Fechamento 11:44 – 03/06/02
3 de junho de 2002
ABC apresenta novas opções de rastreamento de animais e amplia o Fórum de Discussão sobre Rastreabilidade Bovina
5 de junho de 2002

Atraso na rastreabilidade bovina compromete vendas externas

O atraso do Brasil em implantar o programa de rastreabilidade da origem e da qualidade da carne bovina, uma exigência da Comunidade Européia, está prejudicando as vendas do produto no mercado externo. Segundo Nelson Pineda, diretor de informática da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), a Europa exige o certificado de origem da carne importada desde 1998 e o atraso pode fazer o país perder espaço no mercado externo.

Outra preocupação, apontada pelo engenheiro agrônomo e diretor do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Célio Gomes Floriani, é que os países que não estavam exportando, devido à problemas com a febre aftosa e a doença da “vaca louca”, estão retornado ao mercado. Ele disse que o Brasil exporta cerca de 15% de sua produção e teme perder este mercado, “temo que o Brasil não repita neste ano a exportações de 2001, quando embarcamos 800 mil toneladas de carne bovina”.

As indefinições sobre o programa de rastreabilidade também preocupam o engenheiro quanto ao aumento do preço da carne no Brasil. “Se o consumidor brasileiro também passar a exigir a certificação, o que é muito natural, o custo pode aumentar para o produtor e ser repassado ao consumidor”, destaca.

Floriani disse ainda que há três barreiras no processo. A primeira é o custo do brinco ou chip. A falta de eletricidade em muitas propriedades é outro entrave e nesta situação não há como exigir que o produtor tenha computador e sistemas informatizados. E a falta de preparo da mão-de-obra é a terceira barreira.

Pineda explica que as exigências estão sendo confundidas, de uma forma generalizada, pelos envolvidos na cadeia produtiva da carne. “Há três nomenclaturas que devem ser entendidas: identificar é estabelecer a identidade; rastrear implica a capacidade de encontrar o histórico da utilização ou localização de um produto qualquer por meio de identificação registrada; certificar consiste em aplicar um conjunto de medidas que permita auditar um processo ou produto para afirmar, atestar, convencer ou asseverar alguma coisa a respeito do produto, sobre o processo de produção, qualidade ou a origem do mesmo. A outra preocupação é que o mesmo órgão não pode ser responsável por estes três serviços e que a identidade da rês deve ser única no Brasil, não variando de estado para estado”, explica.

O número único dentro do sistema de controle nacional e a identificação individual dos animais através da marca a fogo, tatuagem, brinco ou microchips é simplesmente a primeira etapa do processo que envolve a rastreabilidade, como explica Pineda. Porém, a sua implantação está variando de país para país, de acordo com os hábitos alimentares dos consumidores e a sua classificação no mercado mundial como importador ou exportador.

O presidente da Comissão Técnica de Pecuária do Corte da Federação da Agropecuária de Minas (Faemg), Paulo Roberto Gomes de Almeida, disse que o entrave para o desenvolvimento do programa no Brasil é que as regras ainda não estão definidas pelo governo. “Não sabemos quem serão os responsáveis pela certificação e nem se o governo vai liberar linhas de crédito para os pecuaristas se adequarem ao programa. Temos o prazo até 2007 para que o rebanho brasileiro, composto por aproximadamente 170 milhões de cabeça, esteja integralmente identificado em termos de origem, manejo e sanidade”.

Segundo ele, o setor agropecuário brasileiro, responsável por 42% do PIB nacional, deveria ter mais atenção por parte do governo e da iniciativa privada. “Temos a melhor carne do mundo, pois no Brasil não se faz uso de hormônios e não há problemas com doenças, mas, apesar disso, se não nos adequarmos às exigências mundiais, ficaremos fora do mercado”, completa.

Empresas certificadoras

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deve credenciar na próxima semana as cinco primeiras empresas aptas a certificar a carne bovina nacional, atendendo a uma exigência da União Européia, principal consumidor mundial do produto brasileiro. Só em 2001, foram vendidos US$ 2,7 bilhões em carne bovina, fresca e industrializada, e aves. Por isso, os pecuaristas estão atentos às novas exigências dos 15 países da UE, que a partir de julho só vão importar a carne bovina rastreada.

Segundo o Secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Luiz Carlos Oliveira, não há necessidade do Brasil pedir prorrogação do prazo em que o bloco europeu passará a comprar apenas carne rastreada, 30 de junho. As empresas certificadoras já estão rastreando e identificando a origem de bovinos e bubalinos e os animais já rastreados serão automaticamente incorporados ao Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov).

O secretário rebateu as críticas da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, que discorda da falta de padronização na rastreabilidade. Segundo Oliveira, os métodos diferentes de rastrear permitem aos pecuaristas mais opções na hora de escolher a forma de identificação que vai aplicar em seu rebanho.

Os técnicos do Mapa começaram na semana passada e devem concluir no final desta semana as vistorias nas cinco empresas certificadoras. O objetivo é avaliar a confiabilidade do sistema.

Fonte: Gazeta Mercantil (por Karlon Aredes) e Clic RBS/Agrol, adaptado por Equipe BeefPoint

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