E.; LANA, R.P.; VALADARES FILHO, S.C.; CECON, P.R., QUEIROZ, D.S.; MOREIRA, A.L. Desempenho e características de carcaça de novilhos suplementados no período das águas. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia. v. 30, n. 4, p. 11381-1389, 2001.

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