Por Roberto Ricchiero de Barcellos1
Em função acontecimentos dos últimos anos, especulativos ou não, temos nos deparado com um valor de arroba do boi gordo muito abaixo de nossas expectativas.
Justificativas como relação dólar/real, grande abate de fêmeas, grande oferta de animais e principalmente a estabilização do consumo per capita de carne bovina na última década, me estimulam a fazer estes comentários e propor um novo desafio.
Tecnologias nascem ou são adaptadas diariamente, devido a grande capacitação dos técnicos e profissionais ligados ao setor, visando como objetivo principal um aumento de produtividade, desde melhorias genéticas, buscando precocidade na reprodução de fêmeas e diminuição da idade de abate de animais, avanços nutricionais, com programas que visam ganhos de peso, melhorias dos índices zootécnicos das propriedades, aumento de lotação de pastagens, através do desenvolvimento de variedades mais produtivas, tecnologias de rotação e adubação dos pastos e também programas sanitários cada vez mais eficientes.
O Brasil se tornou a “menina dos olhos” das empresas do mundo todo, inclusive do próprio país, que comercializam e propõe tecnologias para um aumento da produtividade da pecuária de corte.
Será que estamos no caminho certo? Será que o aumento de produtividade pode ser tão rápido como estamos evoluindo? Estamos melhorando os índices produtivos ano após ano; e conseqüentemente aumentando a oferta de animais para abate e o resultado deste saldo nos já conhecemos.
Portanto nosso desafio é de aumentarmos o consumo interno de carne bovina, e uma das ferramentas é através do fortalecimento de entidades que tenham como objetivos defender os interesses dos produtores ou informar as características qualidades e benefícios da carne bovina.
Portanto temos a obrigação de exigir que nossos parceiros, como gostam de ser chamados, que são empresas de comercialização de sêmen, empresas de nutrição animal, laboratórios nacionais e multinacionais, sementes, adubos, máquinas e principalmente os frigoríficos estejam conosco neste desafio e planejem verbas de marketing, para que em parceria com os produtores tenhamos um aumento significativo do consumo per capita da carne bovina brasileira e equilibrarmos a relação de oferta / procura.
Pode ser este um critério de escolha de nossos futuros fornecedores ou prestadores de serviço para juntos aumentarmos a produção pecuária de corte do Brasil.
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1Roberto Ricchiero de Barcellos, agrônomo e diretor de pecuária do Grupo Fischer
15 Comments
Parabéns ao Roberto, faço eco das suas palavras.
Acrescento que devemos cobrar mais das nossas entidades de classe como Federações estaduais de agricultura, sindicatos etc.
É preciso mais ação e menos política dentro destas entidades cujo ojetivo é o de buscar e organizar meios de melhorar as condições de vida da classe que representam.
Na minha opinião e mais fácil adequar a oferta reduzindo nosso rebanho, do que aumentar a renda de toda a população esperando o aumento do consumo de carne vermelha. Não esquecendo que temos concorrência das carnes brancas mais baratas.
Reduzindo o rebanho teremos alguns ganhos como melhora na eficiência. Reduziremos os custos de manutenção, como adubação, limpeza das invernadas. Sobrando pasto, aumenta a produtividade e desfrute do rebanho. Menor lotação menos despesa com limpeza e recuperação de pastagens com vedas.
Reduzindo o rebanho reduziremos a pressão na oferta de gado para abate. Consequentemente os frigoríficos para cumprirem contratos e para manter suas plantas funcionando, e manter presença no mercado serão pressionados a pagar mais pela arroba (lei da oferta e procura).
No final venderemos nossa arroba por mais com certeza, nossa receita aumentará. Basta analisar os números da pecuária para perceber que estamos com um rebanho super dimensionado.
Redução do rebanho é a solução.
Isto já foi feito com o Café. Queimaram-se cafezais, jogou-se café no oceano.
Os Estados Unidos já fez isto com o rebanho leiteiro. Esta é uma decisão gerencial e financeira da classe produtora.
Natanael Cintra
Fazenda Matão – MS
Torna-se a cada dia mais necessário entender que, ainda, em nosso País quem estabelece o cardápio é a renda.
Com isso não se pretende dizer que não sejam necessárias campanhas e estratégias de marketing para divulgar as qualidades da carne bovina e sobretudo, atenuar as falsas idéias e informações sobre insalubridade da mesma.
A solução para uma remuneração mais justa e compatível com a atividade pecuária passa por uma industrialização verdadeira dos frigoríficos, agregando mais valor à matéria prima boi gordo, a de fim de permitir um melhor resultado para o produtor sem afugentar o consumidor.
É preciso, portanto, dentro desse raciocínio, transformar os matadouros de unidades resfriadoras para plantas transformadoras.
Às vezes o óbvio é difícil de entender, mas um dia se chega lá.
Esperamos, quanto mais breve melhor.
O campo brasileiro agradecerá e a cidade sorrirá.
A ideia é perfeita.
Acho que o caminho seria atraves de instituições ligadas à cadeia, e com bom contato com seus socios e com capacidade de dar um fedback a estes, tipo por exemplo a ABCZ e outras associações de raças; Sindicatos de produtores.
O fundo poderia ser administrado pelos proprios doadores, e estes prestariam conta das ações.
Este trabalho já foi iniciado pelo SIC (Serviço de Informação da Carne) que já conta com a participação das principais entidades e empresas ligadas ao setor.
Mas a continuação e o maior alcance desse trabalho depende de verbas, que para uma campanha nacional, são valores muito altos.
Alguns índices mostram que a 5 anos atrás, o consumo de carne percapita no Brasil, estava em 38Kg / ano, mas que em 2004 caiu para 31Kg / ano.
O aumento desse índice, pode provocar um aumento no preço da arroba, maior que o aumento das exportações (que não aumentaram nada a renda do produtor)
Para maiores informações sobre o trabalho do SIC, entrar no site: http://www.sic.org.br
Lendo a carta do Roberto e os comentários dos ilustres colegas, confirmei a minha teoria de que se fazer compreender é realmente muito dificil.
O SIC foi criado há três anos por inciativa de lideranças pecuárias, ou seja produtores que estavam representando sua classe através das principais associações de raça do país, e algumas empresas do setor. O objetivo era e continua sendo informar aos consumidores as características, qualidades e benefícios da carne bovina.
Todavia, ainda não se conseguiu através do SIC uma atuação muito forte, mas tudo que foi feito dentro do quadro adminstrativo e finaceiro foi válido e teve resultado.
Acho que devemos ser coerentes em tudo aquilo que nos propormos a fazer. Só assim, conseguiremos atingir esse objetivo, com a verdadeira união e colaboração da cadeia produtiva, pois apesar de todas as iniciativas do SIC terem sido muito comentadas e elogiadas o verdadeiro combustível para nossas ações infelizmente não é o entusiasmo, precisamos de maiores recursos sim, como disse o Marco mas precisamos muito mais de esforços de todos os envolvidos na cadeia para conseguir aumentar o consumo interno de carne bovina e fazer com o Brasil tenha uma pecuária de corte mais responsável e principalmente mais lucrativa.
Acredito que criar mais entidades e matar boi, não sejam totalmente a solução. Está na hora de investirmos em quem é bom, e criar chances para que o cenário da carne bovina seja respeitado como deve ser. Mas isso só vai acontecer quando o produtor acreditar que ele é a força e fazer extamente o que o Sr. José Joaquim Otaviano Pimente disse: cobrar mais de quem já esta atuando nessa área. As Federações de Agricultura, o Fórum Permanente da Pecuária de Corte e até mesmo o próprio SIC.
É preciso mais ação e menos política dentro destas entidades, se não nunca sairemos do lugar.
O artigo do Roberto Ricchiero de Barcellos está realmente lançando um novo desafio, como agir para não fabricar um Rolls Royce para andar numa estrada de terra?
1. Enquanto não existe um sistema de classificação de carcaças nos frigoríficos, vai ser muito difícil receber mais pela qualidade.
2. Muitas tecnologias são aplicadas na fase de cria, recria e engorda e geralmente tem os seus investimentos recuperados em cada fase, mas também é verdade que faltam ainda bastantes dados sobre o valor estimado de venda de cada carcaça no frigorífico, que dificulta um pagamento maior. Só é possível pagar mais se esta qualidade é determinável e pode ser recuperada na outra ponta da cadeia; e aí está o calo.
3. O pessoal de engorda está muito mais preocupado com a taxa de reposição do que no preço da arroba, e por isso as fazendas de cria sempre levam o pior da história.
4. Eu vejo como uma das principais alternativas, onde possível, fazer a cria, recria e engorda em uma ou mais fazendas do mesmo dono ou grupo. Neste caso os benefícios da tecnologia empregada em todas as fases fazem parte integral do processo e se entra num círculo virtuoso de produção. Também os negócios com os frigoríficos serão muito mais fáceis e principalmente quando o rastreamento é feito logo no nascimento.
5. Aumentar o consumo interno de carne bovina é realmente um desafio para todos os elos da cadeia, mas enquanto isto não ocorre, precisamos nos unir e tirar onde possível os intermediários do processo; assim os resultados ficam para quem criou, recriou e terminou o gado.
O Brasil está abençoada com Luz, Água e Pasto e os sistemas de produção devem maximizar este possibilidade de produzir carne saudável e barata.
Roberto,
Fiquei admirado desse artigo vir de você, pois a Fischer é um exemplo dos poucos projetos de sucesso nas negociações diferenciadas com os frigoríficos pela excelente qualidade de carcaça que fornece e pela escala de produção. No entanto, é consenso que juntamente ao aumento de exportação aos paises que pagam melhor nossa tonelada de carne (Japão, Correia, EUA), o mercado interno vai proporcionar uma melhora no preço da arroba paga pelo frigorífico.Devemos lembrar que esse mercado segue as regras da Concorrência perfeita (Lei da Oferta e Procura) e conseqüentemente só seremos melhor remunerados quando a oferta for menor que a procura. Dessa maneira, o Dr. Roberto tem toda razão.
No entanto, para quem acompanha o esforço do SIC, sabe que já existe uma campanha de marketing pronta do mais alto nível para ser lançada em todo país nos mais diversos meios de comunicação imagináveis e só falta a verba. Vai a pergunta: e os criadores pagariam R$ 1,00 (ou coisa que o valha) por boi abatido ao SIC para ver essa campanha lançada na TV e etc? É muito fácil falar que os fornecedores deveriam agir. Já agimos participando das reuniões do SIC (sendo sócios inclusive) e ABNP.
São duas maneiras de melhorar preços no Brasil:
1. Ganhando com os frigoríficos – Exportando qualidade e vendendo mais no mercado interno para remunerarem melhor nossa arroba.
2. Ganhando sozinhos através de alianças – onde confinadores (Núcleos de engorda) como a Fischer seriam centros de engorda regionais de gado de qualidade, abatendo em frigorífico terceirizado, e vendendo a carne no mercado interno e externo através escritório próprio.
Aos frigoríficos posso dizer que qualquer mercado depende da saúde financeira do vendedor para se manter no ramo e da indústria. Caso essa realidade de esmagamento sumário do produtor com preços ridiculamente baixos perdurarem, obviamente a corrente se quebrará e o sistema entrará em colapso, acontecendo uma debandada geral dos criadores ineficientes (arrendando para soja ou culturas afins)… O resultado será menos gado disponível e aí sim, os frigoríficos terão que oferecer melhores preços aos que ficaram no ramo, amargando o que plantaram.
Alexandre Zadra
Gerente de corte – Taurinos
Lagoa da Serra
Ao amigo Roberto Barcellos,
Parabéns pela precisão cirúrgica do artigo.
Pessoalmente, compartilho da idéia de que o mercado esteja super ofertado. Fruto de crescimento do rebanho e aumento de desfrute, simultâneamente ( 1+ 1 = 3).
Do outro lado, retração de consumo no mercado interno e as exportações não conseguem dar vazão ao crescimento da oferta. E a despadronização do gado de abate somente contribui para balizar as cotações do mercado para baixo.
O momento requer planejamento e ação coordenada de todo o setor produtivo. Afinal de contas esse é um problema nosso, ou seja, de toda a cadeia pecuária.
Conte com o empenho da ACNB para somar esforços a este movimento.
Abraço,
Eduardo Pedroso
Gerente Executivo ACNB
Coordenador do PQNN
Sonho com o dia em que verei frigoríficos de carne bovina tomando atitudes de marketing, como vi um dia destes, em que uma empresa de carne de aves e de suínos, com um programa de televisão para estimular o consumo de seus produtos, orientando sobre como fazer um bom churrasquinho de linguiça suína, de asa de frango, etc.
Tentando aumentar as vendas e aumentar o valor agregado de seus produtos, para ganhar mais dinheiro de forma saudável para toda a cadeia.
E não esfolando seus fornecedores, sonegando impostos como tem sido a forma em que eles tem aumentado suas margens de lucro.
Na verdade matando a galinha dos ovos de ouro.
Nunca, acredito eu, um tema foi tão comentado.
Creio que justamente tenha sido esse o objetivo do autor.
Todos os comentários apresentados têm um fundo de verdade, e um pouco de razão.
Há dez anos atrás no Sindicato de Campo Grande a idéia de recolher R$1,00 por boi abatido para empregar em Marketing, já tinha sido cogitada, mas não se conseguiu implementar.
Hoje, com a atividade em frangalhos, acredito que será ainda mais difícil.
Receber apoio dos fornecedores seria o céu!
Seria ao mesmo tempo Justo. Porém creio que é difícil a implementação.
Fico com a idéia do Sr. Natanael (que faz muito tempo que não vejo ou falo), o melhor mesmo, o mais operacional, e fácil de implementar é reduzir o rebanho.
Falei a Mesma coisa, em Cuiabá, quando de uma apresentação da diretoria do Friboi, sobre formas de comercialização de Bovinos. Se é lei de mercado, e o preço tá baixo por excesso de oferta, se reduzirmos o rebanho de verdade, todo o sistema irá nos procurar para ajudar, na hora em que estiverem precisando de Boi.
Agora, parece que só nós precisamos vender, e ninguém precisa comprar. Assim, não temos chance!
Parabéns por levantarem o tema.
Mario Antonio Zanutto
Fazenda Porteira II/III
Santa Rita do Trivelato – MT
HOJE, AS VERBAS PARA MARKETING DA CARNE SÃO PEQUENAS E AS POUCAS EXISTENTES ESTÃO EM VEICULOS ERRADOS. ACHO QUE TODA CADEIA DE INSUMOS PARA PECUÁRIA E OS FRIGORÍFICOS DEVERIAM PARTICIPAR DESTE ESFORÇO E FAZER CHEGAR, DE UMA FORMA CLARA AOS CONSUMIDORES, QUE CARNE VERMELHA NÃO FAZ MAL E MOSTRAR OS BENEFICIOS COM UM ÂNCORA COMO O MÉDICO DRAUZIO VARELLA, OU ALGUM “GLOBAL”.
Acho que se todos os elos da cadeia da carne bovina forem fortalecidos, conscientemente, poderemos ter um aumento no consumo interno.
Esse fortalecimento gerará confiança entre o comércio e os consumidores; e poderá se necessário enfrentar crises financeiras de um país, onde grande parte da população não está tendo nem o arroz com feijão para consumir.
A união entre os elos da cadeia e uma maior distribuição de renda, não farão mal nenhum para o aumento do consumo.
Está mesmo lançado o desafio, e tivemos várias alternativas pertinentes, entre os debatedores do tema. Não é fácil combatê-los, a não ser por ações efetivas. Existem problemas crônicos, como a distribuição de renda, e como disse o Sr. Bastos, é a tônica do cardápio, pois sabemos que 9 entre 10 consumidores, e em especial a classe menos favorecida, preferem a carne vermelha como incremento de sua dieta. Existe o problema do excesso de oferta como disse o Sr. Cintra. Mais o que mais me chama a atenção, e volto a falar, são as ações a serem tomadas e neste ponto concordo que o caminho mais curto, como é reivindicado pelos colegas do SIC, é fomentar estes trabalhos, fazendo um verdadeiro aporte, quer seja financeiro, quer seja de maior envolvimento, e já que estamos perdendo em termos de receita, reagirmos, e não ficarmos à deriva apenas com boas idéias. E já que foi citado também pelo Sr. Geer, o Rolls Royce, (podia ser Mercedes, me ajuda aí Stéfani !) sem combustível e só com vontade, a máquina não sai do lugar…
O consumidor brasileiro de carne vermelha tem sido ignorado pela mídia positiva desde os anos 80 quando a carne branca de frango passou a ser considerada boa para o “coração”. Desde então a carne bovina vem sendo considerada a causadora de vários males da saúde.
Em contrapartida NUNCA houve uma defesa por parte de qualquer segmento da cadeia produtiva em defesa dos benefícios deste alimento.
Temos sim que louvar o Dr. Atkins que trouxe a proteína vermelha para um patamar mais digno através se sua dieta. O que temos a reclamar quando vemos o baixo consumo e o baixo preço da arroba; NADA basta abaixar a cabeça e ouvirmos os benefícios da carne de frango, peixe, avestruz, cavalo, etc… (nada contra os produtos acima, apenas comparo o marketing efetivo que é o que falta na carne bovina).
Mas não há iniciativa de nenhum dos segmentos porque simplesmente não há união e interesse comum e assim continua a novela, pecuarista contra frigorífico que briga com os atacadistas.
Tem cabimento a arroba cair de R$ 64,00 para R$ 59,00 e o preço da carne no varejo em SP ficar estável?
Srs. Pecuaristas, se existir o dia em que o boi subir, e bem, vocês serão chamados de tudo, especulador, latifundiário, aproveitador e a culpa do baixo consumo será do setor produtivo.
Lembram-se do “boi a laço” do governo Quércia?
Só para informar-lhes; na Argentina que atravessa uma crise razoável, o consumo per capita de carne bovina mantém-se praticamente inalterado com queda de 4 kgs nos últimos três anos. Basta um minuto por dia de marketing nas tvs e este consumo sobe e se fortalece. Este é o caminho.
Elio Micheloni Jr.