O Conselho Nacional de Lácteos da França (CIDIL) recentemente completou a segunda fase de sua pesquisa cultural sobre as percepções dos consumidores com relação a alimentos, saúde e corpo. Os resultados destacaram as diferenças culturais entre seis nacionalidades ocidentais a respeito de quais alimentos são considerados como os mais saudáveis, como o alimento é importante para uma boa saúde, o que significa “comer bem” e se esta é uma fonte de preocupação, lamento ou satisfação.
O estudo foi conduzido pelo centro de pesquisa Observatoire CIDIL de l’Harmonie Alimentaire, do CIDIL. Os resultados completos do estudo e suas implicações serão discutidos por uma equipe internacional de especialistas durante um dia de um simpósio no dia 25 de setembro, que fará parte do 26o Congresso Mundial do Leite, em Paris.
“Preocupações com relação a comer direito não parecem ser efetivas quando têm o objetivo de evitar problemas de saúde como a obesidade. Nações como os Estados Unidos, em particular, sofrem de ansiedade nutricional aguda. Na Itália e na França, as pessoas mantêm seu foco principalmente no prazer de se compartilhar o momento das refeições”, disse o líder no estudo do OCHA e diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, Claude Fischler.
“Os comerciantes precisam se adaptar a algumas tendências de consumo que observamos neste estudo, como por exemplo, a solicitação de maior variedade e mais informações sobre o alimento consumido. Nós precisamos ajudar os consumidores a aumentar seu prazer de comer e a se preocupar menos. O estudo também enfatizou algumas diferenças culturais importantes, como por exemplo, as percepções de quais os alimentos bons para a pessoa, como o alimento é importante para uma boa saúde e o que significa ‘comer bem’ do ponto de vista dos consumidores”, disse o diretor-gerente do CIDIL e vice-chefe do Comitê Permanente de Marketing da Federação Internacional de Lácteos, Yves Boutonnat.
Os dados que se seguem são baseados em uma pesquisa feita por telefone entre setembro e outubro de 2001 nos seguintes países: Reino Unido, EUA, França, Alemanha, Itália e Suíça (a parte que fala francês). Mais de mil pessoas foram entrevistadas, incluindo o público geral, médicos e professores. Uma informação interessante deste estudo é que os médicos tendem a concordar com seus compatriotas mais freqüentemente do que com médicos de outros países. Entretanto, os médicos em geral estão mais convencidos de que atualmente os alimentos estão mais higiênicos e apresentam melhores informações do que antes. A segunda fase do estudo foi feita baseada em grupos de diferentes países em 2000 e 2001.
Paradoxo francês: os britânicos dão uma melhor “pontuação de saúde” ao vinho do que os franceses
Quando o assunto em questão gira em torno dos benefícios dos alimentos, europeus e norte-americanos tendem a concordar: frutas e vegetais têm a pontuação mais alta, seguidos por peixes. A exceção está na França, onde os peixes foram substituídos por produtos lácteos, e na Suíça, onde os peixes dividem o terceiro lugar com os cereais. A carne teve sua melhor avaliação na França e os cereais, na Alemanha e na Suíça. Quando foi solicitado que os consumidores dessem uma nota de 1 a 10 aos alimentos, sendo 0 um alimento não saudável e 10 o mais saudável de todos, os europeus deram uma nota maior que a média, – 5,28 de 10 -, ao vinho, com os maiores defensores do vinho sendo os britânicos (5,87), comparados com os franceses (5,41). Entretanto, o vinho foi bem menos considerado pelos norte-americanos, com 4,44.
Apesar dos recentes medos relacionados à segurança dos alimentos, a carne foi classificada de forma geral com uma nota 6,51, com as percepções mais positivas dos consumidores na França (6,84), e menos positivas na Alemanha (5,95). No Reino Unido e nos EUA, as carnes ficaram com notas 6,47 e 6,66, respectivamente.
Em termos de produtos lácteos, no Reino Unido as respostas mostraram que os consumidores acham que estes produtos são levemente mais saudáveis do que as carnes (6,5), e, na França, Alemanha e Suíça, esses produtos foram classificados como muito mais saudáveis do que as carnes, com as notas variando entre 8,2 e 8,5. Nos EUA, a nota dos produtos lácteos foi 7,68. Enquanto a maioria dos consumidores europeus considera produtos lácteos crus saudáveis, no Reino Unido e nos EUA os consumidores são cautelosos com relação aos produtos não pasteurizados, classificando-os com notas 4,2 e 4,6, respectivamente. Por outro lado, os norte-americanos tendem a achar que a vitamina A e a vitamina D aumentam o valor do leite, como um benefício para a saúde (nota 7,22), diferentemente dos consumidores da Alemanha (nota 3,94).
Tabela 1 – Alimentos saudáveis: notas atribuídas para alimentos familiares
Você é o que você come… e como você come
Quando questionados na classificação de importância do alimento para uma boa saúde, a nota média foi 8,99, com o maior valor no Reino Unido (9,46) e nos EUA (9,46). Os suplementos de vitaminas não foram considerados, de forma geral, como muito importantes (a classificação média foi 4,4), exceto nos EUA, onde a média foi de 6,02.
Enquanto bons alimentos foram considerados importantes, eles não são a única preocupação. De fato, na Alemanha e na Itália, a prática de exercícios físicos foi considerada mais importante do que a escolha de alimentos saudáveis (8,9 e 8,84, respectivamente).
Como se come também foi considerado importante. A maioria dos alemães tende a considerar uma dieta variada como sendo importante (58%), enquanto no Reino Unido e nos EUA, 25% e 15% respectivamente disseram que “concordam fortemente com isso”, enquanto 58% e 59%, respectivamente, disseram que “concordam na maioria das vezes”. Fazer dietas não foi considerado importante para uma boa saúde de forma geral (nota 5,08), exceto na Itália, onde esta questão recebeu nota 7,13. A verdadeira chave para uma boa saúde para a maioria dos entrevistados é comer com moderação (47% na Suíça e 90% na Alemanha).
Em média, 42% dos entrevistados disseram que acham importante se manter atualizados sobre as últimas informações referentes aos alimentos, apesar de surpreendentemente os britânicos terem se mostrado pouco preocupados (19%).
Tabela 2 – Fatores considerados importantes para se manter uma boa saúde (classificações)
Tabela 3 – Princípios básicos de uma dieta saudável: porcentagem dos que concordam fortemente
Comer bem: sacrifício ou prazer? Uma preocupação para os norte-americanos, um prazer para os franceses
Para os EUA, comer bem é primeiramente uma questão de selecionar cuidadosamente os nutrientes certos e comer as quantidades certas de alimentos – em particular, sem muitas calorias. Para muitos, esta é uma preocupação diária. “Eu penso que comer é uma obrigação”, disse um jovem norte-americano entrevistado, que explicou: “Quer dizer, considere a pirâmide nutricional que supostamente você tem que seguir. Você teria que comer tanto pão, tanta carne, tanta proteína todos os dias, tanta fruta… É impossível segui-la”. No Reino Unido, por outro lado, as pessoas tendem a justificar em termos de economia de tempo e dinheiro: conveniência é o que conta.
Na França, Suíça, Itália e Alemanha, comer bem é muito mais uma questão de compartilhamento e convivência, apesar de haver pequenas diferenças entre estes países. Na Alemanha, o fato de se comer em família parece ser mais importante do que a alimentação em si. Para os italianos, o conteúdo da refeição é tão importante quanto o compartilhamento. Muitos franceses valorizam bastante a refeição feita na companhia de amigos e familiares: eles falaram sobre estar no país, ter tempo para cozinhar e apreciar uma comida simples quando em boa companhia.
Nostalgia
Você ganha em algumas coisas e perde em outras… de forma geral, 87% dos entrevistados acreditam que a alimentação moderna ganhou em escolha, 78% em informação dos alimentos, 76% em higiene dos alimentos e 50% nos benefícios para a saúde. Por outro lado, 68% registraram uma perda na tradição e 57% uma perda na confiança, como era esperado após os recentes acontecimentos.
Parece haver uma divisão entre os países latinos e as demais nações. A França, a Itália e a Suíça, na parte que fala francês, consideram de forma mais comum que os alimentos perderam um pouco de sabor, qualidade e tradição (por exemplo, 67% dos franceses entrevistados citaram uma perda no sabor, enquanto 51% dos italianos citaram uma perda na qualidade).
Isto contrasta severamente com os participantes dos EUA, Alemanha e Reino Unido, que acham que os alimentos oferecidos hoje em dia têm o mesmo ou até mais sabor e qualidade (75%, 68% e 61%, respectivamente de sabor; 69%, 69% e 75% de qualidade). A vasta maioria dos entrevistados do Reino Unido mencionou também um aumento na escolha e na variedade (94% e 89%) e na apreciação dos alimentos (65%). O Reino Unido também considera que eles são mais saudáveis hoje (56%), comparados com 48% dos italianos, que consideram que são menos saudáveis.
Em termos de segurança dos alimentos, a maioria dos entrevistados reportou uma perda na confiança (57% do total), com França, Suíça e Reino Unido se mostrando mais preocupados (64%, 61% e 64%, contra 44% dos EUA). Os italianos se mostraram mais confiantes, com 38% reportando um aumento, comparado com uma média de 23%.
Com relação ao tempo gasto ao se alimentar, 57% dos alemães disseram que estão gastando menos tempo, contrastando fortemente com os franceses – 62% dos entrevistados disseram que gastam mais tempo na mesa do que antes.
Quando questionados se prefeririam estar no passado, no presente ou no futuro quando vão comer, muitos escolheram o passado (entre 25-31% do Reino Unido, Suíça e França, e 44% dos norte-americanos). Entretanto, a maioria está feliz com o presente.
Fonte: Just-Food.com