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Aspectos importantes da suplementação de bovinos a pasto durante o período de secas

A estacionalidade das forrageiras tropicais afeta a produção de bovinos de corte baseada em pastagens, apresentando característica marcante na curva de crescimento dos animais, com períodos de ganho de peso satisfatório, intercalados com períodos de baixo desempenho ou perda de peso. Essa variação no desempenho de animais em pastejo está diretamente relacionado à variação no crescimento e na qualidade nutricional das gramíneas tropicais, sendo que aproximadamente 70 a 80% da produção anual das forrageiras tropicais, concentra-se nos meses de verão, produzindo somente 20% no período de inverno. O baixo desempenho dos animais nas estações secas (inverno), leva ao aumento da idade de abate e conseqüentemente queda na taxa de desfrute da propriedade. Em situações em que a disponibilidade da forragem pastejada é muito baixa para alcançar as exigências energéticas dos animais, alguma forma de suplementação deve ser praticada para manter os níveis de produção desejados, e/ou minimizar as perdas de peso.

Além do aspecto do desempenho animal, a estacionalidade de produção encontrada nas gramíneas tropicais causa oscilações entre oferta e demanda de forragem dentro do sistema produtivo, afetando a relação UA (unidade animal)/forragem disponível. O balanço entre a oferta e a demanda é utilizado para estabelecer “potencial” taxas de lotação do sistema, e deste balanço é que virão as decisões quanto à necessidade de suplementação alimentar (volumosa e ou de concentrados) para elevação ou a manutenção da produtividade. Assim, a suplementação é uma estratégia que o produtor pode lançar mão para aumentar o total de alimento consumido pelos animais, quando a produtividade das pastagens, e/ou qualidade da forragem é baixa. Portanto, a resposta produtiva de animais suplementados em pastejo é dependente das características da pastagem, tipo de suplemento e forma de fornecimento, bem como o potencial produtivo dos animais (Hodgson, 1990). Os suplementos alimentares podem ser oferecidos com o objetivo de corrigir deficiências específicas de nutrientes para animais em pastejo, ou para assegurar uma transição segura na mudança de manejo alimentar (Hodgson, 1990).

Manella et al. (2000), avaliaram a suplementação para animais em pastagens de Brachiaria bryzantha, sem limitação de oferta de forragem, utilizando suplementos durante o ano todo (ANO), somente na seca (SECA), suplementação com banco de proteína de leucena (BANCO) ou apenas a suplementação mineral (MINERAL). Verificaram ganhos consideráveis por unidade de área (kg PV/área) e por animal (kg PV/animal), à medida que a suplementação foi intensificada (tabela 1).


A suplementação de bovinos de corte em pastejo com alimentos concentrados, é feita com ingrediente único ou misturas múltiplas, fornecendo um maior aporte de nutrientes para o animal. Os suplementos são comumente denominados protéicos ou energéticos, de acordo com a quantidade de proteína bruta (PB) apresentada, sendo protéicos os suplementos com mais de 18% de PB, e energéticos os suplementos com valor de PB abaixo disso. É importante salientar que atualmente não existe legislação em relação às misturas múltiplas, podendo acontecer de estarem sendo comercializados produtos como “suplemento protéico”, que não apresentem 18% PB, ou essa proteína ser oriunda somente de fonte de nitrogênio não protéico (uréia).

Segundo revisão de Moore et al. (1999) em 66 publicações sobre o efeito da suplementação em bovinos de corte, totalizando 444 comparações entre tratamentos suplementado, não suplementado e controle, foram observadas as seguintes características:

  • Maiores aumentos no ganho de peso foram com: forragens melhoradas, suplementos com >60% NDT, e suplemento com consumo de PB > 0.05% do peso vivo;
  • Suplementos diminuem o consumo voluntário de forragem quando: o NDT fornecido pelo suplemento é >0.7% do peso vivo, ou quando a forragem tiver proporção NDT:PB <7 (adequado N), ou o consumo de forragens for >1.75% do peso vivo;
  • Suplementos aumentam o consumo de forragens quando: a forragem apresentar proporção NDT:PB >7 (déficit N), ou o consumo voluntário de forragem for muito baixo (características da forragem);
  • Houve pouca relação entre mudanças no consumo voluntário de forragens e diferentes ingredientes protéicos e energéticos do suplemento.

O fornecimento de suplementos energéticos para animais em pastejo em forragens tropicais objetiva um maior desempenho individual, com a exploração do mérito genético do animal, ou uma maior capacidade de suporte por unidade de área explorada. Na tabela 2, verifica-se que dentro das circunstâncias do experimento, houve um melhor desempenho na produtividade da área explorada (kg PV/ha), do que do desempenho individual (kg PV/animal). Esse fato mostra que o fornecimento do suplemento ocasionou queda na ingestão de forragens, possibilitando aumento na lotação, e consequentemente na produção por área, não havendo aumento no desempenho individual.


As fontes de energia suplementar são de grande diversidade, incluindo grãos, fontes de fibras rapidamente digestíveis, fontes ricas em açúcar (melaço) e forragens de alta qualidade. Ao contrário da suplementação protéica em condições de pastos com alta disponibilidade, mas baixa qualidade, a suplementação energética em grandes quantidades (>1%PV), promoverá queda no consumo de forragem, devido à queda no pH ruminal, diminuindo a atividade das bactérias celulolíticas e com isso uma menor digestão da fibra. Reduções no consumo de forragem, sejam em pastejo ou em animais confinados devido à suplementação energética, é denominada como efeito de substituição.

Segundo Hodgson (1990), o efeito de substituição é definido como a diminuição no consumo de forragem, expressado como proporção da quantidade de alimento alternativo oferecido.

Em situações em que existe excesso de forragem disponível para pastejo, o fornecimento de suplementos energéticos tende a aumentar o total de alimento consumido, podendo haver efeito de substituição. A diminuição do consumo de forragem, pelo fornecimento do suplemento alimentar, retrata um coeficiente de substituição maior que zero. Quando não ocorre decréscimo no consumo de forragem com a suplementação, o coeficiente de substituição é nulo (Minson, 1990).


Segundo Minson (1990), a diminuição no consumo de forragem causado pela suplementação energética está associado também a uma progressiva diminuição no tempo de pastejo, número de bocados, e tamanho de bocado, conforme aumentada à quantidade de suplemento fornecido.

O coeficiente de substituição é variável com o tipo de suplemento, tempo de alimentação e qualidade da forragem (Tabela 3).


Com respeito à qualidade da forragem, maiores coeficientes de substituição são encontrados com forragens de alta qualidade e sem restrição de oferta (Haddad e Castro, 1998). Contudo, o efeito de substituição é diretamente afetado pela concentração de nutrientes na pastagem em questão. Em situações em que a pastagem é de baixa qualidade, o suplemento fornecido tende a aumentar a eficiência da fermentação ruminal, melhorando o ambiente ruminal e aumentado a digestão de fibras.

Referências bibliográficas:

HADDAD, CM.; CASTRO, F.G.F. Suplementação mineral e novilhos precoces – uso de sais proteinados e energéticos na alimentação. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE GADO DE CORTE. Anais,….Campinas, SP, 1998. p.188-232.
HODGSON, J. Grazing management. Science into practice. Longman Group UK LTDA. England, p.135-142. 1990.
MANELLA, M.Q.; LOURENÇO, A.J.; LEME, P.R. Bovinos nelore em pastos de Brachiaria brizantha com suplementação protéica ou com acesso a banco de poretína de Leucaena lecocephala. In: REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 37.,Viçosa, MG. 2000. Anais…Viçosa: SBZ, 2000. 0693.
MINSON, D.J. Forage in ruminant nutrition. Academic Press, New York. 483p. 1990.
MOORE, J.E.; BRANT, M.H.; KUNKLE, W.E. et al. Effects of supplementation on voluntary forage intake, diet digestibility and animal performance. Journal Animal Science. v. 77, suppl. 2/j. v.82. p. 122-135. 1999.

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  1. Tiago Jóse de França Ramos disse:

    Bom dia,

    Gostaria de saber se eu conseguiria ter bons ganhos utilizando um protéico de 40 % de PB no período da seca, em animais de 400 Kg consumindo 0,500 g do produto em pastagens de Brachiaria Brizantha. O uso do produto é recomendado pelo fabricante a dosagem de 1,2g/Kg/PV.

    Resposta do autor:

    Prezado Tiago,

    Os ganho vão depender da qualidade dos ingredientes utilizados e da capacidade de ganho dos seus animais. Porém, nesse nível de suplementação, você conseguirá ganhos moderados – 300-500g/cab/dia. Volto a ressaltar que os ganhos vão depender da qualidade dos ingredientes utilizados e dos animais, bem como do manejo de cocho.

    Forte abraço.

    André Alves de Souza