A decisão do Japão de suspender as compras de carne bovina dos Estados Unidos após a descoberta de um caso da doença da “vaca louca” no país pode tornar o mercado japonês praticamente dependente das vendas da Austrália e não beneficiará imediatamente as exportações brasileiras, segundo especialistas do mercado de carne.
Não está definido de quanto tempo será o embargo japonês. Mas uma coisa é certa, diz o consultor Ênio Marques Pereira: em um primeiro momento, a descoberta da doença da “vaca louca” nos EUA deverá reduzir o consumo de carne bovina no Japão, que importa US$ 1,2 bilhão do produto dos EUA. “O Brasil vai se dar bem nas vendas de carne de frango”.
Entretanto, ele acredita que a doença nos EUA pode abrir oportunidades para o Brasil no mercado japonês em um prazo de três anos. O Japão não compra carne bovina brasileira porque não aceita os critérios do país para áreas livres de febre aftosa. Apesar de ser signatário do Acordo sobre Medidas Sanitárias da OMC (Organização Mundial do Comércio), que determina os critérios de regiões livres, o Japão só importa carne bovina de países inteiramente livres da aftosa, explicou o consultor.
A saída dos americanos do mercado japonês pode levar os agentes privados a pressionar por uma mudança de posição por parte do governo japonês, acredita Pereira. “Os agentes econômicos começarão a procurar parceiros, alternativas de fornecedores aos EUA”. Um dos motivos, afirmou, é que Austrália e Nova Zelândia não deverão ter capacidade para suprir o Japão.
O analista José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria, avalia que a doença da “vaca louca” nos EUA deixa o Japão “nas mãos da Austrália”. Ele observa que o país é hoje o único grande produtor que pode fornecer ao mercado japonês. O outro era os EUA. Para Ferraz, a Austrália, que também vende para os EUA, deverá privilegiar as exportações para o Japão, país que tem os preços mais altos do mercado internacional de carne bovina. “A Austrália vai redirecionar as vendas para o Japão”. Dessa forma, “sobrarão” mercados para o Brasil, já que a Austrália não terá como atendê-los, acredita.
Além dos EUA e Japão, a Austrália vende para União Européia, Oriente Médio, Coréia do Sul, Taiwan e Canadá. Dessas regiões, o Brasil já exporta carne bovina para UE e Oriente Médio.
O Japão é um dos cerca de 30 países – a Bulgária também aderiu – que proibiram a importação de carne dos EUA.
Fonte: Valor (por Alda do Amaral Rocha e Vinícius Doria), adaptado por Equipe BeefPoint