Austrália: leguminosa em pastagem para gado de corte [BeefPoint TV]

Em maio na Austrália, na cidade de Rockhamton (estado de Queensland) a principal feira pecuária do país, a Beef Australia, que acontece a cada três anos. Neste ano, o BeefPoint organizou uma viagem técnica para conhecer a pecuária de corte australiana. Um dos pontos vistos durante as visitas à algumas fazendas, foi a utilização de leguminosas (principalmente Leucena) consorciadas em pastagens, complementando a dieta dos animais no período seco, de poucas chuvas.

Na Beef Fair, o BeefPoint conversou com John Reeve, Diretor sênior de Biossegurança do governo de Queensland, para nos explicar mais sobre esta consorciação. Procuramos o setor de pesquisa agropecuária do governo na feira após recebermos indicação de que seria a melhor fonte para comentar sobre o assunto.

John começa dizendo que o uso de leguminosas em pastagens para gado de corte vem sendo aplicado pelo menos nos últimos 30 anos, e tem grande importância para toda a cadeia produtiva de carne bovina do estado. Ainda, ele comenta que há dificuldades, pois dentro do estado tem regiões com mais chuvas do que outras, criando a necessidade de uso de espécies e variedades de leguminosas diferentes.

Na Austrália existem espécies nativas de algumas leguminosas, porém, são insuficientes para a produção de gado de corte, devido ao pequeno porte da planta. Estas espécies são adaptadas para o clima e para a demanda dos animias nativos, “que são pequenos também, como o canguru”, explica John. Além das espécies nativas de leguminosas, o especialista comenta que as pastagens nativas, sob o aspecto natural de sua origem, também são super-utilizadas sob o pastejo do gado, por serem adaptadas à fauna nativa (pequenos animais). Consequentemente, a fertilidade do solo fica prejudicada ao passar dos anos, pois as pastagens são consumidas além de sua capacidade de produção.

Desta forma, o desenvolvimento de espécies de leguminosas adaptadas ao consumo bovino tem o objetivo de manter ou melhorar a fertilidade do solo além de fornecer Nitrogênio (precursor da proteína) à dieta do gado. Por isso, a pesquisa busca por leguminosas com alta produtividade de biomassa adaptadas para diversas regiões, com diferentes disponibilidades de chuva e diferentes fertilidades de solo.

John contiua explicando que a decisão pela consorciação e de qual espécie utilizar depende do índice pluviométrico, tipo e fertilidade do solo da região, além do sistema de produção e tamanho do rebanho. Ele enfatiza que a lotação deve ser muito bem controlada para não ocorrer o super-pastejo da leguminosa.

Sobre o uso em geral de leguminosas em pastagens pelos pecuaristas australianos, John diz que os produtores com mais conhecimento, preocupação com o longo-prazo ou “os mais sérios”, segundo ele, trabalham para manter as leguminosas nativas, além de implantação de novas espécies quando necessário. De maneira geral, a consorciação é considerada quando percebe-se a queda de produção das pastagens devido à fraca fertilidade do solo. John enfatiza novamente a necessidade de um excelente controle da taxa de lotação, da escolha criteriosa da espécie a ser plantada e também da densidade de plantio, para não ocorrer o super-pastejo da pastagem ou da leguminosa, ou também a invasão da pastagem pela leguminosa.

Quanto à categoria animal, o uso da leguminosa não tem limitações segundo John, dependendo somente do sistema de produção e necessidade de complementação da dieta. Neste sentido, ele comenta que a consorciação é uma opção para reduzir custos com suplementação nuricional, diminuindo a necessidade de compra destes insumos.

Como desafio, John explica que na Austrália as plantas invasoras nas regiões mais chuvosas são um problema, e que os herbicidas disponíveis também prejudicam as leguminosas. Desta forma, percebemos que ainda não há herbicidas selecionadores para leguminosas no mercado Australiano.

Concluindo, John relaciona todos os fatores da conversa, mostrando as vantagens e desafios de se implantar a consorciação de pastagens e leguminosas. Como vantagem se tem a melhoria da fertilidade do solo e da nutrição dos animais. Porém, as espécies de leguminosas são sensíveis ao clima, chuvas, concentração de pastejo, condições do solo e herbicidas. John lembra que leguminosas sao utilizadas tanto para pecuária de corte como de leite na Austrália e que o sistema de consorciação entre o norte e o sul do país é totalmente diferente, devido às diferenças climáticas (mais quente e seco no norte e mais chuvas e umidade no sul).