Nos últimos meses assistimos uma grande valorização de nossas terras. Alguns atribuem esta valorização aos efeitos das pesquisas eleitorais, outros aos efeitos da crise econômica causada pelas pesquisas eleitorais e também ao fato de que estas terras estavam já, há muito tempo, com seu valor defasado.
Independente ao motivo desta valorização, o importante para nós proprietários e produtores rurais, é a visualização deste fato na perspectiva gerencial dos nossos negócios.
Tenho enfatizado em meus artigos e nas palestras que tenho feito, a importância de nos tornarmos empresários. Visualizarmos nossa atividade de forma empresarial. Tomar as rédeas do negócio, deixar de lado o sentimentalismo que dita o que somos e fazemos. Não podemos ser pecuaristas porque nossos pais e avós foram. Ter terra porque herdamos ou por nostalgia de ser fazendeiros.
Quando coloco proprietários e produtores rurais em evidência é para enfatizar que atuamos em dois segmentos ao mesmo tempo. Somos empresários imobiliários no que diz respeito à terra e empresários rurais quando atuamos na produção pecuária.
Como empresários imobiliários devemos gerir nosso negócio do ponto de vista imobiliário. Disponibilizamos capital para investimento em terras cujo retorno não se dá somente com a valorização. O sistema produtivo deve pagar arrendamento ao sistema imobiliário, como se estivéssemos atuando em terra alugada. O lucro efetivo com a valorização, ocorre quando é realizada a venda do investimento.
Como produtores rurais devemos conduzir a atividade produtiva de forma empresarial, tornando-a uma opção de investimento. Disponibilizamos capital para investimento que se transforma em recursos para serem aplicados na atividade produtiva que deve gerar produtos a serem comercializados para remunerar o capital investido.
Portando fica claro que atuamos em duas atividades empresariais que se complementam. Como gestores destes investimentos, sejam eles imobiliários, produtivos ou ambos, devemos estar aptos a contabiliza-los gerencialmente separadamente, embora nos pareçam uma única atividade.
Cada um destes investimentos deve ter seu balanço patrimonial e seu demonstrativo de resultados.
Isto é extremamente interessante, principalmente em momentos como o que vivemos.
Para exemplificar, vou citar uma situação real: há alguns anos um empresário, enxergando a oportunidade de investimentos em terras no Estado de Mato Grosso, adquiriu uma propriedade na região do Vale do Araguaia.
A partir do momento da compra, o empresário passou a monitorar somente seu investimento imobiliário, já que não pretendia atuar como produtor nesta propriedade.
Com o passar do tempo, a região começou a se mostrar viável para a pecuária de corte. Vislumbrando ganhos na atividade produtiva, investiu na recria e engorda de bovinos e passou a monitorar este investimento separadamente do anterior, embora sua atividade pecuária fosse exercida em sua propriedade (atividade imobiliária).
Para efeitos gerenciais, a atividade pecuária pagava, para a atividade imobiliária, aluguel de pasto, de acordo com o preço regional.
De algum tempo para cá, observou-se a queda na lucratividade das arrobas produzidas. A relação de troca do boi gordo pelo bezerro ficou muito desfavorável, comprometendo a lucratividade do investimento produtivo.
Com a fronteira da soja avançando sobre a região, seu investimento imobiliário propicia ganhos expressivos. A receita gerada na atividade imobiliária cresce, pois a atividade produtiva pecuária (aluguel de pasto) é obrigada a pagar o preço exercido pela concorrência da soja.
Assim, insatisfeito com as margens oferecidas pelo investimento produtivo, deslocou este investimento para outra região mais favorável.
Por outro lado, muito satisfeito com seu investimento imobiliário, estuda a possibilidade de arrendar sua propriedade para soja e aumentar sua rentabilidade ou vender a área e realizar o lucro obtido.
A atividade empresarial, independente do ramo de atuação, exige grande concentração gerencial, buscando oportunidades de investimentos, rentabilidades adequadas e realização de lucros.